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Sébastien Lecornu toma posse como primeiro-ministro da França

Indicado por Macron assume o cargo em meio a uma onda de protestos contra cortes no orçamento

Sebastien Lecornu, então ministro da Defesa francês (Foto: REUTERS/Gonzalo Fuentes)

247 - Sébastien Lecornu tomou posse como o novo primeiro-ministro da França na manhã desta quarta-feira (10), em uma cerimônia no Palácio de Matignon, em Paris. A decisão, que ocorre em meio a intensos protestos no país, coloca o político de 39 anos no centro de uma crise política e social crescente. As informações são da Folha de S. Paulo.

O movimento "Bloquons Tout" (Vamos Bloquear Tudo), que se espalhou de maneira descentralizada pelas redes sociais, já havia levado à prisão de mais de 200 pessoas até a manhã de hoje. Barricadas foram erguidas em estradas e na entrada de diversas escolas.

Em seu discurso de posse, Lecornu evitou uma referência direta aos protestos, mas fez questão de afirmar que "vai ser preciso haver rupturas, não só na forma, mas no conteúdo" para resolver a crise. Ele também anunciou que iniciará um ciclo de conversações com os partidos políticos para buscar uma saída para o impasse. Enquanto isso, as ruas de Paris refletem um clima de apreensão. Lojistas, ainda traumatizados pelos saques durante o movimento dos "coletes amarelos", instalarem tapumes nas vitrines de seus estabelecimentos em preparação para possíveis novos tumultos.

O ex-ministro do Interior, Bruno Retailleau, anunciou o envio de 80 mil policiais e militares para garantir a ordem. Ele acusou a ultraesquerda de tentar manipular o "Bloquons Tout" para obter vantagens eleitorais. O movimento, inicialmente criado como uma reação contra a política de austeridade implementada por François Bayrou, o ex-primeiro-ministro destituído, ainda persiste, já que a percepção é de que Lecornu dará continuidade às políticas de seu antecessor.

Lecornu, um dos aliados mais próximos do presidente Emmanuel Macron, recebeu críticas pesadas da oposição. Marine Le Pen, líder da ultradireita, afirmou que sua nomeação representa "o último cartucho do macronismo", enquanto Jean-Luc Mélenchon, chefe da França Insubmissa (LFI), qualificou a troca de primeiros-ministros como uma "triste comédia", insistindo na renúncia de Macron. Lecornu, entretanto, é visto como um bom negociador, e sua principal tarefa será formar uma maioria no Parlamento polarizado para garantir a aprovação de um orçamento austero para 2026, algo que seu predecessor não conseguiu.

O novo premiê possui um longo histórico político. Lecornu foi o assistente parlamentar mais jovem da Assembleia Nacional, aos 19 anos, e, em 2014, se tornou prefeito da cidade de Vernon, na Normandia. Em 2017, abandonou a candidatura de François Fillon para apoiar Macron, tornando-se um dos seus aliados mais fiéis. Em 2019, Lecornu ajudou a mediar a crise dos "coletes amarelos" com a proposta de um "grande debate nacional", contribuindo para o fim dos protestos que abalavam a França.

O movimento "Bloquons Tout", que já ganhou apoio de grupos de esquerda, surge em resposta à continuidade da política de austeridade. Em meio a essa tensão política, um incidente agravou ainda mais o clima no país. Pelo menos nove cabeças de porco foram encontradas na manhã de terça-feira em frente a mesquitas em Paris e arredores, com o nome de "Macron" pintado em algumas delas. O ato foi amplamente condenado por Macron e Retailleau, mas Jean-Luc Mélenchon criticou a postura do ex-ministro do Interior, acusando-o de fomentar hostilidade contra a comunidade muçulmana.

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