8 em cada 10 brasileiros percebem tratamento desigual entre brancos e negros, aponta pesquisa
Levantamento do Instituto Cidades Sustentáveis e Ipsos-Ipec detecta percepção majoritária de racismo em espaços comerciais e no trabalho
247 - Oito em cada dez brasileiros afirmam perceber diferenças de tratamento entre pessoas brancas e negras. O dado integra pesquisa do Instituto Cidades Sustentáveis em parceria com a Ipsos-Ipec, divulgada pela Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (20), Dia da Consciência Negra.
O estudo reúne respostas de 3.500 entrevistados em dez capitais e lança luz sobre a persistência do racismo estrutural em ambientes públicos e privados.
O levantamento foi realizado entre 1º e 20 de julho. A amostra reúne moradores de Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Goiânia. Entre os participantes, 54% se declaram pretos ou pardos, e 43% brancos. A margem de erro é de dois pontos percentuais, chegando a seis quando consideradas apenas respostas de cada capital.
Os dados mostram que a percepção de racismo é mais frequentemente associada ao cotidiano de shoppings, lojas, bares e restaurantes. Em seguida vêm o ambiente de trabalho, desde processos seletivos até promoções internas. Ruas, parques e praças aparecem na terceira posição, seguidos por escolas e universidades.
Embora o padrão se repita nacionalmente, há diferenças regionais. Em Salvador e Belém, 65% e 62% dos entrevistados, respectivamente, afirmaram perceber tratamento desigual nesses locais. Em Goiânia e Manaus, esses índices são menores: 51% e 50%.
A pesquisa revela também forte consenso sobre a necessidade de enfrentar o racismo com políticas públicas. Ao todo, 75% concordam totalmente ou em parte que o problema deve ser tratado como prioridade pelos governos locais. O mesmo percentual afirma que a violência policial afeta principalmente pessoas negras — percepção rejeitada por 18% dos entrevistados, enquanto 8% disseram não saber.
Outra constatação relevante é o apoio majoritário à ampliação da representatividade negra em espaços de poder. Para 72% dos participantes, a presença de pessoas negras na política e em cargos de decisão reduz desigualdades estruturais.
Apesar disso, há divergências entre brancos e negros sobre políticas afirmativas. O estudo aponta que 13% dos pretos e pardos apoiam a criação de cotas raciais em áreas de poder, como Judiciário e política institucional, contra 8% dos brancos. Já a defesa do fim das cotas em universidades é maior entre os brancos (18%) do que entre os negros (12%).
A pesquisa também evidencia desigualdades no acesso a serviços essenciais. Metade dos entrevistados afirma que a população negra enfrenta mais dificuldades para obter água potável, coleta e tratamento de esgoto. Já 48% consideram que negros são mais afetados por deslizamentos, desabamentos, enchentes e alagamentos.



