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Está em curso um ‘golpe eleitoral’ em Honduras, diz membro do Conselho Nacional Eleitoral

Conselheiro do CNE aponta falhas graves no sistema eleitoral e alerta para risco à transparência do pleito hondurenho

Marlon Ochoa, do Conseleho Nacional Eleitoral de Honduras (Foto: Captura de tela/Telesur)

247 - O membro do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) de Honduras, Marlon Ochoa, denunciou um suposto “golpe eleitoral” no país, durante coletiva concedida à imprensa nacional e internacional. As declarações foram apresentadas após a leitura do documento “Golpe Eleitoral 2025”, no qual Ochoa detalha um conjunto de falhas e manobras que, segundo ele, configuram a eleição “menos transparente” da história recente do país.

Ochoa reforçou que as acusações estão baseadas em falhas estruturais do Sistema de Transmissão de Resultados Preliminares (TREP), compra de votos, intimidação de eleitores e até “interferência estrangeira flagrante”, informa a Telesur. Ele afirmou que a situação supera os cenários críticos registrados nos pleitos de 2013 e 2017.

Segundo Ochoa, o sistema TREP teria se transformado em uma “verdadeira armadilha”, permitindo manipulações desde antes da votação. Entre os sete pontos apresentados, destacou a eliminação da verificação biométrica, aprovada na véspera das eleições pelos dois conselheiros ligados aos partidos conservadores. A medida, disse, abriu caminho para a “inflação das folhas de apuração” ao dispensar o cruzamento obrigatório de dados dos eleitores.

Ochoa também apontou que 86,6% das folhas presidenciais transmitidas até a manhã de 3 de dezembro continham inconsistências entre os registros biométricos e os dados enviados pelo TREP. De acordo com ele, essas discrepâncias atingem cerca de 982 mil votos, número que classificou como “escandaloso”.

Outro alerta central foi o das falhas deliberadas reveladas ainda na simulação de 9 de novembro, quando se verificou baixa capacidade de transmissão, ausência dos módulos de contagem e disseminação automática e inserção extraordinária de votos. Embora parte dos problemas tenha sido corrigida, Ochoa afirmou que “as garantias essenciais para assegurar a integridade dos resultados jamais foram restabelecidas”.

A denúncia inclui ainda a suposta sabotagem de uma sessão do CNE, na qual, segundo Ochoa, um dos conselheiros impediu a análise de um relatório de auditoria externa que confirmava falhas graves, chegando a “mentir publicamente” sobre seu conteúdo. Ele descreveu também situações verificadas no dia da eleição, quando o TREP teria atribuído números irreais às atas manuscritas, “falsificando” a contagem apresentada pelos membros das mesas eleitorais.

O conselheiro relatou ainda a existência de um mecanismo de fraude automatizada que teria transferido votos entre candidatos e partidos, prática que, afirmou, já havia sido denunciada por meio de áudios vazados. Acrescentou que 1.615 registros ficaram retidos por mais de 40 horas sem justificativa, reforçando o clima de suspeita.

Durante sua manifestação, Ochoa lamentou que advertências feitas desde a simulação de novembro tenham sido ignoradas e censuradas. Ele afirmou que o chamado “sistema de contingência 2”, que deveria estar pronto desde 12 de novembro, ainda não havia sido concluído pela empresa colombiana ASD, apesar de ser essencial para garantir a integridade e rapidez da divulgação dos resultados. Segundo Ochoa, ajustes críticos ainda estavam sendo feitos na tarde da própria eleição, às vésperas da apuração.

O conselheiro destacou que todas as advertências foram devidamente documentadas por técnicos, pela comissão de acompanhamento do TREP e pela auditoria externa, afirmando que o pleno do CNE “não pode alegar desconhecimento”. Para ele, a eleição ficará marcada não apenas pelas falhas do sistema e pelo que descreveu como “concretização de um plano de fraude”, mas também por práticas como compra de votos, intimidação de eleitores e a “vulgar intervenção estrangeira”, que classificou como inédita na região.

Ochoa reiterou que continuará denunciando irregularidades dentro do órgão eleitoral e afirmou esperar que a vontade popular, “manipulada desde o início”, seja devidamente respeitada. Ele também se disse preocupado com acordos firmados pelos dois principais partidos representados no CNE sem sua participação.

As denúncias se somam às críticas da candidata governista Rixi Moncada, do partido Liberdade e Refundação (Libre), que também fala em “golpe eleitoral”, citando falhas técnicas, manipulação midiática e interferência externa. Os resultados preliminares do TREP apontam um empate técnico entre Salvador Nasralla (Partido Liberal) e Nasry Asfura (Partido Nacional), apoiado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Moncada aparece em terceiro lugar, com cerca de 19% dos votos, percentual que seu partido rejeita.

A situação expõe novas tensões políticas em Honduras, em meio a um processo eleitoral marcado por denúncias de irregularidades, disputas internas no CNE e crescente desconfiança pública quanto à legitimidade dos resultados, conforme registram as informações veiculadas pela Telesur. 

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