Candidato de Trump é proclamado vencedor em eleição contestada com acusações de fraude
Trump interferiu na campanha eleitoral no país centro-americano
247 - A eleição presidencial em Honduras terminou sob forte contestação e com alertas sobre os riscos à democracia e à soberania popular, após semanas de atrasos, falhas técnicas e acusações de irregularidades. Nasry Asfura, candidato de direita associado diretamente ao apoio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi declarado vencedor em um pleito marcado por irregularidades na apuração.
Segundo a Reuters, a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) anunciou que Asfura obteve 40,3% dos votos, superando por margem estreita Salvador Nasralla, do Partido Liberal, que alcançou 39,5%. A candidata do partido governista LIBRE, Rixi Moncada, ficou em terceiro lugar. O resultado só foi confirmado mais de três semanas após a votação de 30 de novembro, em meio a um processo de apuração descrito pelas autoridades como caótico.
Os problemas técnicos no sistema eleitoral obrigaram a contagem manual de cerca de 15% das atas, envolvendo centenas de milhares de votos. O cenário foi agravado por protestos convocados pelo LIBRE, que classificou o processo como um golpe eleitoral. As manifestações chegaram a interromper a recontagem, ao impedir o acesso de funcionários ao prédio onde estavam armazenados os documentos de apuração.
Mesmo diante das disputas, o resultado foi validado por dois membros do conselho eleitoral e um suplente. O terceiro integrante, Marlon Ochoa, não apareceu no vídeo oficial que proclamou o vencedor, reforçando as críticas à legitimidade do processo.
Após a confirmação, Asfura se manifestou nas redes sociais. “Honduras: Estou pronto para governar. Não vou decepcioná-los”, escreveu em uma publicação no X. Ele deve assumir o cargo em 27 de janeiro, para um mandato entre 2026 e 2030.
A reação do principal adversário foi imediata. Salvador Nasralla rejeitou formalmente a decisão da CNE, afirmando que votos que deveriam ter sido contabilizados ficaram de fora. Ainda assim, pediu calma a seus apoiadores. “Não aceitarei um resultado baseado em omissões. A democracia não se encerra por cansaço, nem porque hoje é dia 24 — este é o Natal mais triste para o povo hondurenho”, declarou em coletiva em Tegucigalpa. Trata-se da terceira derrota de Nasralla em disputas presidenciais.
O presidente do Congresso hondurenho, Luis Redondo, também rejeitou o resultado. “Isso está completamente fora da lei. Não tem valor algum”, escreveu no X, aprofundando a crise política em torno da eleição.
O processo eleitoral foi fortemente marcado pela atuação direta de Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, que declarou apoio explícito a Asfura antes da votação. Em publicação na Truth Social, Trump o descreveu como o “único verdadeiro amigo da liberdade em Honduras” e pediu votos a seu favor. O presidente norte-americano também ameaçou cortar o apoio financeiro dos Estados Unidos ao país caso Asfura não vencesse e concedeu perdão ao ex-presidente Juan Orlando Hernández, do mesmo partido, que cumpria pena de 45 anos nos EUA por tráfico de drogas e crimes relacionados a armas.
Durante os atrasos na apuração, Trump voltou a intervir, levantando acusações de fraude sem apresentar provas e afirmando que haveria “consequências graves” caso resultados preliminares favoráveis a Asfura fossem alterados. Para especialistas citados pela Reuters, esse apoio faz parte de uma estratégia de Trump para moldar um bloco conservador na América Latina, ao lado de líderes como Nayib Bukele, de El Salvador, Javier Milei, da Argentina, e José Antonio Kast, do Chile.
Nasralla e o partido LIBRE classificaram publicamente as declarações do presidente dos Estados Unidos como interferência eleitoral. Em entrevista à Reuters no início de dezembro, o candidato liberal afirmou que a atuação de Trump nos momentos finais do processo prejudicou suas chances, levantando questionamentos sobre a autonomia democrática de Honduras diante da pressão externa.
Após o anúncio oficial, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, parabenizou Asfura. “Os Estados Unidos parabenizam o presidente eleito Asfura e esperam trabalhar com sua administração para promover prosperidade e segurança em nosso hemisfério”, escreveu no X, pedindo que todas as partes aceitem o resultado para garantir uma transição pacífica. Já o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Albert Ramdin, afirmou que a entidade “toma nota” do desfecho e divulgará um relatório nos próximos dias. “A Secretaria-Geral está ciente das dificuldades enfrentadas durante o processo eleitoral, reconhece o trabalho das instituições hondurenhas e lamenta que a recontagem completa dos votos ainda não tenha sido concluída”, disse.
Nascido em Tegucigalpa em 1958, em uma família de origem palestina, Asfura construiu carreira como administrador público, deputado e ministro, antes de se tornar prefeito da capital em 2013. Ganhou popularidade por obras de infraestrutura e adotou o apelido “Papi, a seu serviço”, utilizado também na campanha presidencial. Apesar da imagem de gestor pragmático, ele é investigado, junto a outros ex-integrantes de sua administração municipal, por esquemas de desvio de recursos e lavagem de dinheiro, acusações que nega e atribui a perseguição política.
Durante a campanha, ao ser questionado sobre alinhamento à extrema direita, Asfura afirmou: “Extremos não funcionam. Precisamos buscar equilíbrio (…) As pessoas não se importam se você é feio ou bonito, de esquerda ou de direita; o que elas querem são soluções”.
A proclamação de sua vitória, no entanto, ocorre sob a sombra de denúncias de fraude, interferência estrangeira e fragilidade institucional, ampliando o debate sobre os limites da soberania e os riscos para a democracia hondurenha em um contexto de forte pressão política externa.



