EUA e Hamas mantêm negociações diretas; impasse sobre reféns e ameaças de Trump elevam tensão
Conversas intermediadas pelo Catar buscam libertação de reféns israelenses e incluem pressão dos EUA sobre Gaza
247 - As negociações diretas entre os Estados Unidos e o Hamas, que ocorrem pela primeira vez em décadas, vieram a público após reportagem do Axios, que revelou que os encontros foram intermediados pelo Catar. Segundo informações confirmadas posteriormente pela Casa Branca, as conversas têm como foco a libertação do refém israelo-americano Edan Alexander, de 21 anos, e a devolução dos corpos de outros quatro cidadãos israelenses-americanos capturados pelo Hamas em 7 de outubro do ano passado.
A revelação do diálogo entre Washington e o grupo classificado como organização terrorista pelos EUA desde 1997 representa uma mudança significativa na política externa norte-americana. Até então, a estratégia de Washington se restringia a intermediações conduzidas pelo Catar e pelo Egito, sem contato direto entre as partes, relara a Al Jazeera.
Trump endurece discurso e impõe condições - O presidente Donald Trump, que já vinha adotando uma postura dura em relação ao conflito em Gaza, reagiu às notícias das negociações com ameaças diretas ao Hamas. Em uma postagem nas redes sociais, ele cobrou a libertação de todos os reféns e direcionou sua mensagem à população de Gaza: “um futuro bonito os aguarda, mas não se mantiverem reféns. Se o fizerem, estarão mortos! Tomem uma decisão inteligente”. Trump também afirmou que daria a Israel “tudo o que for necessário para terminar o trabalho” e advertiu que “nenhum membro do Hamas estará seguro se não fizerem o que eu digo”.
Trump tem defendido posições extremas em relação à Faixa de Gaza, sugerindo medidas como a remoção da população palestina do território e a ocupação da região pelos EUA.
O papel de Adam Boehler nas negociações - As negociações estão sendo conduzidas pelo enviado presidencial para assuntos de reféns, Adam Boehler, que desempenhou um papel importante nos Acordos de Abraão durante o primeiro mandato de Trump. Seu histórico de mediação em temas sensíveis no Oriente Médio reforça a importância do canal diplomático estabelecido, embora a continuidade das negociações dependa de fatores externos, como a pressão israelense e a resistência do Hamas a novas exigências.
Hamas se posiciona e critica postura dos EUA - Embora não tenha se pronunciado oficialmente sobre a divulgação das conversas, um representante do Hamas disse à Associated Press que as negociações estavam focadas na libertação de reféns israelenses e eram “promissoras”. Por outro lado, o porta-voz do grupo, Hazem Qassem, criticou as ameaças de Trump, afirmando que elas “complicam a situação do acordo de cessar-fogo e encorajam Israel a não cumprir sua parte no acordo”.
Qassem também acusou os Estados Unidos de não pressionarem Israel o suficiente para avançar para a segunda fase do cessar-fogo, que incluiria a retirada das tropas israelenses de Gaza e a oficialização do fim da guerra.
Israel reage e expõe divergências - Segundo o Axios, a administração Trump consultou Israel antes de iniciar as negociações diretas, mas as autoridades israelenses teriam descoberto detalhes dos encontros por meio de outras fontes.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, assegurou que “Israel foi consultado sobre o assunto”, enquanto o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou que “expressou sua opinião” aos EUA. Já o cônsul israelense em Nova York, Ofir Akunis, disse à Fox News que “esta é uma nova postura da Casa Branca em relação ao Hamas” e que, para Israel, “se os EUA quiserem negociar, isso é problema deles”.
Cessar-fogo em risco e tensão aumenta - Apesar das negociações, o futuro do cessar-fogo permanece incerto. A primeira fase do acordo de paz, que envolveu a liberação de 25 reféns vivos e dos corpos de oito outros em troca de 1.900 prisioneiros palestinos, expirou em 1º de março. A próxima fase, que deveria garantir a libertação dos 59 reféns ainda mantidos em Gaza, bem como a retirada das tropas israelenses, enfrenta impasses.
Israel, por sua vez, está sendo acusado pelo Egito de não querer cumprir sua parte no acordo. O chanceler egípcio, Badr Abdelatty, afirmou à agência QNA que “há uma parte tentando recuar de suas obrigações”.
Enquanto isso, a população civil em Gaza segue sofrendo com os bloqueios impostos por Israel. No domingo, o governo israelense anunciou a suspensão da entrada de ajuda humanitária no território como forma de pressão para que o Hamas aceite a extensão da primeira fase do cessar-fogo. A medida fez os preços dos alimentos dispararem na região, agravando ainda mais a crise humanitária.
As próximas semanas serão decisivas para definir o futuro das negociações e se a pressão norte-americana resultará na libertação dos reféns restantes ou na escalada de um novo conflito em Gaza.
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