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COP30 em Belém reacende pressão global por metas climáticas mais ambiciosas

Reunião na Amazônia expõe urgência de novas NDCs, cobra financiamento dos países ricos e destaca protagonismo do Brasil e da China na transição verde

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fala na abertura da Cúpula do Clima de Belém, como parte da COP30, em Belém-PA - 06/11/2025 (Foto: REUTERS/Anderson Coelho)

247 – A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), realizada em Belém, no coração da Amazônia, tornou-se um marco na disputa global por um novo patamar de governança climática, segundo informa a Xinhua.

A COP30, que vai até 21 de novembro, reúne representantes de quase 200 países e regiões com foco em três eixos centrais: o esforço global para limitar o aquecimento a 1,5 °C, a entrega de novos Planos Nacionais de Ação Climática — as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) — e o avanço nas promessas de financiamento climático assumidas na COP29.

Pressão por novas NDCs e alerta sobre emissões recordes

Segundo destacou a Xinhua, um dos principais desafios da conferência é a entrega da nova rodada de NDCs, previstas pelo Acordo de Paris, assinado por 195 partes há uma década. Embora todos devam apresentar metas mais ambiciosas em 2025, apenas cerca de um terço dos países o havia feito até 30 de setembro.

A Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) é o compromisso que cada país assume voluntariamente para reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE) e se adaptar aos impactos das mudanças climáticas.

Ao mesmo tempo, um estudo apresentado na COP30 expôs o agravamento da crise: as emissões globais de CO₂ provenientes de combustíveis fósseis devem atingir um novo recorde em 2025, com alta de 1,1% em relação a 2024, segundo o Global Carbon Budget 2025, elaborado pelo consórcio científico Global Carbon Project.

Diante desse cenário, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, resumiu o impasse ao afirmar: “O desafio à frente não é apenas identificar o que falta, mas mobilizar o que pode mover — transformar déficits de ambição, financiamento e tecnologia em forças de aceleração.”

Guterres cobra 1,3 trilhão de dólares por ano para países em desenvolvimento

Na abertura da Cúpula de Ação Climática de Líderes Mundiais, o secretário-geral da ONU, António Guterres, enfatizou que a comunidade internacional precisa transformar a COP30 em “um ponto de virada”.

Ele reforçou a urgência do apoio financeiro aos países em desenvolvimento e afirmou: “É necessário um caminho claro para mobilizar 1,3 trilhão de dólares por ano até 2035, incluindo 300 bilhões de dólares anuais em contribuições dos países desenvolvidos.”

Guterres destacou ainda que a cooperação entre Norte e Sul é decisiva, e alertou para o impacto da falta de ação das economias ricas, o que tem impulsionado o Sul Global a acelerar sua própria transição energética.

Lula: evitar discursos vazios e recuperar o espírito da Rio-92

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anfitrião da conferência, pediu que os países abandonem “retórica vazia” e entreguem compromissos reais.

Ele lembrou que a COP30 retorna à região que simboliza o início das negociações ambientais modernas: “Mais de 30 anos atrás, na Cúpula da Terra, o mundo se reuniu no Rio de Janeiro para discutir desenvolvimento e proteção ambiental. Naquele momento, o multilateralismo estava em seu auge.”

Para Lula, a COP30 resgata esse espírito: “Hoje, a Convenção do Clima volta ao seu berço para reacender o entusiasmo e o engajamento que inspiraram seu nascimento.”

Cooperação internacional ganha centralidade

O secretário executivo da UNFCCC, Simon Stiell, comparou o encontro em Belém à confluência dos rios amazônicos. “Assim como o rio é fortalecido por mais de mil afluentes, o processo da COP deve ser sustentado por múltiplas correntes de cooperação internacional.”

O professor Fernando Romero Wimer, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, reforçou que a lentidão das nações desenvolvidas levou o Sul Global a buscar soluções próprias de financiamento e transição energética.

Lula também destacou que projetos de energia renovável na América Latina e na África podem gerar empregos, renda e desenvolvimento sustentável, ao mesmo tempo em que reduzem emissões.

China apresenta avanços no mercado de carbono e fortalece presença global

A participação chinesa ganhou atenção especial no Pavilhão da China, que apresentou resultados do país na governança climática e no desenvolvimento de tecnologias verdes.

Li Gao, vice-ministro da Ecologia e do Meio Ambiente e chefe da delegação chinesa, destacou a ampliação do mercado nacional de carbono, que desde 2024 passou a incluir indústrias como aço, cimento e alumínio. Ele informou que o sistema já movimentou mais de 770 milhões de toneladas em créditos e superou 51,8 bilhões de yuans (cerca de 7,3 bilhões de dólares) até outubro de 2025.

Li Gao apontou três pilares da experiência chinesa:

  •  criação de um mercado adaptado às condições nacionais;
  •  melhoria na qualidade de dados e gestão, apoiada por tecnologias digitais;
  •  fortalecimento da cooperação internacional e reconhecimento mútuo entre mercados de carbono.

Valerie Hickey, diretora global de Mudança do Clima do Banco Mundial, elogiou o sistema, classificando-o como “um modelo de crescimento constante e em expansão”.

Zhao Yingmin, presidente da Coalizão Internacional para o Desenvolvimento Verde da Iniciativa Cinturão e Rota (BRI), afirmou que a China já colhe resultados expressivos em energia renovável e metas climáticas rumo a 2035.

Para Simon Stiell, o chamado “Cinturão e Rota Verde” cria oportunidades para empregos, capacitação e desenvolvimento sustentável nos países parceiros.

A ministra brasileira do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, reforçou essa visão e afirmou à Xinhua que a China tem dado “uma grande contribuição” ao desenvolver tecnologias inovadoras e apoiar o Sul Global no enfrentamento das mudanças climáticas.

Um momento decisivo para a política climática mundial

Com debates intensificados sobre financiamento, adesão às NDCs e cooperação internacional, a COP30 se tornou um ponto de inflexão no esforço global para limitar o aquecimento do planeta. De Belém, em plena Amazônia, líderes globais tentam construir um novo pacto para acelerar a transição energética e evitar que o mundo ultrapasse limites climáticos irreversíveis.

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