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Petro propõe governo de transição na Venezuela

Presidente colombiano diz que mediação internacional fracassou e volta a defender saída compartilhada para garantir eleições realmente livres

Gustavo Petro (Foto: Reprodução via vermelho.org.br)

247 – O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, publicou na madrugada desta sexta-feira 21 uma longa mensagem nas redes sociais relatando bastidores de sua atuação na mediação da crise venezuelana. No texto, Petro afirma que participou ativamente de um esforço de diálogo entre o governo de Nicolás Maduro e a administração de Joe Biden antes das eleições e revela que está retomando a proposta de um governo de transição compartilhado para restaurar a confiança e permitir eleições verdadeiramente livres.

Segundo o presidente colombiano, representantes da Europa, dos Estados Unidos, da Venezuela, da Colômbia e setores da oposição venezuelana se reuniram em Bogotá com o objetivo de buscar o levantamento das sanções contra a Venezuela, criar um ambiente de distensão e acelerar a realização de eleições livres. Nenhuma dessas metas, porém, foi cumprida.

Sanções mantidas, exclusões e eleições sob bloqueio

Petro relatou que, apesar das negociações, não houve desbloqueio econômico, os Estados Unidos mantiveram a recompensa pela captura de Maduro e a opositora Maria Corina Machado não foi autorizada a participar do processo eleitoral. Diante disso, declarou publicamente: “Não são livres as eleições sob um país bloqueado”.

Para ele, a estratégia internacional foi equivocada e ignorou a experiência histórica colombiana, marcada por uma violência política que deixou mais de 300 mil camponeses mortos entre 1948 e 1957 e que só terminou quando liberais e conservadores aceitaram formar um governo compartilhado, capaz de reconstruir a confiança e encerrar a guerra civil.

Petro volta a propor um governo de transição

Nas reuniões realizadas em Bogotá, Petro afirmou ter apresentado a ideia de um governo compartilhado, inspirado no modelo do Frente Nacional da Colômbia. A proposta, segundo ele, agradou parte da oposição, mas desagradou setores do governo venezuelano.

O presidente colombiano acrescentou que sugeriu levar o acordo a plebiscito ou formalizá-lo como declaração unilateral perante a ONU. Uma comissão latino-americana para mediar o processo chegou a ser articulada entre México, Brasil e Colômbia, mas o que chamou de “sectarismo reinante” e a pressa do governo Biden impediram qualquer avanço concreto.

Risco de intervenção e fragmentação territorial

Petro alertou que o resultado desse fracasso é um cenário ainda mais instável, marcado por eleições turvas, bloqueio aprofundado e risco crescente de intervenção armada externa. Ele comparou a situação à desintegração da Líbia e criticou a ideia de uma operação “cirúrgica” como a invasão dos Estados Unidos ao Panamá, lembrando que também lá houve milhares de mortos.

O presidente colombiano advertiu que há milhares de homens armados em ambos os lados da fronteira e que o colapso do Estado venezuelano poderia fortalecer grupos e economias ilícitas — inclusive ligadas ao petróleo — capazes de fragmentar não só a Venezuela, mas também a própria Colômbia.

Um caminho possível: diálogo e inclusão

Petro insistiu que nenhuma solução baseada na exclusão de um setor real da sociedade venezuelana ou na tentativa de destruição violenta do outro poderá produzir estabilidade. Ele enfatizou que a grande guerra civil colombiana demonstrou que políticas de exclusão e de supressão violenta da diferença “não servem para nada”.

Para o presidente colombiano, somente um governo de transição compartilhado, capaz de convocar uma ampla vontade popular e pactuar acordos sem pressões indevidas, pode abrir caminhos reais para a democracia e evitar que a Venezuela siga para um cenário de guerra e fragmentação.

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