Novo regime tributário para data centers eleva pedidos de conexão em 32%
Redata impulsiona salto de 6,4 GW em solicitações à rede elétrica, segundo a EPE
247 - Dois meses após a entrada em vigor da Medida Provisória 1.318/2025, que criou o regime tributário especial Redata para data centers, os pedidos de estudo de conexão à rede básica de energia elétrica deram um salto no País. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), as novas solicitações somaram 6,4 gigawatts (GW) adicionais, elevando para 26,2 GW o volume total em análise pelo Ministério de Minas e Energia (MME) em novembro, ante 19,8 GW em setembro, uma expansão de 32,2%.
Os números constam de nota técnica da EPE divulgada à Agência Broadcast, do Grupo Estado, nesta quinta-feira (20), no Rio de Janeiro. O levantamento detalha os primeiros efeitos do Redata sobre o mercado de grandes consumidores de energia ligados à economia digital, com foco em data centers voltados a serviços de computação em nuvem e aplicações de inteligência artificial.
A Medida Provisória 1.318/2025 foi desenhada para reduzir a carga tributária na importação e na aquisição de equipamentos de tecnologia da informação destinados a data centers, com o objetivo de tornar o processamento de dados no Brasil mais competitivo e de destravar investimentos no setor digital. Segundo a EPE, o impulso recente nos pedidos de conexão está diretamente ligado a esse alívio tributário sobre equipamentos de alto valor agregado.
“O avanço decorre da redução de tributos sobre a importação de equipamentos como GPUs (unidades de processamento gráfico), switches (dispositivos de alto desempenho) e racks (estrutura metálica), medida que busca dar competitividade ao processamento de dados no Brasil e atrair investimentos em nuvem e inteligência artificial”, explicou a autarquia.
Apesar do aumento expressivo na demanda por conexão, a EPE ressalta que a concretização dos projetos ainda depende de uma série de condições. Especialistas ouvidos pelo órgão apontam que fatores como infraestrutura de transmissão, qualidade das telecomunicações, viabilidade financeira dos empreendimentos e cumprimento das novas regras de garantia de acesso serão decisivos para que o potencial mapeado se converta em carga efetivamente conectada ao sistema.
São Paulo concentra maior pressão sobre o sistema
O estudo indica que a principal pressão por novas conexões de grandes cargas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) se dá em São Paulo, especialmente nas regiões metropolitanas da capital e de Campinas. De acordo com a EPE, análises conduzidas pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) resultaram em recomendações de reforços na rede paulista da ordem de R$ 1,6 bilhão, o que permitiria abrir uma margem adicional de 4 GW para conexão de novos empreendimentos.
Além desses reforços já recomendados, novas obras previstas para os leilões de transmissão de 2026 devem liberar mais 5 GW de capacidade de conexão para grandes cargas no Estado, projeta a EPE. O diagnóstico reforça a necessidade de expansão acelerada da infraestrutura de rede para acompanhar o ritmo de entrada dos novos pedidos relacionados ao Redata.
No Rio de Janeiro, a EPE informa que um estudo específico programado para 2026 vai avaliar como acomodar até 4 GW de grandes cargas ao sistema, em linha com a perspectiva de novos data centers e instalações de alto consumo de energia. Já no Rio Grande do Sul, está prevista para 2025 uma análise dedicada a uma demanda potencial de 5 GW, também vinculada à expansão da economia digital e de serviços intensivos em processamento de dados.
No Nordeste, a EPE relata que um trabalho já em andamento deve ampliar em 4 GW a capacidade de conexão na região. A combinação entre a oferta crescente de energia renovável — especialmente eólica e solar — e a instalação de grandes consumidores, como data centers, é considerada estratégica para o uso eficiente da infraestrutura de transmissão existente e planejada.
Soluções inovadoras para liberar capacidade
Para além das obras tradicionais de expansão da rede, os técnicos da EPE estudam alternativas tecnológicas para viabilizar o atendimento da nova leva de grandes consumidores em prazos mais curtos. Entre as soluções em avaliação, o órgão cita a implantação de dispositivos DLR (Dinamic Line Rating) para flexibilizar os limites operativos de linhas de transmissão já existentes, ajustando a capacidade conforme as condições ambientais momentâneas.
Também estão em análise equipamentos com eletrônica de potência classificados como FACTS, voltados ao controle de fluxos de energia — como é o caso de dispositivos do tipo SSSC —, além do uso de baterias e do recondutoramento de linhas com condutores especiais termorresistentes (HTLS), que permitem elevar a capacidade de corrente sem substituir toda a infraestrutura.
Na avaliação da EPE, essas tecnologias podem ser decisivas para encaixar a nova onda de data centers e cargas associadas à economia digital em um cenário de forte pressão por capacidade de transmissão, especialmente nos principais polos econômicos do País. “Tais soluções inovadoras são potencialmente interessantes, porque podem propiciar o atendimento de grandes cargas no curto/médio prazo”, explicou a EPE.
Os próximos meses serão decisivos para o desdobramento dos projetos apresentados desde a vigência do Redata e para a definição de quais empreendimentos conseguirão superar as exigências técnicas, regulatórias e econômicas para se conectar ao Sistema Interligado Nacional.



