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Milei acelera privatização de hidrelétricas na Patagônia e cede ativos estratégicos em meio à crise cambial

Primeira grande privatização do governo libertário soma US$ 685 milhões; decisão gera críticas sobre riscos institucionais e perda de controle energético

O presidente da Argentina, Javier Milei, em Buenos Aires - 26/10/2025 (Foto: REUTERS/Cristina Sille)

247 – O governo de Javier Milei oficializou a privatização de quatro grandes usinas hidrelétricas localizadas na Patagônia, no que representa a primeira venda de ativos estratégicos desde o início de seu mandato. As informações foram publicadas originalmente pela Sputnik Brasil.

A iniciativa, celebrada pela Casa Rosada como um marco no programa de desestatizações, envolve propostas que somam aproximadamente US$ 685 milhões (R$ 3,6 bilhões) para as usinas Alicurá, Piedra del Águila, El Chocón-Arroyito e Cerros Colorados, situadas nas províncias de Neuquén e Río Negro.

Complexo de Comahue: energia, regulação de rios e receita estatal

Essas hidrelétricas, conhecidas como Barragens de Comahue, foram construídas entre o fim dos anos 1960 e os anos 1990 e formam um dos mais relevantes complexos de energia da América do Sul. Só em 2023, a energia hidrelétrica respondeu por quase 25% da capacidade instalada da Argentina.

Além da função energética, os reservatórios regulam os rios Limay e Neuquén, abastecem regiões metropolitanas e sustentam polos industriais. A operação eficiente e de baixo custo sempre permitiu ao Estado moderar tarifas e financiar subsídios — fator que torna o ativo ainda mais estratégico no contexto de forte instabilidade cambial e de reservas líquidas negativas.

Em um cenário de vencimentos da dívida que ultrapassam US$ 7 bilhões no primeiro trimestre de 2026, o governo considera a venda uma maneira rápida de obter dólares diante da ausência do financiamento externo prometido.

Ofertas locais superam multinacionais que dominavam o setor desde os anos 1990

As melhores propostas vieram de operadoras argentinas, como Central Puerto, MSU e Grupo Edison, superando empresas multinacionais que controlavam os ativos desde o período de privatizações do governo Menem.

O ministro da Economia, Luis Caputo, comemorou o resultado:
"Isso reafirma o interesse do setor privado em investir na Argentina quando as regras são claras."

Alertas institucionais: vazio regulatório, banco privado avaliando ativos e TCU paralisado

A decisão, porém, desencadeou fortes críticas no Congresso e em órgãos de controle.

A Comissão Bicameral de Privatização alertou que o governo não definiu qual será a autoridade reguladora das novas concessionárias — ponto considerado essencial para evitar concentração de poder e disputas futuras em redes de energia, transporte e infraestrutura.

Outro foco de preocupação é o mecanismo de avaliação dos ativos. O Tribunal de Avaliação, responsável legal por supervisionar o processo, declarou-se impedido em várias etapas, transferindo a avaliação para um banco privado, o que foi classificado por parlamentares da oposição como risco à integridade patrimonial do Estado.

A isso se soma a paralisação do Tribunal de Contas da União argentino, com o mandato de seis dos sete auditores expirado desde abril. Sem funcionamento regular do órgão, não há possibilidade de revisão técnica posterior das privatizações. O Congresso já discute produzir seu próprio relatório caso o Executivo continue sem prestar esclarecimentos.

Governo amplia plano de privatizações para outras barragens e setores de infraestrutura

A Casa Rosada também deu início aos procedimentos para privatizar outras sete barragens com concessões próximas do vencimento, além de empresas ferroviárias, rodoviárias e de energia. Todas essas iniciativas estão contempladas na chamada lei omnibus, aprovada em 2024 com amplo poder concedido ao Executivo.

Milei argumenta que a venda de ativos estatais é essencial para “atrair investimentos” e “estabilizar a macroeconomia” em 2026.

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