Equador rejeita agenda de Daniel Noboa em referendo decisivo
Votação derrota propostas sobre bases militares estrangeiras e Constituinte, em forte recado político ao presidente alinhado a Washington
247 – O Equador enviou um recado direto ao presidente Daniel Noboa neste domingo (16), ao rejeitar de forma ampla as quatro perguntas centrais do referendo convocado pelo governo. Segundo dados preliminares do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), citados pela teleSUR, o “não” supera 52% dos votos com mais de 58% das urnas apuradas, representando um revés significativo para o mandatário.
A consulta popular, realizada de maneira pacífica e com participação superior a 80%, segundo o CNE, mobilizou mais de 13,9 milhões de equatorianos. O pleito abordou temas sensíveis como instalação de bases militares estrangeiras, financiamento público de partidos, redução do número de asambleístas e a possibilidade de uma Assembleia Constituinte.
Rejeição à presença militar estrangeira domina o pleito
A derrota mais expressiva do governo ocorreu na pergunta sobre a eliminação da proibição constitucional de bases militares estrangeiras em território equatoriano. Mais de 60% dos eleitores votaram “não”. A decisão ocorre semanas depois de Noboa visitar, ao lado da secretária de Segurança Nacional dos EUA, Kristi Noem, áreas estratégicas para possíveis instalações militares, como Manta e Salinas.
Arauz denuncia tentativa de manipulação e celebra vitória popular
O excandidato presidencial pela Revolução Cidadã, Andrés Arauz, celebrou o desempenho do “não” e afirmou que o voto contrário às propostas de Noboa “se impõe em todos os lugares”.
Nas redes, ele pediu vigilância aos funcionários públicos para impedir o que chamou de “operação Tello”, que descreveu como uma tentativa de “manipular os resultados eleitorais”.
Luisa González: “O povo diz não a um governo que quer transformar o Equador na corporação Noboa”
A excandidata presidencial Luisa González destacou que o resultado expressa uma defesa clara da soberania nacional. Em suas palavras, a população disse “não a um governo que quer fazer do Equador a corporação Noboa”.
Ela afirmou ainda que a proposta de convocar uma Assembleia Constituinte buscava “apropriar-se dos recursos naturais estratégicos do Equador” e “precarizar o emprego”.
Para ela, o resultado das urnas representa “uma rejeição rotunda a Daniel Noboa”, demonstrando que a cidadania “não confia na gestão do mandatário de direita”.
Violência recorde e contexto de crise política
O referendo ocorreu em um momento de escalada sem precedentes da violência no país. Mesmo após o governo decretar “conflito armado interno” e classificar organizações criminosas como terroristas, os homicídios continuam em alta. 2025 já é o ano mais violento da história do Equador, segundo dados oficiais.
O governo buscava, com a consulta popular, fortalecer sua legitimidade política e validar sua estratégia de alinhamento com Washington. O resultado, porém, aponta para desgaste e perda de apoio.
Impacto político e novo cenário para Noboa
As quatro derrotas enfraquecem o discurso de Daniel Noboa e aprofundam sua crise de autoridade. O presidente pretendia usar o referendo como uma demonstração de força, mas o eleitorado rejeitou sua agenda nos temas mais sensíveis para a soberania e a institucionalidade do país.



