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"África exige novo olhar do setor privado", diz Lula

Presidente destaca potencial econômico do continente africano e defende ampliação das parcerias com Moçambique

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante o encerramento do encontro empresarial Brasil–Moçambique. Polana Serena Hotel – Maputo (Moçambique) Foto: Ricardo Stuckert / PR (Foto: Ricardo Stuckert)

247 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a África deve ocupar um papel estratégico nas decisões do setor privado brasileiro, ao participar nesta segunda-feira (24/11) do encerramento do encontro empresarial Brasil-Moçambique, em Maputo. A informação é da Agência Gov, via Planalto.

A agenda compôs uma série de compromissos de Lula pelo continente africano, que incluiu a Cúpula do G20, reuniões com líderes de seis países, participação no Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul (Ibas) e a assinatura de nove atos de cooperação com o presidente moçambicano, Daniel Chapo.

Lula defende reaproximação e diz que o Brasil “deve muito ao continente africano”

Durante o encontro com empresários, Lula afirmou que é urgente reverter o afastamento entre os dois países. “Há alguns anos, nosso comércio com Moçambique foi de quase US$ 170 milhões. Em 2024, somente 40 milhões. Nossa pauta, que já incluiu aviões, hoje está centrada em poucos produtos, a maioria agrícola: exportamos frango e compramos tabaco”, disse o presidente Lula.

O chefe de Estado ressaltou ainda que a política externa voltada ao continente africano tem dimensões históricas, culturais e civilizatórias. “Fazer visitas à África é pagar uma dívida histórica que não é mensurada em dinheiro. Uma dívida de 350 anos de escravidão que o Brasil deve ao povo africano o seu jeito de ser, grande parte da sua cultura, a sua cor, o seu sorriso, as suas virtudes e os seus defeitos. Nós devemos muito ao continente africano. E você não pode pagar isso em dinheiro. Você tem que pagar com amizade, com solidariedade e com transferência de tecnologia”, disse Lula.

Setor privado precisa olhar para o dinamismo africano, afirma presidente

Lula citou dados recentes para mostrar que o Brasil tem exportado mais para países menores do continente do que para Moçambique.

 “Em 2024, o Brasil exportou mais para a Tanzânia (US$ 49,4 milhões) ou para Serra Leoa (US$ 62,5 milhões) do que para Moçambique (US$ 37,8 milhões)”, disse o presidente Lula, ao defender que o setor privado precisa enxergar o dinamismo africano com outra perspectiva.

O presidente reforçou que parte da delegação brasileira que o acompanha representa empresas de alto potencial tecnológico e produtivo. “Fiz questão de vir a Moçambique acompanhado de uma delegação de ministros e de empresários brasileiros das mais diversas áreas. Temos aqui conosco hoje algumas das nossas maiores empresas, que representam o melhor da capacidade produtiva, científica e tecnológica do Brasil”, disse Lula.

Brasil recupera capacidade de financiar comércio exterior

Lula afirmou que o governo está reposicionando a política de promoção comercial e retomando os mecanismos de financiamento ao comércio exterior. “O Brasil está recuperando a capacidade do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social de financiar a internacionalização da economia brasileira. O Brasil é plenamente consciente do enorme potencial econômico de Moçambique e do continente africano. A África é uma das regiões que mais cresce no mundo”, disse o presidente Lula.

Ele também destacou a importância da Zona de Livre Comércio Continental Africana, em vigor desde 2021.

 “A aposta da África na integração e no livre comércio é uma lição para o mundo neste momento em que algumas economias optam pelo protecionismo e pelo unilateralismo”, disse Lula.

Diversificação, sinergias e novos mercados

O presidente afirmou que o Brasil tem diversificado mercados para enfrentar decisões políticas unilaterais que contrariam o multilateralismo. “É a melhor reação para enfrentar unilaterais e pressões injustas e ilegais. Em vez de se retrair, nosso comércio com o mundo aumentou em 2025. Nenhum país pode depender de poucos mercados ou de poucos produtos”, disse o presidente Lula.

Ele acrescentou que o país abriu 486 novos mercados em dois anos e meio. “Queremos diversificar exportações, gerar emprego e integrar nossas cadeias produtivas junto aos nossos parceiros do Sul Global. É possível explorar sinergias entre a Zona de Livre Comércio Africana e o Mercosul”, disse Lula.

Lula destacou ainda o interesse brasileiro em ampliar relações com Moçambique. “O Brasil busca vender e comprar mais de Moçambique e retomar investimento no país. A ratificação do Acordo de Cooperação e Facilitação de Investimentos, que assinamos em 2015, será um importante passo nesse sentido”, disse o presidente.

Prioridades em energia, agricultura, saúde e educação

O presidente avaliou que Moçambique e Brasil têm amplo potencial em áreas estratégicas. “Vejo enorme potencial para avançar conjuntamente em energia, biocombustíveis, saúde, agricultura, defesa e tecnologia. O Brasil tem tudo para contribuir com a segurança alimentar de Moçambique. A savana moçambicana é similar ao cerrado brasileiro. Com tecnologia adequada, é possível ampliar a produtividade da terra sem comprometer o meio ambiente”, disse Lula.

Lula também anunciou ações brasileiras no campo educacional. “O Ministério da Educação e a Agência Brasileira de Cooperação oferecerão, em 2026, até 80 vagas para curso de formação de formadores em ciências agrárias e até 400 vagas para curso técnico em agropecuária a colaboradores moçambicanos”, disse o presidente Lula.

Outras áreas sensíveis também foram citadas. “Queremos voltar a apoiar os sistemas de saúde em Moçambique, conjugando cooperação técnica e investimentos privados. Na área de energia, assim como a América do Sul, o continente africano possui importantes reservas de minerais críticos, como lítio e cobalto, que desempenharão papel estratégico na transição verde”, disse Lula.

Exploração mineral deve respeitar soberania, diz Lula

O presidente concluiu o discurso defendendo que países africanos tenham autonomia sobre suas riquezas naturais. “A cooperação internacional nessa matéria é fundamental. Mas é igualmente urgente que cada país seja capaz de definir as necessidades e modelos de exploração de suas riquezas minerais de forma soberana. E o Brasil está disposto a colaborar e nós temos que tomar a decisão. Não vamos ser exportadores dos minerais críticos. Se quiser, vai ter que industrializar o nosso país para que o nosso país possa ganhar o dinheiro”, disse o presidente Lula.

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