Nathalia Urban por Milenna Saraiva

Esta seção é dedicada à memória da jornalista Nathalia Urban, internacionalista e pioneira do Sul Global

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Beijing prepara centro de computação espacial 800 km acima da Terra

Projeto ambicioso aposta em satélites de alta capacidade para criar o primeiro data center orbital chinês

Data center (Foto: Divulgação)

247 - Um instituto de Pequim anunciou que vai iniciar a construção do primeiro centro de computação espacial da China, projetado para operar a cerca de 800 quilômetros acima da Terra. A informação foi publicada originalmente pelo jornal China Daily. O plano prevê o lançamento de satélites experimentais de alta performance no fim de 2025 ou início de 2026, marcando o início da criação de uma rede de data centers orbitais.

Segundo os pesquisadores responsáveis, os data centers convencionais estão próximos do limite físico de expansão, especialmente por causa do alto consumo de energia, da necessidade de áreas extensas e dos custos elevados de refrigeração. 

No espaço, porém, os desafios mudam: há energia solar abundante e contínua, e o vácuo cósmico — com temperaturas próximas a –270 °C — permite resfriamento natural altamente eficiente, reduzindo drasticamente o gasto energético.

Por que a China aposta na computação espacial

A explosão da demanda por processamento, impulsionada principalmente pela inteligência artificial, pressiona data centers terrestres e amplia o impacto ambiental. A computação orbital surge como saída para essa crise energética. Com energia solar permanente e resfriamento natural, sistemas instalados em órbita podem operar de forma mais limpa e eficiente do que qualquer instalação em solo.

A iniciativa também posiciona a China como pioneira em um setor tecnológico emergente. Embora projetos nos Estados Unidos e na Europa já tenham explorado computação espacial em menor escala, a proposta chinesa mira uma constelação de satélites capaz de funcionar como um supercomputador distribuído no espaço.

O que já está em operação

Em maio de 2025, a China lançou os primeiros 12 satélites de uma constelação que deve chegar a cerca de 2.800 unidades. Chamado de Constelação de Computação Três-Corpos, o sistema utiliza satélites equipados com módulos de inteligência artificial, comunicação intersatelital de altíssima velocidade — chegando a 100 gigabits por segundo — e hardware capaz de processar grandes volumes de dados diretamente na órbita terrestre.

Quando concluída, a constelação poderá atingir níveis de computação da ordem da escala, superando o desempenho de muitos supercomputadores terrestres. Além disso, a arquitetura distribuída permitirá que dados coletados no espaço sejam processados sem retorno imediato à Terra, acelerando aplicações em sensoriamento remoto, monitoramento climático, telecomunicações e sistemas de IA.

Uma nova fronteira tecnológica — e novos riscos

Apesar do potencial transformador, especialistas alertam que o projeto enfrenta desafios. O custo de lançamento e manutenção de milhares de satélites é elevado, e questões como segurança de dados, governança da infraestrutura orbital e riscos de colisão com detritos espaciais ainda carecem de respostas claras. Além disso, a forte dependência de sistemas em órbita cria vulnerabilidades que não existem em centros de dados terrestres.

O significado estratégico

Se bem-sucedido, o projeto pode inaugurar uma nova era tecnológica: a computação espacial. A China se antecipa a uma tendência global que, segundo pesquisadores, pode redefinir onde e como a infraestrutura digital será construída nas próximas décadas. Em vez de ocupar grandes áreas e consumir quantidades gigantescas de energia em solo, os futuros data centers podem operar silenciosamente acima da atmosfera, movidos pela luz do sol e refrigerados pelo vazio do espaço.

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