Candidatos à presidência do Chile realizam hoje debate final
A poucos dias do segundo turno, o confronto ganha peso decisivo
247 - O Chile volta suas atenções nesta terça-feira (9) para o debate organizado pela Associação Nacional de Televisão (Anatel), que colocará frente a frente José Antonio Kast, do Partido Republicano, e Jeannette Jara, representante de setores da esquerda, da social-democracia e da democracia cristã.
A agência Prensa Latina destaca que Jara chega ao embate impulsionada pela vitória no primeiro turno, enquanto Kast segue apontado como favorito nas pesquisas, apoiado por partidos da direita e da extrema-direita.
De acordo com o analista político Víctor Osorio, o cenário permanece aberto. “Acredito que esta eleição ainda está indefinida, embora todas as pesquisas mostrem claramente que Kast venceria”, afirmou à Prensa Latina. Ele chama atenção para a elevada taxa de eleitores indecisos em um pleito com voto obrigatório.
Osorio também analisa o desempenho de Kast nos poucos debates realizados até agora. Segundo ele, o candidato evitou confrontos diretos e, na última rodada organizada pela Associação de Emissoras, suas fragilidades ficaram expostas, inclusive em temas centrais de sua plataforma. A proposta de expulsar 350 mil migrantes, por exemplo, foi vista com ceticismo técnico. “A sua ideia de expulsar em massa 350 mil migrantes carece de fundamento técnico; trata-se de uma proposta populista”, declarou.
Outro ponto que gerou repercussão negativa, conforme lembra o jornalista, diz respeito à posição do candidato da extrema-direita sobre o indulto a condenados de Punta Peuco, envolvidos em graves violações de direitos humanos durante a ditadura (1973-1990). “O Chile assinou compromissos internacionais segundo os quais os crimes contra a humanidade não estão sujeitos a qualquer prazo de prescrição”, observou Osorio. Ele apontou ainda uma contradição nas propostas de Kast: enquanto o candidato promete firmeza no combate ao crime organizado, abre margem para o perdão de crimes hediondos cometidos no passado.
Para Osorio, a eleição de domingo coloca o país diante de dois projetos distintos de desenvolvimento. Jara defende um Estado forte, capaz de proteger a sociedade, garantir direitos sociais e promover redistribuição de renda. Já Kast apresenta uma agenda neoliberal que reduz o papel estatal e amplia garantias ao investimento privado, modelo que, segundo o analista, historicamente produz desigualdades.
No campo da segurança, tema central para os chilenos, Kast aposta no endurecimento contra o crime organizado. Jara, por sua vez, argumenta que a resposta deve incluir medidas estruturais, como o fim do sigilo bancário para rastrear fluxos financeiros ilícitos e a criação de políticas de inclusão social. Essas ações, afirma Osorio, seriam essenciais para impedir que populações vulneráveis vejam no crime uma alternativa de sobrevivência.
Sobre o debate desta noite, o analista avalia que o evento terá peso significativo. Os poucos encontros transmitidos ao longo da campanha registraram grande audiência, sinalizando que os eleitores buscam informações adicionais para decidir seu voto.



