Nathalia Urban por Milenna Saraiva

Esta seção é dedicada à memória da jornalista Nathalia Urban, internacionalista e pioneira do Sul Global

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Brasil encerra presidência do BRICS e Índia assume liderança

Reunião de sherpas marca entrega do martelo e definição de prioridades para 2026

Sherpa do Brasil, embaixador Mauricio Lyrio, entregou martelo que simboliza a presidência do BRICS para o sherpa da Índia, embaixador Sudhakar Dalela (Foto: Isabela Castilho/Audiovisual BRICS)

247 - A 4ª Reunião de Sherpas do BRICS foi concluída nesta sexta-feira, 12 de dezembro, com a formalização da transferência da presidência do agrupamento do Brasil para a Índia. O ato simbólico foi marcado pela entrega do tradicional martelo, que representa a passagem do comando político e diplomático do bloco.

Segundo informações oficiais do BRICS, a transição foi conduzida pelo sherpa do Brasil, embaixador Mauricio Lyrio, que transferiu a presidência ao sherpa da Índia, embaixador Sudhakar Dalela, após dois dias de debates e avaliações sobre os rumos do grupo.

Balanço da presidência brasileira

Durante o encontro, os sherpas realizaram um balanço da presidência brasileira do BRICS, que concentrou sua atuação em seis áreas consideradas centrais: cooperação global em saúde; mudança do clima; comércio, investimento e finanças; arquitetura multilateral para a paz e a segurança; governança da inteligência artificial; e desenvolvimento institucional.

Ao se despedir da função, Mauricio Lyrio destacou o espírito de cooperação que marcou os trabalhos recentes. “As discussões dos últimos dois dias reafirmam nosso compromisso de fortalecer a cooperação no grupo e com os países parceiros”, afirmou. O embaixador agradeceu aos participantes e acrescentou que “aguarda com expectativa a liderança da Índia no próximo ano e a continuidade do progresso alcançado até o momento”.

Prioridades da presidência indiana

Ao assumir a presidência, Sudhakar Dalela elogiou a condução brasileira dos trabalhos. “O Brasil conduziu o BRICS com clareza de propósito e um admirável compromisso com a construção de consenso”, declarou.

Segundo o diplomata, a Índia está comprometida em dar continuidade à agenda coletiva já endossada pelo grupo e em manter o dinamismo observado nos pilares de cooperação. “Nossa presidência permanecerá guiada pelos princípios fundamentais de continuidade, consolidação e consenso, enquanto permanece responsiva aos desenvolvimentos globais emergentes e às prioridades em evolução do Sul Global”, afirmou.

Dalela também apresentou as prioridades da presidência indiana para 2026, estruturadas em quatro eixos: resiliência, inovação, cooperação e sustentabilidade. Entre os temas que terão continuidade estão o desenvolvimento de sistemas de redução de desastres climáticos, a cooperação para o uso equitativo da inteligência artificial e o compartilhamento de saberes científicos e de pesquisa.

Agenda política e governança global

Os debates políticos considerados estratégicos para o Sul Global também seguirão em pauta. Entre eles estão a defesa de uma governança global mais inclusiva e diversa e a reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), temas que estiveram no centro da presidência brasileira do BRICS.

O simbolismo do martelo da Amazônia

A entrega do martelo simboliza a passagem da presidência do BRICS e, tradicionalmente, reflete elementos culturais do país que deixa o comando. Em 2024, o Brasil havia recebido da então presidência russa um martelo de aço produzido na região dos Urais.

Para a transição à Índia, o Brasil optou por um símbolo associado à sustentabilidade. O martelo entregue foi produzido com madeira reaproveitada da Floresta Amazônica, a partir de árvores nativas como Itaúba, Pau Rainha e Jaqueira. A peça foi confeccionada artesanalmente pela comunidade de Novo Airão, no Amazonas, por meio do trabalho da Fundação Almerinda Malaquias, que utiliza madeiras abandonadas em áreas rurais que seriam queimadas.

Segundo Mauricio Lyrio, a iniciativa busca transmitir à presidência indiana a preocupação ambiental que marcou o ciclo brasileiro, incluindo a aprovação da primeira declaração do BRICS sobre financiamento climático. “O martelo representa tanto a sustentabilidade quanto as profundas raízes de cooperação que unem os países do grupo. Com o gesto, é reafirmada a confiança na próxima presidência da Índia e o compromisso em apoiar seus esforços para promover a agenda do BRICS”, explicou.

Encerramento do ciclo brasileiro

Apesar da cerimônia de transmissão da presidência ter ocorrido nesta sexta-feira, o Brasil seguirá formalmente à frente do BRICS até 31 de dezembro de 2025. Como parte do encerramento do ciclo, está previsto para a próxima semana um último workshop sobre segurança, com a participação do embaixador Celso Amorim, assessor para assuntos internacionais da Presidência da República.

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