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Denúncias de fraudes e repressão marcam eleições na Tanzânia

Denúncias de fraude e censura marcam o pleito e resultam em confronto entre manifestantes e forças de segurança

Veículo da polícia tanzaniana trafega por uma estrada bloqueada por manifestantes durante os violentos protestos que marcaram as eleições (Foto: REUTERS/Onsase Ochando)

247 - A Tanzânia enfrenta uma grave crise política após as eleições realizadas na quarta-feira (29), marcadas por denúncias de fraude, repressão e censura. Milhares de manifestantes tomaram as ruas de Dar es Salaam, Arusha e Mbeya exigindo que a Comissão Eleitoral interrompesse a divulgação dos resultados. O aumento da tensão levou à mobilização do Exército e à imposição de toque de recolher em diversas regiões do país.

De acordo com informações do portal PIA Global, o governo ordenou que servidores públicos trabalhassem de casa e recomendou que a população permanecesse em suas residências. A medida busca conter os protestos que já resultaram em várias mortes e feridos. O partido Chama Cha Mapinduzi (CCM), no poder desde a independência em 1961, tenta manter o controle político em meio a crescentes acusações de autoritarismo.

Bloqueio da internet e repressão policial

Durante o processo eleitoral, a rede de monitoramento digital NetBlocks confirmou um apagão nacional da internet iniciado no dia da votação. O serviço foi restabelecido apenas de forma intermitente, o que reforçou as suspeitas de tentativa do governo de silenciar denúncias e limitar a circulação de informações.

Testemunhas relataram à imprensa cenas de violência e caos, com ruas bloqueadas, tiros, gás lacrimogêneo e corpos estendidos no chão. “O risco de uma nova escalada é alto. A polícia deve agir com moderação e se abster do uso desnecessário da força”, afirmou Tigere Chagutah, diretor da Anistia Internacional para a África Oriental e Meridional, que pediu uma investigação independente sobre o uso “ilegítimo e letal” da força contra manifestantes.

Oposição impedida e prisões políticas

As eleições foram duramente criticadas pela oposição, que classificou o processo como “não democrático”. Principais líderes opositores, como Tundu Lissu, do partido Chadema, seguem presos, enquanto outros, como Luhaga Mpina, do ACT-Wazalendo, tiveram suas candidaturas rejeitadas.

A presidente Samia Suluhu Hassan, que assumiu o poder em 2021 após a morte de John Magufuli, concorreu praticamente sem adversários relevantes. O vice-presidente do Chadema, John Heche, também foi detido na semana passada e, segundo o partido, sua saúde se agravou na prisão.

Ainda conforme a reportagem, grupos de direitos humanos denunciam desaparecimentos forçados e perseguições a ativistas críticos ao governo. O episódio representa um retrocesso nas promessas de abertura política que marcaram o início da gestão de Suluhu.

Alerta internacional e clima de instabilidade

A repressão nas ruas e o bloqueio das comunicações levaram os governos dos Estados Unidos e do Reino Unido a emitirem alertas para seus cidadãos. As embaixadas relataram bloqueios em rodovias e cancelamentos de voos, inclusive no Aeroporto Internacional Julius Nyerere, principal porta de entrada do país. Enquanto isso, a presidente Samia Suluhu apelou à calma nas redes sociais. “Apelo ao voto pacífico e responsável”, publicou na plataforma X (antigo Twitter), em meio à escalada de protestos.

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