Financial Times: Investidores migram para fundos fora dos EUA em busca de diversificação
Aversão ao risco impulsiona recorde de aportes na Europa e mercados emergentes
247 - O movimento global de investidores em direção a fundos de ações que excluem os Estados Unidos ganhou força em 2025, mesmo diante da disparada histórica de Wall Street. Segundo levantamento publicado pelo Financial Times com base em dados da EPFR analisados pelo Société Générale, os aportes em fundos “ex-EUA” superaram, pela primeira vez, os destinados a fundos globais que incluem papéis americanos.
De acordo com o jornal britânico, investidores aplicaram mais de US$ 175 bilhões nesses fundos no último mês, contra pouco acima de US$ 100 bilhões em fundos globais com participação de ações dos EUA. “Esse reequilíbrio está acontecendo”, afirmou Jim Caron, diretor de investimentos do Morgan Stanley Investment Management. “Daqui em diante, veremos carteiras cada vez mais diversificadas globalmente.”
Europa e emergentes ganham protagonismo
A preferência por ativos fora dos Estados Unidos foi alimentada por fatores políticos e econômicos. No início de 2025, as bolsas europeias e de mercados emergentes superaram o desempenho americano, em parte devido à instabilidade causada pelas políticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A adoção de tarifas comerciais em abril, batizadas de “dia da libertação” pela Casa Branca, intensificou a busca de investidores por alternativas.
Na Europa, os aportes em fundos de ações listados em bolsa atingiram US$ 71 bilhões até setembro, recorde histórico e muito acima dos US$ 16 bilhões registrados no mesmo período de 2024, de acordo com a BlackRock. “Ainda existe na mente da maioria o desejo de diversificar internacionalmente”, destacou Christian Mueller-Glissmann, responsável por pesquisa de alocação de ativos no Goldman Sachs.
Investidores repatriam recursos
O fenômeno também reflete uma volta do capital a mercados domésticos. A BlackRock identificou viés de alocação local, com europeus priorizando investimentos em suas próprias bolsas. Pesquisa realizada pela gestora em setembro mostrou que um quarto dos investidores da região pretendia aumentar a exposição a ações europeias, enquanto um terço planejava ampliar aplicações em emergentes. Apenas 16% projetaram elevar o peso de ações dos EUA em suas carteiras.
A queda de 10% do dólar em relação a outras moedas contribuiu para esse movimento. Para investidores europeus, o retorno do S&P 500 caiu de quase 16% em dólares para apenas 3,3% quando convertido em euros. “Não estamos negativos em relação às ações americanas, mas, se o dólar continuar em queda, o retorno total perde atratividade”, disse Alain Bokobza, chefe de alocação global do Société Générale.
Riscos e limitações fora dos EUA
Apesar do interesse crescente, especialistas alertam que investir fora dos Estados Unidos não é isento de dificuldades. Kenneth Lamont, da Morningstar, ponderou: “O mercado americano continua sendo o mais profundo e dinâmico do mundo. A instabilidade nos EUA não significa que a Europa se tornou o melhor investimento global.”
Ainda assim, gestores já estão ajustando suas posições. Trevor Greetham, da Royal London Asset Management, contou que reduziu a fatia em ações americanas durante o verão europeu, transferindo recursos para o mercado do Reino Unido, considerado “mais razoavelmente precificado”.
Mesmo com os desafios, a pressão por diversificação permanece como tendência dominante no mercado global. Como resumiu Caron, do Morgan Stanley: “Essas são boas oportunidades, mas é preciso ter cautela. O índice europeu não é a melhor forma de capturar valor, os casos são muito específicos.”



