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Global Times: não há motivo para ansiedade da Reuters diante do avanço tecnológico da China

Editorial critica visão ocidental e afirma que progresso chinês em semicondutores não ameaça cooperação global

China desenvolve semicondutores (Foto: Reuters)

247 – Não há razão para que a Reuters ou outros veículos ocidentais demonstrem ansiedade diante do avanço tecnológico da China, especialmente no campo estratégico dos semicondutores. A avaliação é de um editorial publicado pelo Global Times, que reage a uma reportagem recente da agência britânica sobre um suposto “Projeto Manhattan” chinês voltado ao desenvolvimento de máquinas avançadas de litografia.

Segundo o Global Times, a reportagem da Reuters — baseada em relatos atribuídos a fontes não identificadas — afirma que cientistas chineses teriam desenvolvido um protótipo de máquina de litografia de ultravioleta extremo (EUV), tecnologia que Washington tenta impedir há anos que a China domine. Independentemente de a informação ser precisa ou não, o editorial destaca que o tom ansioso do texto revela um “estado de espírito pouco saudável” recorrente no Ocidente diante do progresso científico e tecnológico chinês.

As máquinas de litografia são equipamentos centrais da indústria de semicondutores e vistas por alguns países como o “último bastião” da liderança tecnológica ocidental. Atualmente, apenas a empresa holandesa ASML fabrica máquinas EUV em escala comercial. A China, historicamente dependente da importação de equipamentos de ponta, tem buscado alternativas domésticas para reduzir vulnerabilidades estratégicas.

O editorial lembra que não há necessidade de especulação por parte da mídia estrangeira, pois avanços concretos já foram oficialmente anunciados. Em setembro de 2024, o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação da China publicou, no Catálogo orientador para promover o uso do primeiro conjunto de equipamentos técnicos importantes (versão 2024), as especificações técnicas de máquinas de litografia de ultravioleta profundo (DUV) produzidas no país, com resolução de 65 nanômetros e precisão de sobreposição de 8 nanômetros. De acordo com o texto, o roteiro tecnológico está claro e aponta para um desenvolvimento cada vez mais independente e controlável.

O Global Times também ressalta que a indústria de semicondutores depende estruturalmente da cooperação internacional, especialmente em sistemas altamente complexos como as máquinas de litografia. Em chips avançados, o número de transistores por milímetro quadrado ultrapassa 100 milhões, exigindo uma cadeia global altamente especializada que envolve design, fabricação, encapsulamento e testes. Mesmo que a China alcance avanços decisivos nesse campo, isso não altera a natureza colaborativa do setor.

O editorial afirma que Pequim tem plena consciência dessa realidade e, por isso, insiste em uma postura de abertura e cooperação internacional, convidando empresas de diferentes países a atuarem conjuntamente ao longo da cadeia produtiva. Os benefícios obtidos por empresas ocidentais que mantêm negócios ativos no mercado chinês são citados como prova concreta dessa abordagem.

Ao tratar da política de sanções e bloqueios tecnológicos, o texto observa que a busca chinesa por inovação independente visa à autossuficiência e ao fortalecimento nacional, sem romper com a cooperação global. O editorial recorda declarações públicas de Bill Gates, que reconheceu que as restrições impostas pelos Estados Unidos forçaram a China a “acelerar ao máximo” o desenvolvimento de chips e outras tecnologias estratégicas. Também menciona posicionamentos do CEO da NVIDIA, Jensen Huang, que afirmou repetidas vezes que os controles de exportação não conseguiram desacelerar o avanço da inteligência artificial na China e, ao contrário, resultaram em uma queda acentuada da participação da empresa no mercado chinês de chips de IA.

De acordo com o Global Times, a China transformou listas de “pontos de estrangulamento” tecnológicos em listas de tarefas para pesquisa científica e inovação. A imprensa francesa, segundo o editorial, chegou a comentar que “toda a China está avançando com o espírito de ‘se você me bloquear, eu faço sozinho’”. Para o jornal, os fatos demonstram que a base tecnológica, o estoque de talentos e a estrutura industrial chineses são suficientes para resistir a qualquer bloqueio externo.

O texto enfatiza ainda que a tecnologia é um patrimônio comum da humanidade e deve servir ao bem-estar global. Estratégias de bloqueio, afirma o editorial, não isolam a China, mas sim a cooperação com o país, causando prejuízos ao conjunto da indústria tecnológica mundial — inclusive ao próprio Ocidente. O Fórum Econômico Mundial é citado ao destacar que a colaboração entre Estados Unidos e China é um dos pilares do progresso científico global e que mais de 30% das pesquisas internacionais de alto impacto dos EUA envolvem cientistas chineses.

Quando Washington reprime produtos de empresas como a Huawei sob o argumento de “segurança nacional”, sustenta o Global Times, acaba minando justamente a base cooperativa que impulsiona o progresso humano, empurrando o mundo para um cenário de fragmentação tecnológica, divisão de mercados e inovação mais lenta. As disputas internas e mudanças frequentes de política nos EUA, como os desacordos sobre regras de exportação de chips H200 da NVIDIA para a China, seriam evidências da insustentabilidade dessas estratégias.

O editorial conclui afirmando que o objetivo da China nunca foi construir uma “ilha tecnológica” autossuficiente e isolada. A meta, segundo o jornal, é alcançar autonomia em tecnologias-chave para, a partir daí, integrar-se de forma mais profunda e igualitária à rede global de inovação. Para isso, defende o texto, é necessário derrubar as “paredes mentais” do medo e da hegemonia e abraçar a cooperação aberta. Aqueles que tentam bloquear a luz do sol com uma “cortina de ferro”, afirma o Global Times, acabarão deixando a si próprios na sombra, enquanto a porta para uma cooperação de ganhos mútuos segue aberta para quem valoriza respeito, igualdade e confiança mútua.

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