Turismo no BRICS: por que os países do grupo estão se tornando destinos populares para viagens?
Em 10 anos, o mercado turístico dos países do BRICS pode dobrar
Por Svetlana Khristoforova (TV BRICS) - Turistas estrangeiros trouxeram receita recorde para o Brasil em 2025, a Indonésia registrou um aumento de 10% no fluxo turístico em relação ao ano passado, a China está experimentando um boom no turismo russo após a isenção de vistos para os russos, enquanto a Rússia está desenvolvendo a direção de viagens de negócios. Por que os países do BRICS estão se tornando um destino de viagem popular e como isso afetará a economia, o meio ambiente e o desenvolvimento social das regiões? Brasil - Os parques nacionais da Amazônia, os deslumbrantes cânions e montanhas de Santa Catarina, o maior sistema de quedas d'água do mundo, as Cataratas do Iguaçu, e, claro, Rio de Janeiro com suas praias vibrantes e o famoso carnaval, fazem do Brasil um dos destinos mais desejados pelos turistas. De janeiro a setembro de 2025, turistas estrangeiros geraram um recorde de R$ 32,5 bilhões em receitas para o país, um aumento de 11,7% em relação ao mesmo período de 2024, conforme divulgado pelo Ministério do Turismo do Brasil. A maior parte dos gastos dos turistas foi com viagens pelo país, hospedagem, alimentação, entretenimento e compras. Segundo as estatísticas, a maioria dos viajantes era estrangeira. Isso é comprovado pelo fato de que, em 2025, o Brasil registrou um novo recorde histórico no número de chegadas de turistas internacionais. Nos primeiros nove meses do ano, 7.099.237 estrangeiros visitaram o país, o que representa um aumento de 45% em relação ao mesmo período do ano anterior. Em uma entrevista exclusiva ao TV BRICS, o professor da Universidade Minzu da China, Mark Howard Levin, destacou o aumento da popularidade do Brasil entre os turistas chineses. "Estamos vendo grandes esforços para desenvolver o turismo e a infraestrutura no Brasil. O número de turistas chineses aumentou 80% de 2023 a 2024", afirmou Levin.
Indonésia - A Indonésia também registrou recordes no setor de turismo. Nos primeiros nove meses de 2025, o país recebeu 11,43 milhões de turistas, o que representa um aumento de 10,22% em relação ao mesmo período do ano passado. Somente em setembro, 1,39 milhão de estrangeiros visitaram a Indonésia. O destino tem ganhado rapidamente popularidade entre os russos. De janeiro a junho de 2025, a Indonésia recebeu 117.121 turistas russos, um aumento de 35,4% em comparação com o mesmo período do ano anterior.
China - Um dos destinos mais procurados pelos turistas russos no outono de 2025 foi a China. Após a implementação de um regime de isenção de visto experimental para os russos, o país se aproximou da popularidade da Tailândia. A demanda dos viajantes russos por pacotes turísticos para a China aumentou entre 50% e 100%. Os roteiros de turismo cultural (Pequim e Xangai), turismo gastronômico, ecoturismo, viagens a grandes feiras internacionais e eventos de negócios se tornaram altamente procurados. "A expansão do regime de isenção de visto para períodos cada vez mais longos é uma espécie de convite para os turistas. Além disso, a China oferece uma grande diversidade – desde programas culturais, especialmente nas regiões habitadas por minorias étnicas, até o turismo de inverno, o 'turismo vermelho', e muito mais. O crescimento da indústria do turismo chinesa também é impulsionado pelo aumento no número de novos aeroportos modernos e pela expansão da rede de trens de alta velocidade", destacou Mark Howard Levin.
Rússia - O turismo de negócios tem se consolidado como a principal área de desenvolvimento da indústria de hospitalidade na Rússia. A maioria dos estrangeiros visita o país para participar de fóruns e conferências, muitas das quais estão diretamente ou indiretamente ligadas às atividades do BRICS. A geografia desses eventos continua se expandindo, alcançando cidades como Murmansk, Sacalina, São Petersburgo e Moscou. Os organizadores frequentemente incorporam programas de turismo cultural e gastronômico, e as autoridades locais fazem de tudo para garantir que os participantes desses eventos queiram retornar, desta vez de forma privada, com amigos e familiares. "Gostaria de destacar que o turismo de negócios, na minha avaliação, representa mais da metade do fluxo turístico. Isso é uma consequência do desenvolvimento da parceria dentro do BRICS, que está se expandindo em diversas áreas e vai muito além do turismo", afirmou Lubarto Sartoyo, especialista em negócios internacionais, direito, TI e indústrias criativas, em entrevista exclusiva ao TV BRICS. Os hoteleiros russos também observam que, nos últimos dois anos, o perfil dos turistas mudou consideravelmente. Os principais visitantes agora vêm dos Emirados Árabes Unidos, China, Arábia Saudita, Irã e Índia. Esses não são picos eventuais, mas uma tendência estável, sustentada pelas mudanças na política de vistos da Rússia e pelo aumento no número de vistos eletrônicos.
Índia - Assim como muitos outros países do BRICS, a Índia está experimentando um aumento significativo no fluxo turístico. Em 2024, o país recebeu um número recorde de 9,9 milhões de turistas internacionais. Esse crescimento é fruto de uma série de esforços para o desenvolvimento da indústria do turismo. O governo indiano tem investido na participação em grandes feiras internacionais, no fortalecimento de parcerias com operadores turísticos, no lançamento de campanhas publicitárias e na melhoria da conectividade aérea por meio de voos diretos. "No caso da Índia, o turismo internacional dobrou nos últimos 10 anos – de 2014 a 2024. Esse crescimento pode ser explicado pela grande quantidade de locais históricos famosos e pela expansão da política de vistos eletrônicos, que são emitidos para cidadãos de quase 170 países em até 72 horas", explicou Mark Howard Levin.
África do Sul - De acordo com os resultados de 2024, o número de turistas estrangeiros que visitaram a África do Sul aumentou 5,1% em comparação com o ano anterior, totalizando 8,92 milhões de pessoas. A informação foi divulgada pelo Ministério do Turismo da república e repassada pela Xinhua News Agency, parceira da rede TV BRICS. A África do Sul oferece aos turistas uma ampla gama de opções de lazer, como safáris e mergulho com tubarões. O turismo de praia e a vinicultura também têm se destacado no país, atraindo turistas de diferentes partes do mundo.
Outros países do BRICS - De acordo com especialistas, o turismo internacional está crescendo no mundo, superando os níveis pré-pandemia. Apenas no primeiro semestre de 2025, quase 690 milhões de turistas realizaram viagens internacionais. Isso representa um aumento de 5%, ou 33 milhões de pessoas, em comparação com o ano anterior, informou a Organização Mundial do Turismo da ONU. Não é surpresa que muitos países do BRICS estejam apostando no turismo. Por exemplo, o Irã alocou mais de US$ 200 milhões (mais de R$ 1 trilhão) para o desenvolvimento do setor em 2024. "Uma grande parte desses recursos foi direcionada à expansão das opções de hospedagem para turistas, incluindo o aumento do número de hotéis cinco estrelas", observou Mark Howard Levin, em entrevista ao TV BRICS. O Egito pretende se tornar um dos líderes mundiais do setor até 2030, com a meta de receber até 30 milhões de turistas por ano. Na primeira metade de 2025, o país já adicionou 5 mil novos quartos de hotel e, até o final do ano, planeja abrir mais cerca de 18 mil. Os Emirados Árabes Unidos estão prontos para competir com o Egito. Dubai anunciou planos de aumentar o fluxo de turistas para 40 milhões até 2030. Nesse caso, a contribuição do setor de hospitalidade para a economia do país será de cerca de 400 bilhões de dirhams (R$ 540 bilhões). Sustentabilidade no Turismo - O turismo nos países do BRICS é altamente vantajoso não apenas do ponto de vista econômico, mas também como motor de crescimento tecnológico e melhoria ecológica "O turismo sustentável pode contribuir para a proteção do meio ambiente e para o uso mais eficiente dos recursos. Alguns hotéis utilizam energia solar ou eólica, incentivando o uso de transporte público", afirmou Mark Howard Levin. Representantes da ONU destacam que o objetivo do desenvolvimento do turismo global é envolver os turistas em um consumo consciente. "Cada vez mais pessoas estão refletindo sobre sua pegada de carbono, incluindo a pessoal. Turistas mais sensíveis ficam chocados com a duração dos voos ou com os enormes complexos turísticos que consomem muitos recursos. Alguns até sentem culpa. Isso, sem dúvida, é um motor poderoso para o desenvolvimento do turismo verde", explicou Lubarto Sartoyo. A ONU já lançou uma iniciativa global para reduzir o desperdício de plástico no turismo. Mais de 260 empresas e destinos em todo o mundo alcançaram resultados reais na eliminação do plástico descartável. Além disso, no âmbito da Declaração de Glasgow sobre Ações Climáticas no Turismo, mais de 900 organizações assumiram o compromisso de reduzir as emissões até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até 2050. O turismo sustentável também contribui para o desenvolvimento das cidades inteligentes, onde tecnologias digitais, inteligência artificial e big data trabalham em conjunto. Uma parte importante desses projetos é o transporte com baixa pegada de carbono. "Um exemplo simples: antes, em Moscou, não existia um trem expresso rápido do aeroporto para o centro da cidade. Agora, é possível viajar de forma rápida e confortável, com o tempo de viagem bem previsível. Ao chegar, o turista pode facilmente pegar um ônibus elétrico pontual ou, se for mais jovem, escolher um patinete elétrico. Essas tecnologias são uma grande vantagem, pois reduzem o estresse de quem não conhece a cidade", afirmou Lubarto Sartoyo. O líder incontestável entre os países do BRICS na disseminação do transporte elétrico é a China, com cerca de 22 milhões de carros elétricos, mais de 600 mil ônibus elétricos, 3,9 milhões de estações de recarga, das quais 1,2 milhão são rápidas. A Índia, a Rússia e o Brasil ainda possuem números significativamente menores de estações de recarga e transporte elétrico. No caso dos ônibus elétricos, além da China, a Índia (8.400), a África do Sul (2.200) e a Rússia (1.882) têm os maiores números. Na África do Sul, há 0,04 ônibus elétricos por habitante. Esses índices de implantação são considerados elevados pelos analistas. Outros países do BRICS também estão desenvolvendo transporte elétrico. Em abril de 2025, os Emirados Árabes Unidos testaram um ônibus elétrico de nova geração com câmeras digitais no lugar dos espelhos, uma tela projetada no para-brisa e sistemas de segurança inteligentes. O ônibus operará na rota que conecta as estações de metrô aos principais pontos turísticos. No entanto, especialistas afirmam que o transporte elétrico ecológico e o compartilhamento de bicicletas não são tudo o que os turistas esperam das cidades modernas. Muitos gostariam de Wi-Fi gratuito nas ruas, horários de transporte informativos, pagamento sem contato e outros serviços necessários para uma viagem confortável, proporcionando a sensação de estar em casa. As cidades e regiões que implementam essas tecnologias automaticamente se tornarão mais atraentes para os turistas.
Turismo e Cultura - O turismo nos países do BRICS pode, ainda, contribuir significativamente para o intercâmbio cultural. "Apesar das diferenças em distâncias, níveis de renda e códigos culturais, o estreitamento dos povos seria definitivamente favorecido pela facilitação dos regimes de visto, pela criação de serviços digitais convenientes e pelo aumento da atividade informativa", afirmou Dmitri Polikanov, vice-chefe da Rossotrudnichestvo. Segundo especialistas, o turismo pode se tornar uma ferramenta eficaz de diplomacia popular, ajudando os países do BRICS não só a fortalecerem seus laços econômicos, mas também a criarem uma imagem positiva uns dos outros. O turismo já está se consolidando como um setor de desenvolvimento sustentável nos países do BRICS. Nesse sentido, os países discutem a possibilidade de atrair nômades digitais (profissionais que trabalham remotamente e viajam pelo mundo), além de desenvolverem programas para melhorar a infraestrutura turística. Na reunião dos ministros de turismo do BRICS, em maio de 2025, foi aprovada a Declaração Cerrado sobre o Desenvolvimento do Turismo Sustentável. O documento define três áreas principais de cooperação: Desenvolvimento do turismo regional: Inclui a melhoria da infraestrutura, a expansão das ofertas turísticas e a capacitação de recursos humanos. Promoção do turismo sustentável e regenerativo: Propõe o intercâmbio de experiências, a implementação de práticas verdes e o apoio às comunidades locais. Atração de nômades digitais: Recomenda-se simplificar os regimes de visto, melhorar a qualidade da internet e criar condições para o trabalho remoto. Desafios e Riscos - Grandes projetos conjuntos do BRICS no setor de turismo, segundo especialistas, são questões para o futuro próximo. No entanto, já é claro que a indústria do turismo nos países do grupo é uma das mais promissoras. "A indústria do turismo nos países do BRICS está crescendo e continuará a crescer. Atualmente, ela é avaliada em US$ 5,4 trilhões (aproximadamente R$ 29 trilhões) e tem um enorme potencial de crescimento, podendo quase dobrar até atingir US$ 8 a US$ 10 trilhões (R$ 42 a 53 trilhões) até 2035", afirmou Lubarto Sartoyo. As razões para esse crescimento são claras. A população nos países do BRICS está aumentando, e uma grande parte desse crescimento é composta por jovens ativos com nível de renda médio. Essa faixa etária é a base do turismo, tanto interno quanto internacional. Além disso, segundo os especialistas, a participação da população educada nos países do BRICS está crescendo, o que, por sua vez, impulsiona o desenvolvimento do turismo cultural e educacional. No entanto, os países do BRICS podem enfrentar alguns desafios no caminho para o desenvolvimento do setor de turismo. Por exemplo, surgem dificuldades relacionadas à infraestrutura, como a necessidade de desenvolver estradas, hotéis e aeroportos. Nem todos os países possuem os recursos necessários para isso. À medida que mais países entram no mercado turístico lucrativo, a concorrência cresce, tornando os turistas mais exigentes. Isso significa que, apesar do grande potencial do setor de turismo nos países do BRICS, será necessário adotar uma abordagem integrada, com o desenvolvimento de programas conjuntos, capacitação de pessoal, modernização de tecnologias e melhorias na infraestrutura urbana. Por isso, serão necessários investimentos consideráveis.



