Nathalia Urban por Milenna Saraiva

Esta seção é dedicada à memória da jornalista Nathalia Urban, internacionalista e pioneira do Sul Global

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Brasil apresenta resultados da presidência do BRICS

A 4ª Reunião de Sherpas ocorre em Brasília com objetivo de reunir representantes dos onze países-membros para fazer um balanço das conquistas alcançadas

A reunião dos Sherpas contou com a presença brasileira do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e do embaixador Mauricio Lyrio. No encontro, foram apresentados os resultados da presidência do Brasil do BRICS, concentrados em seis áreas (Foto: Isabela Castilho | Audiovisual BRICS)

247 - A quarta e última reunião dos negociadores políticos do BRICS, conhecidos como sherpas, teve início nesta quinta-feira (11), em Brasília, reunindo representantes dos onze países-membros para avaliar os resultados alcançados ao longo de 2025. O encontro se estende até esta sexta-feira (12), quando ocorre a cerimônia de transmissão da presidência do grupo para a Índia, encerrando o ciclo brasileiro à frente do bloco.

Ao fazer um balanço do trabalho desenvolvido durante o ano, o ministro das Relações Exteriores, embaixador Mauro Vieira, destacou o caráter abrangente da atuação brasileira. “Foi, de fato, um esforço de todo o governo, que reflete não somente a amplitude da agenda do Brics, mas também a extensão em que a nossa cooperação agora vai muito além das áreas tradicionais de coordenação política e financeira”, afirmou.

Segundo o chanceler, o desafio para os próximos anos é aproximar ainda mais as decisões do Brics do cotidiano das populações dos países-membros. “Grandes questões internacionais continuarão sendo centrais para o nosso trabalho, mas nossas sociedades também esperam que apresentemos resultados concretos de nossas iniciativas. O BRICS deve ser visto não apenas como um fórum de diálogo entre governos, mas também como uma plataforma capaz de gerar benefícios tangíveis para nossos povos”, disse.

Defesa do multilateralismo em cenário global adverso

O sherpa brasileiro, embaixador Mauricio Lyrio, também avaliou de forma positiva os resultados da presidência exercida pelo Brasil. “Atingimos os objetivos que definimos para nós mesmos. Grande parte disso se deve ao engajamento e trabalho árduo de todas as equipes envolvidas ao longo do ano”, afirmou.

Lyrio ressaltou que um dos eixos centrais da atuação brasileira foi a defesa do multilateralismo, mesmo em um contexto internacional marcado por tensões e desconfianças. “Enfrentamos um contexto internacional marcado pela desconfiança em várias frentes e pelo próprio questionamento do multilateralismo. Essas tendências exerceram pressão adicional sobre a ação coletiva”, lembrou. Em seguida, destacou: “No entanto, as tendências também destacaram a centralidade do BRICS como plataforma de diálogo, construção de pontes e articulação de perspectivas que não poderiam ser negligenciadas”.

Esse posicionamento se refletiu na Declaração Final dos Líderes do Brics, que condenou conflitos armados, defendeu uma governança global mais inclusiva e reafirmou a necessidade de reformar o Conselho de Segurança das Nações Unidas. “Nossa coordenação não foi apenas uma necessidade prática, mas uma reafirmação de nosso compromisso compartilhado com o multilateralismo em uma ordem internacional mais equilibrada, representativa e cooperativa”, enfatizou Lyrio.

Prioridades e declarações históricas

Durante o primeiro dia da reunião, foram apresentados os resultados das seis áreas consideradas prioritárias pelo Brasil em 2025: cooperação global em saúde; mudança do clima; comércio, investimento e finanças; arquitetura multilateral para a paz e segurança; governança da inteligência artificial; e desenvolvimento institucional.

No âmbito desses eixos, os líderes do Brics aprovaram três declarações consideradas históricas. A primeira trata da governança global da inteligência artificial, com a proposta de ampliar o acesso justo e equitativo às tecnologias. A segunda, voltada ao financiamento climático, defende a reforma dos bancos multilaterais para garantir recursos mais adequados aos países mais afetados pela crise climática. Já a terceira institui a Parceria do Brics para a Eliminação de Doenças Socialmente Determinadas, com foco no fortalecimento de sistemas de saúde nos países do Sul Global.

A vice-sherpa do Brasil, embaixadora Paula Barboza, avaliou que a principal mensagem deixada pela presidência brasileira é a valorização da inclusão e da representatividade. “Também reconhecemos que vivemos um momento de grandes desafios, mas igualmente de grandes oportunidades para que o grupo se consolide como uma verdadeira voz do Sul Global no cenário internacional”, afirmou.

Ela apresentou ainda um balanço numérico das atividades realizadas ao longo do ano, que incluiu 220 videoconferências, 62 reuniões técnicas, 21 reuniões ministeriais, quatro reuniões de sherpas, além da Cúpula do Brics no Rio de Janeiro e de uma cúpula virtual.

Transição para a presidência indiana

O documento consolidado pelo Brasil servirá como base para a transição da presidência do Brics para a Índia. No último dia da reunião, está prevista a cerimônia de passagem de liderança e a apresentação das prioridades do próximo ciclo. “Amanhã (sexta) dedicaremos toda a nossa atenção à presidência da Índia que assumirá o cargo. Será o momento de passarmos o bastão. Será um prazer fazer isso com a presidência indiana, meu colega e amigo. Estamos muito felizes por termos este momento”, declarou Mauricio Lyrio.

O sherpa indiano, embaixador Sudhakar Dalela, elogiou a condução brasileira, destacando o momento de consolidação da composição ampliada do bloco. “Este ano foi especialmente significativo, pois coincidiu com a fase de consolidação da composição ampliada. A integração de novos parceiros trouxe um equilíbrio delicado, preservando os princípios fundamentais do BRICS e ajustando-se às mudanças da governança global. A liderança brasileira tem sido exemplar”, afirmou.

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