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Tensões diplomáticas entre Índia e Bangladesh acendem alerta regional

Crise bilateral envolve segurança de missões, protestos e acusações mútuas às vésperas de eleições

Bandeiras da Índia e de Bangladesh (Foto: Prensa Latina)

247 - As relações entre Índia e Bangladesh entraram em um novo momento de tensão diplomática após uma série de episódios envolvendo segurança de missões estrangeiras, protestos populares e acusações cruzadas entre os dois governos. A escalada preocupa autoridades regionais e ocorre em um contexto político sensível, marcado por violência recente e pela proximidade de eleições em Bangladesh.

Na terça-feira, o Ministério das Relações Exteriores de Bangladesh convocou o alto comissário da Índia em Daca, Pranay Verma, para manifestar preocupações relacionadas à segurança das missões diplomáticas do país no território indiano. A informação foi divulgada pela agência Prensa Latina, que acompanha o agravamento do impasse entre os dois vizinhos do sul da Ásia.

A convocação ocorreu após a decisão de Bangladesh de suspender, por tempo indeterminado, todos os seus serviços consulares em Nova Délhi, incluindo a emissão de vistos. Segundo a imprensa bengalesa, a medida foi motivada por razões de segurança diante de protestos realizados na Índia em reação ao assassinato do jovem hindu Dipu Chandra Das, ocorrido em Daca.

O homicídio aconteceu durante manifestações que se seguiram ao funeral de Osman Hadi, figura central na deposição da então primeira-ministra Sheikh Hasina, em agosto de 2024, e candidato nas eleições previstas para fevereiro de 2026. Hadi morreu na semana passada, em Singapura, para onde havia sido transferido após sofrer um ataque em 12 de dezembro, quando deixava uma mesquita na capital bengalesa.

Durante o funeral, realizado no último sábado, o chefe do governo interino de Bangladesh, Mohamed Yunus, afirmou que os responsáveis pelo ataque tinham ligações com a Liga Awami, partido de Sheikh Hasina, atualmente proibido no país. Sem citar organizações específicas, Yunus declarou que o crime teve como objetivo “sabotar as próximas eleições” e sugeriu que os envolvidos teriam fugido para a Índia.

Em resposta, no dia 20 de dezembro, o Ministério das Relações Exteriores da Índia classificou como “propaganda enganosa” as reportagens divulgadas por setores da mídia de Bangladesh sobre um protesto ocorrido em frente à Alta Comissão bengalesa em Nova Délhi. Segundo o governo indiano, a manifestação, formada majoritariamente por jovens, tinha como foco exigir proteção para todas as minorias em Bangladesh.

De acordo com a chancelaria indiana, os manifestantes “não tentaram derrubar cercas ou criar situações de insegurança em nenhum momento” e foram dispersados poucos minutos depois pela polícia local. Nova Délhi destacou ainda que há registros visuais públicos dos acontecimentos e reiterou seu compromisso com a segurança de missões estrangeiras em seu território, conforme estabelece a Convenção de Viena.

O governo indiano afirmou também estar em contato permanente com as autoridades de Bangladesh e manifestou “profunda preocupação com os ataques contra minorias”. Nesse contexto, o Ministério das Relações Exteriores da Índia enfatizou que “insistimos para que os autores do bárbaro assassinato de Das sejam levados à justiça”.

Antes disso, Nova Délhi já havia convocado o alto comissário de Bangladesh na Índia, Riaz Hamidullah, para expressar inquietação com o que descreveu como deterioração da situação de segurança no país vizinho. As autoridades indianas apontaram, em especial, planos de grupos classificados como extremistas para criar um ambiente de insegurança em torno da Embaixada da Índia em Daca.

A chancelaria indiana rejeitou de forma categórica o que chamou de “narrativa falsa” criada por esses grupos sobre os recentes acontecimentos em Bangladesh. Também lamentou que o governo interino, liderado por Mohamed Yunus, não tenha ordenado uma investigação completa nem compartilhado evidências relevantes com a Índia sobre os incidentes.

Por fim, Nova Délhi solicitou formalmente que o governo interino de Bangladesh assegure a proteção de embaixadas e consulados estrangeiros no país, em conformidade com as obrigações diplomáticas internacionais, enquanto a crise bilateral segue sem sinais imediatos de distensão.

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