"Tarifaço de Trump pode acelerar desdolarização", diz analista financeiro

247 – A nova ofensiva tarifária imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode acelerar o movimento global pela desdolarização da economia. A avaliação é do experiente analista financeiro Paul Goncharoff, em entrevista publicada nesta sexta-feira (4/4) pelo portal Sputnik International.

De acordo com Goncharoff, a apresentação de gráficos tarifários feita por Trump não conseguiu acalmar os mercados globais. “A apresentação de seus gráficos tarifários não conseguiu ‘aliviar adequadamente os temores dos mercados globais’, uma vez que permanece incerto quais tarifas alguns países acabarão enfrentando”, afirmou o analista.

 “Na raiz do movimento por desdolarização está a resposta compreensivelmente natural às táticas de intimidação, que o novo regime de tarifas representa para muitos ao redor do mundo”, destacou Goncharoff.

O dólar como instrumento de pressão

Para o analista, o uso do dólar como arma econômica tem minado a credibilidade dos Estados Unidos no cenário internacional. Washington vem aplicando sanções e exigindo o uso do dólar em transações internacionais, mesmo quando países preferem negociar com suas próprias moedas.

 “As tentativas dos EUA de sancionar países que preferem comerciar usando outras moedas em vez do dólar também não os torna mais simpáticos aos olhos dessas nações”, afirmou Goncharoff.

Ele acrescentou que o novo pacote de tarifas imposto por Trump pode ter provocado um rompimento irreversível com a confiança na moeda americana:

 “Pessoalmente, acredito que esta mais recente ‘Ópus Magna’ da administração de Washington pode ter quebrado irremediavelmente o proverbial espinhaço do camelo quanto ao futuro do dólar dos EUA, tão instrumentalizado como tem sido — e parece que continuará sendo.”

Pressões econômicas também são força

Em outro trecho da reportagem, a ministra das Relações Exteriores da Finlândia, Elina Valtonen, comentou a postura dos EUA em relação à Groenlândia. A declaração foi feita após Trump defender que os EUA estariam prontos para acolher a ilha em seu território, “de um jeito ou de outro”.

 “É claro que não podemos permitir qualquer uso da força ou mesmo a ameaça de seu uso. Sinceramente, não acredito que os EUA chegarão a tanto”, disse Valtonen à emissora Yle.

A chanceler também afirmou que a pressão econômica, como a exercida por meio de tarifas, “é igualmente uma forma de força”.

Nova ordem econômica em gestação

O movimento de desdolarização já vem sendo implementado por países como China, Rússia, Irã, Índia e Brasil, que têm firmado acordos bilaterais para uso de moedas locais em transações comerciais. A imposição de tarifas agressivas por parte dos EUA tende a reforçar essa tendência, segundo analistas.

Se a política tarifária do presidente Trump continuar sendo percebida como ferramenta de coerção, ela poderá acelerar a fragmentação do sistema monetário global dominado pelo dólar — uma mudança que pode redesenhar profundamente as relações econômicas internacionais nos próximos anos.