Nathalia Urban por Milenna Saraiva

Esta seção é dedicada à memória da jornalista Nathalia Urban, internacionalista e pioneira do Sul Global

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Dilma envia discurso à Cúpula Popular do Brics

De acordo com a presidenta do Banco do BRICS, “o uso de tarifas e as sanções” estão servindo “como instrumentos de subordinação política” no cenário global

A ex-presidenta da República e atual presidente do Banco do BRICS, Dilma Rousseff, discursa por videoconferência na 5ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres - 29 de setembro de 2025 (Foto: Reprodução/YT)

247 - A presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), Dilma Rousseff, enviou uma mensagem à Cúpula Popular do BRICS e afirmou que o Brasil sediará um “evento histórico”. Ela fez um alerta contra o “surgimento do unilateralismo”, sem mencionar os Estados Unidos, do presidente Donald Trump.

De acordo com a presidenta do Banco do BRICS, “o uso de tarifas e as sanções” estão servindo “como instrumentos de subordinação política” no cenário internacional. “O sistema financeiro permanece assimétrico. Por isso que o BRICS e o NDB são necessários”, continuou Dilma, em recado a setores como o “Conselho Civil Popular do BRICS, representantes de movimentos populares, sindicatos e universidades”. 

Entre os dias 1 a 4 de dezembro, o Rio sediará a Cúpula Popular dos Brics. Esta é a segunda atividade oficial do Conselho Civil Popular do Brics, criado em 2024 na Rússia, para promover o diálogo entre atores da sociedade civil e governos dos países do bloco. A primeira foi realizada em julho, também no Rio.

A programação na capital reúne palestras sobre cooperação econômica, disputas hegemônicas e reconfiguração geopolítica, caminhos para o desenvolvimento do Sul Global e debates. Dentre os participantes do evento, está Dilma Rousseff, o embaixador Maurício Carvalho Lyrio e o subsecretário de Finanças Internacionais e Cooperação Econômica do Ministério da Fazenda, Antônio Freitas, um dos principais representantes do país nas negociações financeiras e econômicas no Brics e no G20.

Em sua mensagem, Dilma destacou a importância do “Conselho Civil Popular, formalizado na declaração de Kazan em 2024”. “Representa uma conquista extraordinária”. 

A presidenta do NDB também afirmou que o mundo atual precisa enfrentar alguns “desafios”. “O mundo está mais fragmentado, mais desigual”, disse ela, complementando que o evento “consagra a participação da sociedade civil organizada na construção de nossa cooperação”.

Mais detalhes

A fatia do BRICS no Produto Interno Bruto mundial, calculado em paridade de poder de compra (PPP) e a preços correntes, alcançou cerca de 39% em 2023. No comércio exterior, os países integrantes do grupo respondem por 24% das transações globais.

Dados divulgados no site oficial do BRICS indicam que o bloco reúne 48,5% da população mundial e ocupa 36% da área territorial do planeta. Ainda segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), o grupo concentra aproximadamente 72% das reservas globais de minerais de terras raras, 43,6% da produção mundial de petróleo, 36% da produção de gás natural e 78,2% da produção de carvão mineral.

  • Brasil

A corrente de comércio entre o Brasil e os demais membros do BRICS somou USD 210 bilhões em 2024, o equivalente a 35% do total brasileiro. As exportações destinadas ao grupo atingiram USD 121 bilhões, correspondendo a 36% do total exportado pelo país no ano, conforme apontou a ComexVis. Já as importações provenientes dos membros do bloco somaram USD 88 bilhões, o que representa 34% das compras externas do Brasil em 2024.

O governo brasileiro assumiu a presidência rotativa do BRICS em janeiro, com mandato de um ano. Sob o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, a Presidência Brasileira em 2025 terá duas frentes prioritárias: (i) Cooperação do Sul Global e (ii) Parcerias do BRICS para o Desenvolvimento Social, Econômico e Ambiental. Dentro dessas diretrizes, o Brasil propõe orientar os esforços políticos do bloco para seis áreas centrais:

A – Saúde Global: estimular iniciativas práticas de cooperação entre os países do grupo voltadas ao desenvolvimento sustentável e inclusivo, especialmente no setor de saúde, assegurando acesso a medicamentos e vacinas; lançar a Parceria BRICS para a Eliminação das Doenças Socialmente Determinadas e das Doenças Tropicais Negligenciadas.

B – Comércio, Investimentos e Finanças: tratar da reforma e governança dos mercados financeiros, do uso de moedas locais e de instrumentos e plataformas de pagamento, com o objetivo de ampliar e diversificar os fluxos comerciais, financeiros e de investimentos; avançar na Parceria para a Nova Revolução Industrial e implementar a Estratégia 2030 para a Parceria Econômica dos BRICS.

C – Mudança do Clima: estabelecer uma Agenda de Liderança Climática do BRICS, incluindo uma Declaração-Quadro dos Líderes sobre Financiamento Climático destinada a orientar transformações estruturais no sistema financeiro.

D – Governança da Inteligência Artificial: promover uma governança internacional responsável e inclusiva da inteligência artificial, de modo a aproveitar o potencial da tecnologia para o desenvolvimento social, econômico e ambiental.

E – Arquitetura Multilateral de Paz e Segurança: impulsionar uma revisão abrangente da arquitetura multilateral de paz e segurança, garantindo maior efetividade na prevenção de conflitos, na contenção de crises humanitárias e na redução do risco de novas instabilidades; reconstruir a confiança, fortalecer o entendimento entre países, retomar a diplomacia e incentivar soluções pacíficas para controvérsias.

F – Desenvolvimento Institucional: aprimorar a estrutura organizacional do BRICS e fortalecer sua coesão interna.

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