Base dos EUA no sul da Argentina? Visita de chefe do Comando Sul reforça temor de subordinação estratégica
"Base naval conjunta" foi anunciada ano passado por Milei e a ex-chefe do Comando Sul, Laura Richardson. Novo dono do cargo visita o país nesta semana
247 - O novo chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, almirante Alvin Holsey, inicia nesta semana uma visita à cidade argentina de Ushuaia, no extremo sul do continente, como parte de um esforço para fortalecer o projeto de uma “base naval conjunta” com o governo de Javier Milei, informa a agência Sputnik. A agenda oficial, que foge do padrão de autoridades estrangeiras que costumam permanecer em Buenos Aires, é vista por analistas como um passo significativo rumo à militarização da região — em meio à crescente disputa geopolítica com a China.
A instalação da base está prevista para a Base Naval Austral, localizada no canal de Beagle, uma área estratégica que conecta os oceanos Atlântico e Pacífico e serve de ponto logístico para operações na Antártica. Em abril de 2024, a então comandante do Comando Sul, Laura Richardson, esteve no local acompanhada de Milei, quando anunciaram a intenção conjunta de construir a base militar.
Para o doutor em Ciências Sociais Luciano Anzelini, ouvido pela Sputnik, a ida de Holsey a Ushuaia mostra que o Pentágono “está levando a sério” o projeto. Segundo ele, os EUA têm dado atenção redobrada a regiões antes negligenciadas, como o Ártico e a Antártica, destacadas em documentos recentes do Departamento de Defesa e da inteligência norte-americana.
“O Atlântico Sul, a projeção antártica e a natureza bioceânica da região desempenham um papel cada vez mais relevante, especialmente no contexto da disputa global com a China”, afirmou o especialista. Ele avalia que a crescente presença chinesa no Cone Sul preocupa Washington, enquanto a Argentina, segundo ele, se subordina a essa lógica geopolítica por conta de suas fragilidades econômicas.
Apesar do discurso oficial, o projeto da base naval ainda não saiu do papel. Moisés Solorza, analista internacional de Ushuaia, lembra que, quase um ano após o anúncio da parceria, nenhuma obra foi iniciada no local. Para ele, os cortes promovidos pelo governo Milei em projetos de infraestrutura explicam a estagnação.
Solorza também alerta para a atuação de empresas norte-americanas na região, como a LeoLabs, responsável por instalar em 2023 um radar em Tolhuin, cidade próxima a Ushuaia. A empresa é suspeita de fornecer dados estratégicos para os governos dos EUA e do Reino Unido.
A movimentação militar também envolve atores europeus. O especialista cita os exercícios com armamento real e drones conduzidos recentemente pelas Forças Armadas britânicas nas Ilhas Malvinas, e um novo acordo entre os governos do Chile e do Reino Unido para o desenvolvimento da indústria naval no sul chileno, como parte de uma disputa mais ampla pelo controle da região austral.



