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Pepe Escobar: Rússia venceu na Ucrânia e China derrotou Trump na guerra comercial

Análise de Pepe Escobar detalha bastidores da diplomacia eurasiática e alerta para nova ofensiva ocidental no Sul Global

Pepe Escobar: Rússia venceu na Ucrânia e China derrotou Trump na guerra comercial (Foto: Brasil247)

247 - Em sua análise no Pepe Café , o jornalista e analista político Pepe Escobar relata sua chegada a Moscou e descreve o ambiente acelerado de debates estratégicos que dominam a capital russa neste fim de outono.Ainda nos primeiros dias em Moscou, Escobar afirma ter sido envolvido por um “redemoinho” de informações e reuniões, marcados pelo retorno de uma cúpula extraordinária da Organização de Cooperação de Xangai (OCX). Ele destaca que representantes de alto nível da China, Índia, Irã e Mongólia discutem temas como o Power of Siberia 2, mega gasoduto que conectará Rússia e China via território mongol, simbolizando a transição definitiva do abastecimento energético russo para o mercado asiático.

Escobar atribui essa mudança à postura europeia, que ele descreve como resultado de uma “demência guerreira” e de uma campanha anti russa que, segundo suas palavras, alcançou níveis “exponenciais” na mídia da Alemanha, França, Reino Unido e países nórdicos. Para ele, o contraste com Moscou é evidente: “Aqui se discute tudo em termos racionais”, afirma.

Ao analisar a relação entre Moscou e Washington, Escobar observa que os russos mantêm cautela diante das incertezas políticas dos Estados Unidos sob a liderança do atual presidente Donald Trump. Ele cita uma postura prudente do chanceler Sergei Lavrov, resumida na frase: “Enquanto não tiver as condições estabelecidas, não tem menor sentido a gente fazer um novo encontro”, sinalizando que qualquer aproximação dependerá de mudanças concretas na agenda norte-americana.

Escobar identifica dois pontos centrais que moldam a atual tensão internacional: o avanço da Rússia no conflito ucraniano e a “derrota praticamente inevitável” dos Estados Unidos na disputa comercial e tecnológica contra a China. Segundo sua avaliação, essa combinação levaria Washington a deslocar sua atenção para o Sul Global, em especial para a América Latina, numa espécie de “Doutrina Monroe 2.0”.

O analista alerta para possíveis tentativas de desestabilização política na região, desde movimentos indiretos até intervenções mais profundas. No caso da Venezuela, afirma que qualquer ação externa poderia ter “consequências inimagináveis”, inclusive o risco de transformar o país em um novo Vietnã.

Ele também comenta o realinhamento no Oeste Asiático, onde regimes árabes sunitas, segundo ele, aderiram aos Acordos de Abraão sob pressão norte-americana, afastando-se da causa palestina. Em contraste, destaca o fortalecimento da coordenação entre Brics e OCX, reforçada por lideranças presentes em Moscou durante a semana da cúpula.

Outro ponto abordado por Escobar é sua conversa com o economista russo Sergei Glazyev, responsável pelas negociações do Estado União entre Rússia e Belarus. Glazyev, relata o analista, considera que o governo Trump poderá transferir a dívida pública dos EUA para um futuro dólar digital, como forma de administrar o impacto dos trilhões acumulados.

Por fim, Escobar menciona a necessidade de aprofundar o intercâmbio acadêmico entre Rússia e China, afirmando que faltam especialistas dos dois lados capazes de compreender com profundidade as dinâmicas históricas e culturais envolvidas nesta parceria estratégica.

A partir de Moscou, ele conclui que a cidade se mantém como “uma das capitais mundiais do diálogo”, onde temas espinhosos — inclusive para os próprios russos — são debatidos sem filtros, refletindo a centralidade crescente da Eurásia na reorganização da ordem internacional. Assista:

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