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Em três anos, Brasil consolida nova fase da política externa e amplia influência global

Em um cenário internacional instável, o Brasil recuperou espaço nas grandes mesas de negociação e voltou a atuar como articulador político

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante declaração à imprensa, na Sala de Coletiva. Rio de Janeiro - RJ - 07/07/2025 (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

247 - Ao completar três anos do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a política externa brasileira passa por uma reconfiguração profunda, marcada pela reconstrução de pontes diplomáticas, pela volta do diálogo multilateral e pela aposta estratégica na cooperação Sul-Sul. Em um cenário internacional instável, o Brasil recuperou espaço nas grandes mesas de negociação e voltou a atuar como articulador político e econômico entre países em desenvolvimento.

O país reposicionou sua diplomacia e se tornou peça-chave em debates globais sobre governança internacional, combate à fome e pobreza, defesa da democracia, fortalecimento do multilateralismo, transição energética e ação climática. Essa guinada também se reflete na agenda presidencial, que intensificou sua presença em fóruns multilaterais e consolidou novos eixos de cooperação.

Em discursos recentes, Lula tem defendido a necessidade de transformar o sistema internacional. Um dos momentos de maior repercussão ocorreu durante a Cúpula de Chefes de Estado do BRICS, no Rio de Janeiro. “O BRICS é um novo jeito de a gente fazer o multilateralismo sobreviver no mundo. A gente não quer mais um mundo tutelado. A gente quer fortalecer o processo democrático, o processo multilateral. A gente quer a paz, o desenvolvimento e a participação social”, afirmou. Para o presidente, o bloco desempenha papel essencial na construção de novos paradigmas de participação e na ampliação da voz dos países em desenvolvimento.

A presidência pro tempore brasileira do BRICS, assumida em janeiro de 2025, reforçou essa estratégia. O país priorizou ações conjuntas em desenvolvimento sustentável, inovação, financiamento do Sul Global e combate às desigualdades, além de fortalecer o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) como instrumento-chave de financiamento de projetos estruturantes. Houve, ainda, uma ampliação da coordenação entre ministérios, sociedade civil e setor produtivo.

A projeção internacional também foi impulsionada pelo papel brasileiro no G20, comandado pelo país em 2024. Ao priorizar o combate à fome e à pobreza, o governo recolocou temas sociais no centro da governança econômica global. Destaque para a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que hoje reúne mais de 200 membros e já apoia países no desenho de políticas públicas estruturantes. O ministro Wellington Dias ressalta a importância de fortalecer mecanismos de financiamento. “Precisamos de mecanismos mais sistemáticos para integrar melhor o apoio entre os muitos membros da Aliança, sobretudo o financeiro”, disse.

Outro pilar da política externa é a integração regional. Na presidência do MERCOSUL, o Brasil buscou renovar o FOCEM, fortalecer o mercado regional e lançar iniciativas inéditas como o Fórum Empresarial Agrícola, além da agenda MERCOSUL Verde, voltada à transição energética e a práticas agropecuárias sustentáveis. O bloco também aprovou a Estratégia de Combate ao Crime Organizado Transnacional, criando uma comissão permanente para coordenar ações de segurança.

A defesa da democracia e do multilateralismo esteve presente em todas as frentes. Em encontros como a Cúpula CELAC–União Europeia, Lula reforçou que estabilidade institucional é condição essencial para o desenvolvimento. “Somos uma região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional”, declarou. A mesma linha foi seguida em sua participação na cúpula da ASEAN, na Malásia, onde o presidente destacou a relevância de uma ordem multipolar baseada na cooperação. “Consideramos a cooperação um caminho mais promissor para a prosperidade do que a competição”, disse.

A agenda climática ganhou centralidade com a realização da COP30 em Belém, que consolidou o Brasil como protagonista na discussão global sobre clima. O encontro terminou com a aprovação do Pacote de Belém, composto por 29 decisões voltadas à transição justa, financiamento climático e mitigação. Para Lula, o evento teve forte impacto político e simbólico. “Foi um sucesso extraordinário. O multilateralismo saiu vitorioso e Belém ficou maravilhosamente bonita para o povo do Pará”, afirmou.

Além do aspecto político, a COP30 reforçou o papel da Amazônia como centro das estratégias ambientais e de desenvolvimento sustentável. O governo inaugurou o Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, financiado pelo Fundo Amazônia, para integrar países sul-americanos no combate ao crime organizado transnacional e à destruição ambiental. A iniciativa marca uma nova fase da atuação regional em segurança e proteção dos biomas.

A ministra Marina Silva também destacou a necessidade de transformar as negociações em ações concretas. “Continuamos capazes de cooperar, de aprender e de reconhecer que não há atalhos e que a coragem para enfrentar a crise climática é resultado de persistência e esforço coletivos”, afirmou, destacando o espírito inclusivo do Mutirão Global, que orienta a agenda brasileira para os próximos anos.

Ao final de 2025, o Brasil emerge com uma diplomacia mais ativa, articulada e alinhada a agendas globais contemporâneas. A estratégia de Lula combina influência política, protagonismo ambiental, cooperação entre países em desenvolvimento e defesa do multilateralismo, formando um conjunto que reposiciona o país como ator indispensável nas grandes discussões internacionais.

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