Entenda por que os Estados Unidos tentam interferir nas eleições de Honduras
Interesses geopolíticos, energéticos e estratégicos explicam a pressão de Washington sobre o país centro-americano
Segundo a teleSUR, às vésperas das eleições marcadas para 30 de novembro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez uma manifestação pública de apoio ao candidato de direita Tito Asfura, do Partido Nacional. Trump afirmou que a continuidade da ajuda econômica de Washington dependeria da vitória do candidato conservador — repetindo, segundo a reportagem, o mesmo tipo de pressão que exerceu na Argentina ao apoiar Javier Milei.
Às vésperas das eleições deste domingo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez uma manifestação pública de apoio ao candidato de direita Tito Asfura, do Partido Nacional. Trump afirmou que a continuidade da ajuda econômica de Washington dependeria da vitória do candidato conservador — repetindo, segundo a reportagem, o mesmo tipo de pressão que exerceu na Argentina ao apoiar Javier Milei.
O presidente norte-americano também anunciou que indultaria o ex-mandatário hondurenho Juan Orlando Hernández (JOH) — condenado em 2024 por narcotráfico, contrabando de armas e corrupção — caso Asfura fosse eleito. Para a teleSUR, a mensagem deixa clara a tentativa dos EUA de manter influência política decisiva sobre Honduras.
A localização estratégica de Honduras
Antes dos anos 1980, Honduras não ocupava papel central na política externa dos Estados Unidos. Isso mudou quando o país passou a ser peça estratégica na contenção dos movimentos revolucionários da região, especialmente em Nicarágua, El Salvador e Guatemala.
Durante a Guerra Fria, Honduras tornou-se uma base de operações para grupos armados apoiados pelos EUA, como a Contra nicaraguense, treinada em solo hondurenho para combater o governo sandinista. A partir deste período, Washington passou a destinar vultosos recursos militares e financeiros ao país.
A reportagem lembra que, até os governos de Manuel Zelaya e, mais tarde, Xiomara Castro, Honduras mantinha estreita dependência da agenda norte-americana.
O petróleo e o golpe de 2009
Um dos momentos de maior tensão ocorreu em 2009, quando o governo de Barack Obama apoiou o golpe de Estado contra o presidente constitucional Manuel Zelaya. Enquanto a OEA, o BID e o Banco Mundial suspendiam Honduras de seus quadros ou interrompiam financiamentos por causa da ruptura institucional, os Estados Unidos reconheceram o governo que substituiu Zelaya e, posteriormente, o do direitista Porfirio Lobo.
De acordo com a teleSUR, o golpe teve como causa central a decisão de Zelaya de integrar o país à Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA) e aderir ao programa Petrocaribe, que permitia o acesso a petróleo venezuelano em condições preferenciais.
O programa possibilitou ao governo ampliar investimentos sociais e enfrentar o monopólio das petroleiras estrangeiras — como Chevron e Shell — sobre o mercado hondurenho. A reação dessas empresas, aliada a setores privados locais, teria financiado o golpe para restaurar o antigo modelo energético dominado por transnacionais.
A reforma tributária de Xiomara Castro
Outro ponto de atrito com Washington surge com o governo de Xiomara Castro, que em 2023 apresentou uma proposta de reforma tributária focada em justiça fiscal e combate à evasão.
Entre as medidas previstas estavam:
- eliminação de regimes especiais com isenções por até 74 anos;
- combate a fraudes por meio da criação da figura do beneficiário final;
- eliminação do sigilo bancário para investigação tributária;
- mudança do princípio de tributação da renda territorial para a renda mundial, dificultando que empresas enviem lucros a paraísos fiscais.
Embora o projeto não tenha sido aprovado, o governo planeja reapresentá-lo. Para a teleSUR, o plano ameaça privilégios de grandes grupos empresariais — frequentemente alinhados à política dos Estados Unidos.
Soberania nacional como eixo do governo Castro
Mesmo diante da dependência econômica — o comércio bilateral somou US$ 11,6 bilhões em 2021, e as remessas de hondurenhos nos EUA alcançaram US$ 9,7 bilhões em 2024 —, o governo de Xiomara Castro mantém uma agenda diplomática centrada na soberania e na autodeterminação.
A reportagem destaca que a presidenta defende uma política externa “congruente” com as demandas internas, reiterando que a soberania hondurenha “não se vende nem se negocia”. A posição confronta diretamente a lógica intervencionista que, segundo a teleSUR, os Estados Unidos tentam preservar na região.
O projeto político do Partido LIBRE, representado agora também pela candidatura de Rixi Moncada, reforça a ideia de que a vontade popular é o fundamento da soberania nacional e que a participação cidadã deve guiar as principais decisões do país.
A reportagem do teleSUR mostra que os motivos da interferência norte-americana em Honduras são estruturais e combinam geopolítica, petróleo, interesses empresariais, vantagens tributárias e pressão diplomática. Em comum, todos os elementos refletem a tentativa histórica dos Estados Unidos de manter influência determinante sobre as instituições e os rumos da política hondurenha.



