Trump ameaça retirar licença da ABC após pergunta sobre caso Epstein
Presidente dos Estados Unidos reage com agressividade a questionamento sobre documentos da investigação e volta a atacar imprensa americana
247 – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a elevar o tom contra veículos de imprensa ao sugerir, nesta terça-feira, que a ABC — controlada pela Walt Disney — deveria ter sua licença de transmissão “retirada”. A reação ocorreu depois que um repórter da emissora questionou Trump sobre a divulgação de documentos relacionados ao escândalo envolvendo o agressor sexual Jeffrey Epstein, já falecido. A informação foi publicada pelo jornal Valor Econômico, que detalhou o episódio ocorrido durante uma conversa do presidente com jornalistas.
Segundo o Valor, Trump se irritou ao ser perguntado por que não ordenava ao Departamento de Justiça a liberação imediata dos arquivos do caso Epstein, já que ele próprio vinha afirmando apoiar transparência total. Em resposta, atacou a emissora e negou qualquer vínculo com o financista, apesar de ambos terem sido próximos no passado.
“Acho que a licença da ABC deveria ser retirada porque as suas notícias são tão falsas e tão erradas. E nós temos um ótimo comissário, um presidente, que deveria olhar para isso”, disse Trump, referindo-se ao chefe da Comissão Federal de Comunicações, Brendan Carr.
Na sequência, reforçou sua versão sobre Epstein: “Eu não tenho nenhuma ligação com Jeffrey Epstein. Eu o expulsei do meu clube muitos anos atrás porque achei que ele fosse um pervertido. E, pelo visto, eu estava certo.”
Pressão crescente sobre Trump e os arquivos de Epstein
O escândalo envolvendo Epstein tem se tornado um dos principais pontos de pressão política sobre Trump, especialmente depois da divulgação de e-mails que apontam que o presidente tinha conhecimento das atividades do financista, considerado um dos mais notórios predadores sexuais das últimas décadas.
Durante a campanha presidencial, Trump repetiu por meses que tornaria públicos todos os documentos relacionados ao caso assim que retornasse à Casa Branca. No entanto, já no governo, tentou impedir a publicação pelo Departamento de Justiça, o que gerou forte reação negativa entre seus próprios apoiadores do movimento Make America Great Again (MAGA).
No último domingo, sob risco de ver republicanos votarem ao lado dos democratas em uma proposta de liberação dos arquivos na Câmara dos Deputados, Trump recuou e passou a afirmar que apoia a divulgação integral.
Confronto constante com a mídia e ameaça às licenças de TV
A nova ameaça contra a ABC se soma a uma série de ataques do presidente a emissoras consideradas críticas à sua gestão. Segundo o Valor, em setembro, a ABC suspendeu o programa “Jimmy Kimmel Live” após a repercussão negativa de comentários do apresentador sobre o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk. A suspensão teria sido adotada sob pressão do governo.
No mesmo período, Trump intensificou discursos contra a imprensa e chegou a ameaçar retirar licenças de transmissão de diferentes canais de TV, em ações amplamente vistas como um ataque direto à liberdade de imprensa nos Estados Unidos.
Panorama político e riscos institucionais
A relação de Trump com a mídia, marcada por confrontos, acusações de “fake news” e ameaças regulatórias, ganha novo capítulo com o episódio envolvendo Epstein. O caso reabre o debate sobre uso político de agências reguladoras e sobre os limites do poder presidencial na democracia americana.
Com a votação sobre a liberação dos documentos prevista para ocorrer ainda hoje na Câmara, a pressão sobre o governo Trump deve aumentar — especialmente entre republicanos preocupados com o impacto eleitoral de uma eventual obstrução da transparência.


