Nathalia Urban por Milenna Saraiva

Esta seção é dedicada à memória da jornalista Nathalia Urban, internacionalista e pioneira do Sul Global

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"Sem paz não há desenvolvimento", diz Celso Amorim

Em evento do BRICS no Itamaraty, assessor especial do presidente Lula defende protagonismo do Sul Global na resolução de crises internacionais

"Sem paz não há desenvolvimento", diz Celso Amorim (Foto: ABR)

247 – O assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assuntos internacionais, Celso Amorim, afirmou que a paz é condição indispensável para o desenvolvimento econômico e social, ao destacar a experiência do Brasil na mediação de conflitos internacionais. A declaração foi feita durante um workshop sobre mediação de conflitos promovido pela presidência brasileira do BRICS, realizado nos dias 16 e 17 de dezembro, no Palácio do Itamaraty, em Brasília.

A informação foi divulgada originalmente pelo portal RT Brasil, que acompanhou o encontro e repercutiu as principais falas do diplomata. Segundo Amorim, o evento teve como objetivo valorizar o acúmulo de conhecimento e as lições aprendidas por países do Sul Global na resolução de crises, demonstrando que essas nações possuem capacidade técnica e política para atuar como mediadoras sem depender exclusivamente das tradicionais capitais do eixo ocidental.

Durante sua intervenção, Amorim inverteu a conhecida máxima do Papa Paulo VI para reforçar sua mensagem central. “A paz é indispensável ao desenvolvimento”, afirmou. Em seguida, explicou o sentido da reflexão: “Promover a paz é o objetivo mais nobre da diplomacia. Em 1967, o Papa Paulo VI disse famosamente que o desenvolvimento é o novo nome da paz. O inverso também é verdadeiro. A paz é indispensável ao desenvolvimento”.

O embaixador destacou que conflitos armados e instabilidade política inviabilizam qualquer projeto consistente de crescimento econômico, inclusão social e redução das desigualdades, especialmente nos países em desenvolvimento. Para ele, fortalecer mecanismos de diálogo e mediação é uma tarefa estratégica para o futuro do sistema internacional.

Ao tratar do papel brasileiro nesse campo, Amorim relembrou a atuação do país em 2010, durante o governo do presidente Lula, nas negociações envolvendo o programa nuclear do Irã. Ele citou a Declaração de Teerã, assinada conjuntamente por Brasil, Irã e Turquia, como um marco da diplomacia brasileira na busca pela redução de tensões globais e na afirmação de uma política externa ativa e altiva.

O workshop do BRICS contou ainda com a participação de países convidados, como Turquia e Catar, reconhecidos internacionalmente por suas experiências em processos de mediação. Amorim também ressaltou o papel histórico da África do Sul na transição democrática do período pós-Apartheid, apresentada como exemplo bem-sucedido de resolução de conflitos internos por meio do diálogo político.

Para o assessor especial, encerrar o ciclo da presidência brasileira do BRICS com uma discussão centrada na promoção da paz tem um forte valor simbólico. Embora o bloco tenha avançado em agendas como inteligência artificial e energias renováveis, Amorim avaliou que a capacidade de dialogar, prevenir crises e resolver conflitos permanece como a missão mais nobre e essencial para o futuro dos países membros e para a construção de uma ordem internacional mais equilibrada e multipolar.

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