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Quem é Doca, chefe do CV que driblou megaoperação no Rio

Edgar Alves Andrade era o principal alvo da ação que resultou em uma chacina policial

Doca, principal líder do Comando Vermelho em liberdade (Foto: Divulgação)

247 - A megaoperação realizada pelas polícias do Rio de Janeiro nos complexos da Penha e do Alemão, considerada a mais letal da história do país, tinha um alvo principal: Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca, apontado como o número dois do Comando Vermelho (CV). A ação ocorreu na terça-feira (28) e tinha como objetivo capturar o criminoso mais procurado do Estado. Apesar do cerco, ele conseguiu escapar.

De acordo com informações divulgadas pela BBC News Brasil, Doca é considerado o principal líder do CV em liberdade. Na hierarquia da facção, está logo abaixo de Marcinho VP e Fernandinho Beira-Mar, ambos presos em penitenciárias federais. A polícia acredita que o criminoso utilizou “soldados” do tráfico para criar uma barreira e garantir sua fuga. O Disque Denúncia oferece R$ 100 mil por informações que levem à sua captura.

“O Doca nós não conseguimos pegar nesse primeiro momento porque é uma estratégia que eles fazem. Ele bota os soldados como mais uma barreira para facilitar a sua fuga, e isso gera uma grande dificuldade”, explicou Victor Santos, secretário de Segurança Pública do Rio, em entrevista à GloboNews.

Ascensão no crime e histórico violento

Nascido em 1970, em Caiçara — município cuja localização é incerta entre o Rio Grande do Sul e a Paraíba —, Doca tem um histórico criminal de pelo menos duas décadas. Foi preso em flagrante em 2007 por porte ilegal de arma e tráfico de drogas, na Vila da Penha, e chegou a afirmar à polícia que era militar. Após conseguir progressão de pena, fugiu do sistema prisional e passou a ocupar posições estratégicas dentro do Comando Vermelho.

Com influência crescente, Doca passou a administrar recursos da facção e ordenar execuções. Uma das vítimas foi André Lyra de Oliveira, conhecido como Lápis, assassinado em setembro de 2021 no Quitungo, zona norte da capital. A motivação, segundo investigações, foi uma disputa territorial com o Terceiro Comando da Capital (TCP) e milicianos que tentavam assumir o controle do tráfico na região.

Expansão e poder dentro do Comando Vermelho

Entre 2022 e 2023, sob sua liderança, o Comando Vermelho ampliou em 8,4% as áreas sob domínio na Região Metropolitana do Rio, retomando a hegemonia perdida para as milícias. Atualmente, a facção controla cerca de 51,9% das zonas dominadas por grupos armados.

Doca também foi identificado como mandante de uma execução por engano em que criminosos confundiram Perseu, morador local, com o filho de um miliciano. Após descobrir o erro, ele teria ordenado a morte dos próprios executores.

A longa ficha criminal de 189 páginas

A ficha policial de Doca soma 176 anotações, com acusações que vão de tráfico e roubo de cargas a homicídio e tortura. Em um dos casos mais brutais, ele teria autorizado o assassinato de três crianças — Lucas Matheus da Silva, Alexandre da Silva e Fernando Henrique Ribeiro — em Belford Roxo, em 2020, após um desentendimento com traficantes por causa de um passarinho.

Além dos crimes tradicionais, Doca também é investigado por introduzir novas tecnologias no crime organizado. Ele teria adquirido drones lançadores de granadas, usados pela facção em ataques a milicianos e, recentemente, contra as forças policiais durante a operação de outubro.

Relações com o poder e o caso TH Joias

As investigações da Polícia Federal e da Polícia Civil do Rio apontam que Doca mantinha ligações com o deputado estadual Tiego Raimundo dos Santos, conhecido como TH Joias. O parlamentar, preso em 2025, é acusado de tráfico de drogas, intermediação de armas e lavagem de dinheiro por meio da venda de joias e bens de luxo. Em mensagens apreendidas, TH Joias relatou ter se reunido com Doca e outros chefes do tráfico para “fechar negócios” em local não identificado.

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