"Os homens matam porque não suportam ver uma mulher livre", diz Márcia Tiburi
Filosofa Marcia Tiburi denuncia autoritarismo patriarcal e violência de gênero no Brasil
247 - A filósofa e escritora Marcia Tiburi fez uma análise profunda sobre as interseções entre autoritarismo, patriarcado e violência de gênero em entrevista ao programa Boa Noite 247. Durante a conversa, Tiburi abordou a presença estrutural do machismo nas relações de poder, a resistência das mulheres e a necessidade de uma democracia radical que enfrente as desigualdades de forma integral.
Tiburi iniciou a entrevista destacando a importância do mês de março como um período de reflexão sobre a luta das mulheres e sua relação com outros movimentos sociais. "A luta feminista se associa diretamente à luta das pessoas marginalizadas pelo racismo, pela sexualidade e pela classe social", afirmou. Para a filósofa, os ataques a direitos fundamentais no Brasil estão diretamente ligados à ascensão do autoritarismo. "Os movimentos fascistas são masculinistas, patriarcais e racistas. Mesmo quando há participação de mulheres e pessoas negras, a ideologia que os sustenta continua sendo essencialmente machista."
Um dos pontos centrais da análise de Tiburi foi a relação entre patriarcado e capitalismo. "O patriarcado está acima do capitalismo. As mulheres também fazem parte da luta de classes, mas são medidas pelo seu corpo, por uma sexualidade que é usada como marca de violência", explicou. Ela citou o caso da atriz Ingrid Guimarães, retirada de um voo sob a justificativa de que "mulheres sozinhas são mais fáceis de serem removidas". Segundo Tiburi, o episódio evidencia a permanência da lógica patriarcal mesmo em ambientes que se estruturam pelo dinheiro. "Até no capitalismo mais ostensivo, em que você paga por um serviço, a estrutura patriarcal prevalece."
Ao analisar o golpe de 8 de janeiro de 2023, a filósofa classificou o episódio como uma expressão do autoritarismo machista e racista. "O que vimos foi o auge de um autoritarismo que cresceu no Brasil e se empoderou, acreditando que poderia dar um golpe. Esse golpe era financiado pelos setores autoritários da economia, os mesmos que promovem terrorismo econômico contra medidas democráticas."
Tiburi também criticou a postura de setores da esquerda que desqualificam as pautas feministas e antirracistas, rotulando-as como "identitárias". "Esse discurso do ‘identitário’ é uma construção da esquerda machista. Mulheres, pessoas negras, LGBTQIA+ e pessoas com deficiência têm o direito de defender sua vida e seus direitos. Mas ainda hoje, enfrentamos resistência dentro dos nossos próprios espaços", disse. "Muitos homens da esquerda disputam conosco, nos combatem e fazem coisas antiéticas. Isso apenas reforça o quanto ainda precisamos lutar dentro das próprias estruturas progressistas."
Sobre feminicídio, Tiburi ressaltou que o crime só passou a ser reconhecido na legislação brasileira em 2015 e alertou para o avanço da violência patriarcal. "Os homens matam porque não suportam ver uma mulher livre, insubmissa. Ou simplesmente porque querem matar. O que vemos diariamente é um verdadeiro terrorismo patriarcal em vigência."
A entrevista também abordou o evento Violência de Gênero: O Patriarcado Está Morto, organizado pela Revista Cult e pelo SESC Avenida Paulista. O encontro reuniu intelectuais e ativistas para debater as diversas formas de violência contra mulheres, desde a política até o mercado de trabalho. "A construção de uma democracia radical só será possível se enfrentarmos de forma contundente essas violências", concluiu Tiburi.
Com uma abordagem profunda e analítica, a filósofa reforçou que enfrentar o patriarcado é um passo essencial para consolidar a democracia no Brasil. "Sem refletir sobre isso, continuaremos presos aos grilhões desse sistema de opressão." Assista:
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