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Sapo minúsculo de tom alaranjado é nomeado em homenagem a Lula

Estão entre as características do sapo a potência de sua voz e sua resiliência

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou a ter seu nome associado a uma nova espécie da fauna brasileira. Cientistas anunciaram a identificação de um sapo extremamente pequeno, de coloração alaranjada semelhante à de uma abóbora, considerado um dos menores vertebrados do planeta. O anfíbio recebeu o nome científico Brachycephalus lulai e chama atenção tanto pelo tamanho diminuto quanto pela força de sua vocalização na floresta, informa o jornal O Globo.

A descoberta foi apresentada em estudo publicado na quarta-feira (10) na revista científica PLOS One. Segundo os pesquisadores, o achado reforça o papel da Mata Atlântica como um dos biomas mais biodiversos do mundo, apesar de ser também um dos mais ameaçados.

O chamado “sapinho do Lula” mede pouco mais que um grão de arroz. Os machos têm cerca de 8 milímetros, enquanto as fêmeas alcançam até 13,4 milímetros, diferença explicada pela necessidade de carregar os ovos. Mesmo com dimensões tão reduzidas, o animal emite sons intensos, comparados pelos cientistas ao canto de cigarras em miniatura, o que foi fundamental para sua identificação em campo.

A espécie vive exclusivamente na Serra do Quiriri, no município de Garuva, no nordeste de Santa Catarina, uma região de encostas florestais que integra um dos últimos grandes remanescentes da Mata Atlântica no Sul do país. O anfíbio habita a serrapilheira, camada de folhas que cobre o solo da floresta, e depende diretamente da umidade mantida pela copa das árvores para sobreviver. A água necessária ao seu metabolismo é absorvida da umidade das plantas.

O B. lulai pertence ao grupo dos chamados pingos-de-ouro, sapos conhecidos pelas cores vivas e pelo tamanho extremamente reduzido. Muitas espécies desse grupo são venenosas, utilizando toxinas como mecanismo de defesa, mas ainda não se sabe se o sapo batizado em homenagem ao presidente possui esse tipo de proteção química.

A escolha do nome foi uma decisão deliberada dos autores do estudo. Segundo o biólogo Luiz Fernando Ribeiro, pesquisador do Mater Natura (Instituto de Estudos Ambientais) e um dos responsáveis pela pesquisa, a homenagem está ligada à política ambiental dos governos Lula. “Resolvemos homenagear o presidente, porque durante os seus governos foram criadas mais unidades de conservação no Brasil do que em qualquer outro momento. E proteção é tudo o que a Serra do Quiriri precisa”, afirma.

O estudo contou com apoio da Fundação Grupo Boticário e reuniu pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e de instituições do Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos. A nova espécie foi descrita a partir de análises detalhadas de morfologia, bioacústica e genética.

Entre as características mais incomuns do B. lulai está o seu ciclo reprodutivo. Diferentemente da maioria dos sapos, os ovos são depositados no solo da floresta, e os filhotes não passam pela fase de girino. Eles já nascem completamente formados, como microssapos quase invisíveis a olho nu. Os adultos são tão pequenos que cabem facilmente na ponta de um lápis.

Outra particularidade é o comportamento diurno. Enquanto a maior parte dos anfíbios é ativa à noite, essa espécie vocaliza e se movimenta durante o dia, tornando-se ainda mais singular dentro do grupo.

No artigo científico, os autores defendem a criação de uma nova unidade de conservação na região, no formato de um Refúgio de Vida Silvestre (RVS), categoria que permite a proteção integral da área sem exigir desapropriação de propriedades privadas. A proposta busca garantir a preservação do habitat altamente restrito da espécie.

Para Ribeiro, a descoberta revela o quanto ainda se desconhece sobre a biodiversidade brasileira. “O sapinho B. lulai é evidência de que ainda há imensa biodiversidade escondida na Mata Atlântica que a humanidade desconhece”, destaca.

Os pesquisadores alertam que sapos dessa família são extremamente sensíveis ao desmatamento, ao aumento da temperatura associado às mudanças climáticas e a doenças fúngicas que vêm dizimando anfíbios em diversas partes do mundo. Mesmo assim, esses animais desempenham papel fundamental no equilíbrio ecológico, ajudando no controle de insetos e servindo de alimento para aves, répteis e mamíferos.

A Mata Atlântica concentra um dos maiores índices de espécies endêmicas do planeta: cerca de 90% dos anfíbios que nela vivem não existem em nenhum outro lugar do mundo. O nome lulai segue as normas internacionais da nomenclatura zoológica, que exigem a latinização de nomes próprios, garantindo um registro científico permanente que associa oficialmente a espécie ao presidente brasileiro.

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