A economia fóssil perde força, afirma chefe do clima da ONU na COP30
Simon Stiell diz que desinformação tenta sustentar modelo em declínio e destaca avanços em Belém
247 - A transição global para uma economia de baixo carbono ganhou novo impulso no encerramento da COP30, realizada em Belém. Em discurso neste sábado (22), o secretário-executivo da ONU para Mudanças Climáticas, Simon Stiell, afirmou que o mundo vive um ponto de inflexão histórico. Segundo reportagem publicada originalmente pelo Valor Econômico, Stiell ressaltou que a transformação já está em curso e desafiou narrativas que tentam frear o processo.
No pronunciamento, reproduzido pelo Valor Econômico, o dirigente da ONU declarou que “a nova economia está surgindo. A velha economia poluente está chegando ao fim da linha”, apontando que, apesar do avanço, a desinformação ainda pressiona sociedades e governos. “Quando as pressões climáticas elevam os preços, desestabilizam economias e colocam comunidades sob tensão, os agentes da desinformação — oportunistas — exploram essa ansiedade. Tudo é culpado, menos a verdadeira causa”, afirmou.
Stiell avaliou que esta foi a “COP da verdade”, marcada por debates sobre como enfrentar narrativas negacionistas sem perder de vista os desafios concretos impostos pela crise climática. Ele reconheceu a insatisfação de países que buscavam decisões mais incisivas, especialmente após a ausência de um roadmap para eliminação dos combustíveis fósseis nos textos finais. “Eu entendo as frustrações — e compartilho muitas delas”, disse.
Mesmo assim, o secretário-executivo sustentou que a conferência representou avanços tangíveis. Para ele, a direção das transformações é inequívoca: “Não vamos ignorar o quanto esta COP nos fez avançar. Com ou sem ferramentas de navegação, nossa direção é clara: a mudança dos combustíveis fósseis para as renováveis e a resiliência é inevitável”.
Stiell fez ainda uma referência indireta às recentes decisões do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de recuar em compromissos climáticos. “Este ano, houve muita atenção sobre um país que recuou. Mas, em meio a fortes ventos políticos contrários, 194 países mantiveram-se firmes em solidariedade — irredutíveis no apoio à cooperação climática”, afirmou. Ele destacou que essas nações, reunindo bilhões de pessoas, afirmaram em uníssono que “o Acordo de Paris está funcionando” e decidiram acelerá-lo.
Entre os principais resultados da conferência, Stiell citou o novo acordo sobre transição justa, que reforça que a construção de resiliência climática e de uma economia limpa precisa ser equitativa. Outro ponto foi o compromisso de triplicar o financiamento para adaptação, medida considerada urgente diante do aumento de desastres que devastam territórios e afetam cadeias globais de suprimentos. “Pela primeira vez, 194 nações disseram em uníssono que ‘a transição global para baixas emissões e resiliência climática é irreversível e a tendência do futuro’”, declarou.
A fala de Stiell encerrou uma COP marcada por debates intensos, disputas diplomáticas e pela crescente pressão global por ações climáticas mais ambiciosas. A imagem do secretário-executivo exibindo um panfleto com a inscrição “O Acordo de Paris”, em Belém, sintetizou a mensagem que levou à plenária final: o mundo já entrou em uma nova era — e não há retorno ao modelo fóssil que dominou o século passado.



