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Ex-premiê de Bangladesh é condenada à morte por repressão a protestos estudantis

Tribunal responsabiliza ex-premiê por violência de 2024

Sheikh Hasina (Foto: Reuters)

247 - A ex-primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, foi condenada à morte pelo Tribunal Internacional de Crimes do país, que a responsabilizou pela violenta repressão contra protestos estudantis em 2024. A decisão, anunciada nesta segunda-feira (17), marca um dos episódios judiciais mais contundentes envolvendo um líder político bangladeshiano nas últimas décadas.

O veredicto, divulgado após um processo que se estendeu por meses, foi relatado pela agência Reuters, que destacou a condução do julgamento sob forte esquema de segurança e a ausência de Hasina, refugiada na Índia desde agosto de 2024.

A corte estabeleceu que a ex-líder ordenou a repressão letal contra manifestações estudantis entre julho e agosto daquele ano, episódio que, segundo um relatório das Nações Unidas, resultou na morte de até 1,4 mil pessoas e deixou milhares de feridos — a maioria atingida por disparos de forças de segurança. A violência registrada é considerada a mais grave no país desde a guerra de independência, em 1971.

Além da sentença de morte relacionada às mortes durante o levante, Hasina também recebeu pena de prisão perpétua por acusações de crimes contra a humanidade. Na sala de audiência em Daca, o anúncio provocou aplausos e celebrações, em meio a um clima de tensão que antecede as eleições parlamentares previstas para fevereiro do próximo ano. O partido de Hasina, a Liga Awami, está impedido de participar do pleito.

O julgamento ocorreu sem a presença da ex-premiê, representada por um advogado nomeado pelo Estado, que alegou falta de fundamentação e motivação política nas acusações. A defesa insistiu na absolvição, mas o tribunal sustentou que documentos e depoimentos confirmavam a responsabilidade direta de Hasina no comando das operações de repressão.

Em entrevista concedida por e-mail à Reuters no mês anterior, Hasina rejeitou todas as acusações e questionou a legitimidade da corte. "Esses processos são uma farsa politicamente motivada," afirmou. "Eles foram conduzidos por tribunais de fachada, com veredictos de culpa previamente decididos. São presididos por um governo não eleito, composto por meus opositores políticos".

Ela reiterou ainda que não participou de decisões que envolvessem o uso de força letal, afirmou ter sido privada de tempo adequado para preparar sua defesa e disse ter sido surpreendida por audiências marcadas sem aviso prévio.

O cenário político de Bangladesh permanece delicado. Após a queda de Hasina, a administração interina liderada pelo Nobel da Paz Muhammad Yunus assumiu o comando do país, mantendo relativa calma, embora a instabilidade siga como pano de fundo. Nos últimos dias, autoridades registraram explosões de bombas caseiras e ataques a veículos, sem vítimas, elevando os alertas de segurança antes do julgamento.

O filho de Hasina e conselheiro político, Sajeeb Wazed, declarou à Reuters que não recorrerá da decisão enquanto não houver um governo democraticamente eleito com participação da Liga Awami. A ex-premiê, por sua vez, advertiu que simpatizantes do partido podem boicotar as eleições previstas para fevereiro.

Nesta segunda-feira, forças paramilitares reforçaram a segurança em áreas estratégicas de Daca e outras grandes cidades, com o governo afirmando estar preparado para conter qualquer eventual mobilização após o anúncio da sentença.

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