Reconstrução em Rio Bonito do Iguaçu avança um mês após tornado com apoio federal
Cidade paranaense recebe mais de R$ 50 milhões para recuperar serviços, acolher famílias e retomar rotina
247 - A mobilização que marcou o último mês em Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, segue transformando o cenário de devastação deixado pelo tornado de 7 de novembro. Desde os primeiros dias após o desastre, equipes federais atuam em saúde, assistência social, defesa civil e reconstrução.
No segundo dia após a tragédia, a articulação federal já era visível — com o envio de profissionais, recursos e estrutura para atender a população. Com 14 mil habitantes, o município ainda enfrenta os impactos emocionais e materiais do evento climático extremo, mas encontra apoio em frentes que somam mais de R$ 50 milhões destinados à recuperação das áreas atingidas.
A faxineira Rosalina Gonçalves Rodrigues, 44 anos, viveu momentos de desespero ao lado das três filhas e do neto Pietro, de um ano. O relato resume a intensidade do episódio: "começou aquele barulho e minha filha pegou o Pietro, meu neto de um aninho, e puxou para o lado em que eu estava, perto do banheiro. Nós nos juntamos todas, nos abraçamos e oramos, sempre protegendo o Pietro. Dizem que durou 40 segundos, mas parecia um ano". Hoje, diante dos escombros que restaram de sua casa, ela tenta reorganizar a vida com esperança renovada.
Esse sentimento é estimulado pela presença contínua do governo federal desde 8 de novembro, quando a ministra Gleisi Hoffmann (PT), da Secretaria de Relações Institucionais, visitou a cidade e iniciou a coordenação integrada das ações federais. Já no dia 11, dois planos de trabalho haviam sido aprovados, somando R$ 25 milhões para reparar infraestruturas públicas essenciais. Uma semana depois, o investimento superava R$ 44 milhões. Segundo o coordenador das iniciativas federais na região, Josias Lesch, o montante final ultrapassa R$ 50 milhões. “Planilhado pelos ministérios, principalmente o da Integração e do Desenvolvimento Regional, são R$ 45 milhões, mais a contribuição de Itaipu Binacional. São recursos para reconstruir escola, ginásio, centro cultural, rodoviária e ajuda humanitária. Um valor grande foi destinado à limpeza e retirada de escombros e lixo, mais de R$ 8 milhões”.
Lesch destaca ainda o esforço conjunto: “o Governo do Brasil coloca esse dinheiro na recuperação do município, faz a articulação dos ministérios em campo — mais de 90 profissionais — e com as esferas municipal e estadual, mas também com movimentos da sociedade civil organizada presentes no território. E o estado do Paraná faz a parte das moradias e outras ajudas”, explicou.
Acolhimento e saúde mental como prioridade
Uma das frentes mais sensíveis é o atendimento psicológico. O tornado desencadeou traumas profundos, ativados por ventos fortes, chuvas e até mudanças bruscas no clima. Rosalina e sua família foram acolhidas em um abrigo provisório montado em hotel da cidade. “Foi muito bom ir para o abrigo, pois ficamos mais confortáveis e à vontade. Lá a minha menina foi, logo nos primeiros dias, atendida por psicóloga, porque chorava muito e nem podia ver como estava a casa que começava a chorar”, relatou.
Priscila Leite, coordenadora da Força de Proteção do Sistema Único de Assistência Social, reforça os impactos emocionais prolongados: “O medo da mudança de clima, de que alguma situação se repita, pesadelos, dificuldade de dormir e de se alimentar são elementos que podem perdurar por mais tempo”.
Além do acolhimento, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social destinou recursos emergenciais. Em menos de uma semana, foram transferidos R$ 504 mil para custear alojamentos temporários. Houve também antecipação de benefícios sociais, previdenciários e trabalhistas, como Saque FGTS, Bolsa Família, BPC e parcelas extras do Seguro-Desemprego.
Saúde e atendimento emergencial
A Força Nacional do Sistema Único de Saúde chegou a mobilizar 50 profissionais especializados. Duas carretas do programa Agora Tem Especialistas foram enviadas à cidade, ampliando consultas e garantindo atendimento imediato a feridos.
O médico Leonardo Gomes recorda a intensidade dos primeiros dias: “Chegamos nas primeiras horas. Houve grande destruição de casas, mercados, comércio e equipamentos de saúde. Nossos voluntários fizeram atendimentos iniciais de pessoas que se cortaram, tiveram fraturas, foram feridas com telhas, pedaços de tijolos e materiais de construção. Algumas também foram vítimas de mordidas de animais soltos, por isso reforçamos a vacinação”.
Ao avançar da fase emergencial, a equipe voltou-se ao suporte emocional: “A escuta foi muito importante na resposta à tragédia”, observou o médico.
Itaipu e Defesa Civil reforçam esforços
Itaipu Binacional, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, também atuou desde o princípio. Suas equipes participaram de visitas domiciliares, apoio psicossocial e elaboração de projetos de reconstrução. Duas tendas montadas pela empresa servem como sede provisória do Governo do Brasil no centro cívico.
O diretor Carlos Carboni explicou: “A atuação integrada entre a empresa e diversos órgãos públicos tem contribuído para organizar a resposta emergencial e acelerar o processo de reconstrução em Rio Bonito do Iguaçu”.
A Defesa Civil Nacional, ligada ao Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, utilizou imagens de satélite para dimensionar os danos e auxiliar no planejamento. “O município está avançando com o apoio federal. Algumas ações já ocorreram, como o restabelecimento de vários serviços e a liberação de vias públicas, já todas desobstruídas”, afirmou o tenente Josué Alves dos Santos.
Prefeitura destaca articulação com o governo federal
O prefeito Sezar Bovino ressalta o trabalho conjunto como fundamental. “Logo no dia seguinte recebemos a ministra Gleisi, uma das primeiras a chegar em Rio Bonito. Ela conhece a cidade como a palma da mão e veio ver o que precisava ser feito. A gente planejou, ela coordenou, deu a voz para pedirmos o que a gente necessitava e deixou o governo federal à disposição”.
Ele também elogiou a atuação nas áreas de saúde e assistência social: “Pedi para que todos trabalhassem em conjunto e que viessem com o interesse de reconstruir. E essa é a gratidão eterna que tenho com todos que estão aqui ajudando a reconstruir Rio Bonito Iguaçu”.
Enquanto máquinas retiram entulho e estruturas começam a ser refeitas, moradores como Rosalina buscam reconstruir seus lares e retomar antigos planos. Entre escombros e novas esperanças, Rio Bonito do Iguaçu vê a dignidade ser restabelecida passo a passo, apoiada por uma rede ampla de ações emergenciais e solidariedade.


