HOME > Entrevistas

Pepe Escobar diz que Rússia e China podem redefinir futuro da Venezuela diante da pressão dos EUA

Analista explica impacto da multipolaridade sobre a crise venezuelana, critica militarização da OTAN e afirma que Itália vive como “território ocupado”

Pepe Escobar diz que Rússia e China podem redefinir futuro da Venezuela diante da pressão dos EUA (Foto: Brasil247)

247 – O jornalista e analista internacional Pepe Escobar afirmou que o futuro da Venezuela dependerá cada vez mais da atuação estratégica de Rússia e China no cenário multipolar em construção, diante da pressão militar e política exercida pelos Estados Unidos na região. As declarações foram feitas em entrevista ao programa Judging Freedom, apresentado pelo juiz norte-americano Andrew Napolitano.

Embora o diálogo também trate de OTAN, Europa e da guerra na Ucrânia, Escobar deixa claro que a disputa pela Venezuela está diretamente ligada ao reposicionamento global de potências emergentes e ao colapso da estratégia ocidental no sistema internacional.

Multipolaridade e Venezuela: tensão cresce diante dos EUA

No início da entrevista, Napolitano afirma que queria falar especialmente sobre Venezuela e sobre a crise envolvendo a presença militar norte-americana no Caribe. Escobar explica que, embora o tema não esteja sendo discutido pelas elites europeias, a questão faz parte da disputa global em torno da multipolaridade.

Segundo ele, os Estados Unidos continuam operando ações militares agressivas na região, incluindo episódios recentes de mortes em lanchas no Caribe. Ele observa que Rússia e China veem a Venezuela como peça central na reorganização geopolítica e energética, ainda que isso não seja explicitado pelas capitais europeias.

Escobar descreve que setores populares na Europa percebem o crescimento da violência e da ilegalidade, enquanto governos e elites ignoram o tema: “Se vem das elites europeias, de Bruxelas ou dos governos em toda a Europa, incluindo o governo italiano, eles não ligam.”

Militarização do continente e risco de confronto direto com a Rússia

O analista relata sua passagem pelo norte da Itália, destacando que esteve cercado por bases da OTAN — muitas delas subterrâneas.

Segundo ele, a Itália como um todo se tornou “território ocupado pela OTAN”, com ao menos cinco grandes bases americanas operando desde o Friuli até a Sicília. Escobar acrescenta que comandantes norte-americanos chamam a Sicília de “território ocupado pelo governo americano”, expressão que, segundo ele, é utilizada há décadas.

O ponto mais grave, afirma, ocorreu quando o presidente do Comitê Militar da OTAN declarou publicamente que a aliança considera um ataque preventivo contra a Rússia: “Ele disse publicamente que a OTAN está considerando a possibilidade de um ataque preventivo contra a Rússia. Não fica mais demente que isso.”

A fala provocou reação de Moscou e abriu espaço para que Escobar relacionasse o clima de provocação com a instabilidade gerada pelos EUA tanto na Europa quanto na América Latina — incluindo a Venezuela.

Putin: “Se a Europa iniciar uma guerra conosco, vai acabar muito rápido”

Para contextualizar a escalada militar, Napolitano exibiu declarações recentes do presidente russo Vladimir Putin:

“Não planejamos ir à guerra com a Europa. Mas se a Europa quiser de repente ir à guerra contra nós e começar, estamos prontos agora.”

Putin ainda afirmou: “Se a Europa começar uma guerra conosco, acho que vai acabar muito rápido. Isso não é a Ucrânia.”

Escobar explicou que Putin se refere ao arsenal de mísseis hipersônicos russos, suficientes para atingir bases da OTAN “em minutos”, sem recorrer a armas nucleares.

Venezuela, Rússia e China: um eixo estratégico em formação

Ao longo da entrevista, ainda que o foco de Napolitano migre para Europa e Ucrânia, Escobar deixa claro que a multipolaridade discutida em seu novo livro tem impacto direto na Venezuela.
Para ele, os EUA ampliam ações militares no Caribe justamente porque:

– Não controlam mais o ambiente internacional
– Enfrentam Rússia e China como potências concorrentes
– Veem a Venezuela como ponto-chave energético e geopolítico
– Tentam impedir a consolidação de alianças latino-americanas independentes

Escobar afirma que as elites europeias não compreendem o movimento, mas que Rússia e China enxergam a Venezuela como parte de um tabuleiro maior, no qual a América Latina deixa de ser “quintal” dos EUA e passa a integrar a nova arquitetura global.

Encontro de Putin com Kushner e Witkoff e a disputa por capitais internacionais

A entrevista avança para a reunião de cinco horas entre Putin, Jared Kushner e Steve Witkoff. Escobar detalha que, segundo o diplomata russo Yuri Ushakov, “não haverá vazamentos” sobre o conteúdo da conversa.

O analista traz uma interpretação debatida por especialistas na Itália: “É uma questão de salvar capital internacional nas mãos do eixo sionista tentando encontrar um lugar seguro para investir. China, impossível. Europa, morta. Então por que não tentar a Rússia?”

A disputa global por capitais — e a instabilidade provocada pela política externa dos EUA — também afeta diretamente países como a Venezuela, cuja economia está no centro da competição energética e financeira.

Ucrânia, OTAN e a crise do Ocidente

Escobar afirma que Kiev não admite derrota territorial porque, em suas palavras: “Estamos lidando com uma organização criminosa. Organizações criminosas, por definição, não se resignam a nada.”

Sobre a Europa, ele diz que o continente vive perda acelerada de soberania, guiado pelo “combo União Europeia–OTAN” e por lideranças incapazes de admitir que não existe plano B para a guerra.

Entre as alternativas estudadas pela UE, segundo Escobar:

  1.  Confiscar fundos russos bloqueados
  2.  Cobrar a conta diretamente dos contribuintes europeus

Ambos os cenários, afirma, podem gerar convulsões sociais.

Orbán e a resistência ao eixo OTAN–UE

Pepe Escobar também destacou o papel do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, que resiste às imposições do bloco: “Ele é a ilustração gráfica de um líder que ainda quer manter sua soberania, rebelando-se contra o combo UE-OTAN.”

Ele cita ainda a Eslováquia e possíveis dissidências futuras no Leste Europeu.

Escobar finaliza com uma nota irônica: “Saudações para todos vocês da Itália ocupada.”

Artigos Relacionados