Golpe eleitoral em Honduras: denúncias apontam articulação da direita com Trump
Setores conservadores são acusados de tramar sabotagem para contestar vitória progressista nas eleições de 30 de novembro em Honduras
247 - As eleições gerais marcadas para o próximo domingo (30), em Honduras estão cercadas por acusações de sabotagem, manipulação e ingerência externa. Segundo reportagem da Telesur, diversos setores denunciam que grupos conservadores hondurenhos, com apoio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estariam preparando um “golpe eleitoral” para deslegitimar o processo e impedir o avanço das forças progressistas lideradas pelo partido Libre.
No material divulgado pela Telesur, gravações de áudio vazadas e depoimentos de atores políticos reforçam suspeitas de um plano para comprometer a credibilidade do pleito. A denúncia aponta que as mesmas forças responsáveis pelo golpe contra o então presidente constitucional Manuel Zelaya, em 2009, continuam atuando para frear o governo progressista de Xiomara Castro e a candidatura de Rixi Moncada, do Partido Liberdade e Refundação (Libre).
Pressões, boicotes e tentativa de captura institucional
Em entrevista ao veículo, o sociólogo Armando Orellana, integrante da equipe de campanha de Rixi Moncada, afirmou que “os conservadores têm promovido um boicote constante e diversas tentativas de impedir o projeto político do LIBRE”. Ele recordou que, em janeiro, houve uma tentativa fracassada de setores conservadores de assumir o controle do Congresso Nacional.
Orellana também denunciou o bloqueio a “projetos de financiamento essenciais, como uma lei de justiça tributária que busca eliminar isenções fiscais que permitiram o enriquecimento de dez famílias e 25 grandes conglomerados empresariais”.
Nos meses que antecederam o pleito, a direita hondurenha teria criado um clima de insegurança, amplificado por vozes da comunidade internacional que acompanham o processo como observadores desde outubro.
Estratégia para denunciar fraude e interferência dos EUA
Segundo Orellana, a estratégia da direita é construir um ambiente que permita alegar fraude caso Rixi Moncada vença a eleição, escalada que ganha força com a interferência de Donald Trump. Ele lembrou que, durante as eleições primárias de 9 de março, um atraso deliberado na entrega de material eleitoral — gerenciado por empresas privadas ligadas ao Partido Nacional — tentou atribuir a responsabilidade às Forças Armadas e à então ministra de Defesa, hoje candidata presidencial.
A situação se agravou após a divulgação de sete áudios que revelam negociações entre Cosette López, conselheira eleitoral do Partido Liberal, representantes de partidos conservadores e empresários para desconhecer uma eventual vitória de Moncada. O plano envolvia utilizar o Sistema de Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares (TREP) para proclamar Salvador Nasralla como presidente.
A autenticidade dos áudios foi confirmada por peritagem internacional, revelando uma articulação para atrasar, manipular ou bloquear o reconhecimento oficial dos resultados. Numa das conversas, López chega a solicitar subornos maiores do que os acordados inicialmente.
Sabotagem digital e envolvimento de figuras políticas
As gravações também implicam o deputado Tomás Zambrano, líder da bancada do Partido Nacional, acusado de coordenar ações para atenuar sinais de internet e dificultar a transmissão de resultados. Nos diálogos, ele discute com uma técnica em telecomunicações formas de simular falhas climáticas e interferir na rede para atrasar o escrutínio.
Em paralelo, os interlocutores planejam pressionar o Tribunal Eleitoral, reorganizar forças internas e preparar a eventual proclamação de Nasralla, mesmo diante de números desfavoráveis.
Observadores internacionais reforçam presença no país
Em meio à escalada de tensões, a Missão de Observação Eleitoral da União Europeia ampliou sua presença. Segundo Tania Marques, chefe adjunta da missão, novos parlamentares europeus se juntaram ao grupo nesta semana, elevando para 138 o número total de observadores.
Eles passaram a atuar em todos os departamentos hondurenhos, equilibrando áreas urbanas e rurais para monitorar as condições políticas, logísticas e institucionais do processo.
Gerardo Martínez, presidente da Associação Liberdade e Democracia, argumentou que a fragilidade institucional aumenta o risco de questionamentos pós-eleitorais. Para ele, “nesta eleição estão em jogo não só os cargos de eleição popular, mas a democracia em si e a continuidade da institucionalidade”.
A organização, alinhada ao candidato Salvador Nasralla, vem difundindo discursos que acusam o governo de pretender abolir o sistema democrático por meio de uma Assembleia Nacional Constituinte.
Polarização política e alerta de organizações internacionais
A diretora para a América Central da Washington Office on Latin America (WOLA), Ana María Méndez Dardón, destacou o cenário polarizado e a fragilidade histórica das instituições hondurenhas, marcadas pela falta de independência dos poderes e pela vulnerabilidade estrutural do sistema de Justiça. A WOLA tem sido uma das primeiras entidades a alertar sobre os impactos da política antidrogas dos Estados Unidos e a necessidade de abordagens alternativas.
Interferência direta de Trump
A crise ganhou dimensão internacional após a decisão de Donald Trump de intervir publicamente no processo eleitoral hondurenho. Replicando sua atuação na Argentina em apoio a Javier Milei, o presidente dos Estados Unidos declarou apoio a Nasry “Tito” Asfura, candidato do Partido Nacional, afirmando que seu objetivo é “combater os narcocomunistas” e impedir que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, “tome o controle” de Honduras.
Trump chegou a afirmar que não colaborará com Honduras caso Rixi Moncada vença a eleição. Em sua rede Truth Social, ele acusou Salvador Nasralla de ter integrado o governo de Xiomara Castro após renunciar à disputa presidencial de 2021, afirmando: “Finge ser anticomunista solo para dividir el voto de Asfura”. A crítica aprofundou a cisão entre setores da direita hondurenha.
Em mensagem pública, Trump chamou Asfura de “o único verdadeiro amigo da liberdade em Honduras”.
Asfura, denúncias e conexões políticas
Asfura, empresário da construção civil e ex-prefeito do Distrito Central (2014–2022), já enfrentou acusações de corrupção. Em 2020, o Ministério Público solicitou investigação por suposta malversação de 17,4 milhões de lempiras. A Corte Suprema rejeitou o pedido no ano seguinte. Seu nome também apareceu nos Papéis de Pandora, associado à empresa Karlane Overseas SA., utilizada para operações imobiliárias em Tegucigalpa.
O Partido Nacional, ao qual pertence, também carrega o peso político de ter abrigado o ex-presidente Juan Orlando Hernández, atualmente condenado nos Estados Unidos por narcotráfico.
Eleições decisivas para o futuro da região
O desfecho do pleito de 30 de novembro terá impacto direto no tabuleiro geopolítico da América Central e do Caribe. Segundo a análise apresentada pela Telesur, apenas a vitória de Rixi Moncada poderia assegurar a continuidade das transformações em curso e impedir uma influência ainda mais hegemônica dos Estados Unidos na região.

