Nathalia Urban por Milenna Saraiva

Esta seção é dedicada à memória da jornalista Nathalia Urban, internacionalista e pioneira do Sul Global

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Tecnologias climáticas acessíveis dominam debates da Índia na COP 30

País destaca urgência em reduzir barreiras e ampliar financiamento climático para nações em desenvolvimento

Fotografia oficial da Cúpula do Clima (COP30) (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

247 - A abertura da COP 30, em Belém, foi marcada por uma defesa firme da Índia em favor de condições mais justas no acesso a tecnologias climáticas. O país discursou em nome do grupo BASIC — formado por Brasil, África do Sul, Índia e China — e também pelos Países em Desenvolvimento com Pensamento Similar (LMDC).

Segundo a agência indiana ANI, as declarações reforçaram princípios centrais da Convenção do Clima, entre eles equidade, responsabilidades comuns porém diferenciadas e capacidades respectivas. O governo indiano agradeceu os preparativos conduzidos pela presidência brasileira da conferência e reiterou apoio ao multilateralismo, especialmente diante do cenário geopolítico atual.

Nos discursos, a Índia salientou que a transição ecológica precisa ser acompanhada de “acesso confiável, acessível e equitativo às tecnologias climáticas”, defendendo um resultado robusto para o Programa de Implementação de Tecnologias. O país alertou que barreiras de propriedade intelectual e entraves comerciais não podem impedir a transferência de conhecimento para nações em desenvolvimento.

Ao lembrar a década desde a assinatura do Acordo de Paris, Nova Délhi chamou atenção para a insuficiência dos fluxos de financiamento climático, classificados como o maior obstáculo para elevar a ambição global. O governo cobrou uma definição clara e universal de “financiamento climático”, assim como o fortalecimento dos recursos públicos destinados à adaptação, conforme estabelece o Artigo 9.1 do acordo. Também destacou que o aporte atual para adaptação precisa ser multiplicado por quinze para atender às demandas dos países mais vulneráveis.

A delegação indiana insistiu que a adaptação deve ser tratada como prioridade urgente, especialmente para populações que menos contribuíram para o aquecimento global, mas enfrentam impactos cada vez mais severos. Por isso, defendeu avanços concretos na Meta Global de Adaptação (GGA) e apoio ao Programa de Trabalho Emirados–Belém, além do lançamento do Roteiro de Adaptação de Baku.

Outro ponto enfatizado foi a necessidade de que a transição energética seja justa, garantindo que “nenhuma parcela da sociedade fique para trás”. A Índia defendeu que o programa de transições justas da UNFCCC seja orientado para resultados práticos, reduzindo desigualdades entre Norte e Sul globais.

Em tom crítico, o país alertou que medidas unilaterais de comércio relacionadas ao clima podem se transformar em práticas protecionistas, contrariando o espírito da Convenção e ameaçando a cooperação internacional.

BASIC e LMDC reforçaram, nos discursos conduzidos pela Índia, que a arquitetura do Acordo de Paris não deve ser alterada e que o princípio das responsabilidades comuns porém diferenciadas permanece como pilar do regime climático global. A delegação lembrou ainda a responsabilidade histórica dos países desenvolvidos, destacando que essas nações precisam atingir emissões líquidas zero mais cedo, ampliar investimentos em tecnologias de emissões negativas e cumprir compromissos de financiamento, transferência tecnológica e qualificação de países em desenvolvimento.

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