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    Em troca de comando da OEA, Brasil diz que últimos anos foram marcados por "exclusão, estigmatização e isolamento"

    Albert Ramdin, do Suriname, assumiu a chefia da organização após dez anos de mandato de Luis Almagro em linha com os EUA

    Sede da OEA em Washington (Foto: REUTERS/Kylie Madry)
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    247 - A troca de comando na Organização dos Estados Americanos (OEA), oficializada nesta segunda-feira (10) em Washington, ocorreu sem surpresas, mas foi marcada por uma forte crítica do Brasil à condução da entidade nos últimos anos. O governo brasileiro acusou a organização de adotar uma postura seletiva na defesa da democracia e de estigmatizar determinados países.

    A manifestação ocorreu após a eleição do chanceler do Suriname, Albert Ramdin, que se tornou o primeiro caribenho a assumir o comando da OEA para um mandato de cinco anos. Segundo a Folha de S. Paulo, durante a cerimônia, a secretária-geral do Itamaraty, Maria Laura da Rocha, declarou que a OEA tem seguido uma lógica de “exclusão, estigmatização e isolamento dos que pensam diferente”.

    A crítica reflete a posição de dois regimes autoritários da América Latina que abandonaram a OEA nos últimos anos, sob forte pressão da entidade: a Venezuela, de Nicolás Maduro, e a Nicarágua, de Daniel Ortega. A diplomata brasileira fez referência direta aos países, afirmando que a organização “perdeu legitimidade e relevância em determinados temas e viu minguar sua capacidade de aportar soluções, notadamente para crises como as da Venezuela e da Nicarágua”.

    As declarações da representante brasileira evidenciam uma insatisfação com a gestão do uruguaio Luis Almagro, que comandou a OEA nos últimos dez anos e priorizou críticas a regimes autoritários de esquerda. Durante seu mandato, Almagro chegou a reconhecer Juan Guaidó como presidente autoproclamado da Venezuela em 2019, em um movimento que contou com o apoio do então presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL).

    A postura do ex-secretário-geral contribuiu para o afastamento de Caracas e Manágua do diálogo com a OEA, embora a organização tenha mantido a pauta desses países em sua agenda, sempre em meio a intensos embates diplomáticos. Ainda de acordo com a reportagem, Maria Laura ressaltou que a OEA “voltou a estar embalada por um maniqueísmo reminiscente da Guerra Fria, mas com novas roupagens”, substituindo o diálogo e a negociação por “sanções e o opróbrio público daqueles considerados em conflito com os padrões comuns”.

    A chegada de Albert Ramdin à liderança da OEA acontece em um momento de grande expectativa por mudanças no perfil da organização. Seu antecessor, Almagro, saiu do cargo sob acusações de conflitos éticos, danos morais contra ex-funcionários e alinhamento excessivo com Washington na tomada de decisões.

    A eleição de Ramdin foi selada sem grandes surpresas. Inicialmente, o chanceler paraguaio Rubén Lezcano era seu principal adversário na disputa, mas a aproximação do governo de Santiago Peña com Donald Trump levou diversos países, incluindo o Brasil, a retirarem apoio ao candidato do Mercosul.

    Ramdin, que é chanceler do Suriname desde 2020, acumula vasta experiência na OEA, onde atuou como secretário-geral adjunto por uma década, de 2005 a 2015. Seu país, um exportador de ouro e petróleo, também enfrenta desafios relacionados ao garimpo ilegal, o que gera preocupações em alguns setores. A Argentina, por exemplo, manifestou receio quanto à proximidade do Suriname com a China, o que pode influenciar a condução da nova gestão da OEA.

    Em sua declaração, Maria Laura da Rocha deixou claro o que o Brasil espera do novo secretário-geral: “Que seja uma figura agregadora, um funcionário internacional que não tome partido em disputas internas ou internacionais, mas facilite diálogos, estenda pontes com todos os lados e reabra canais que foram fechados”.

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