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Porta-aviões dos EUA entra no Caribe e amplia ofensiva militar de Trump contra a Venezuela

Deslocamento do USS Gerald R. Ford reforça tensões regionais e reabre debate sobre a Doutrina Monroe

Porta-aviões Gerald Ford (Foto: International Press)

247 – A chegada do porta-aviões USS Gerald R. Ford às águas do Mar do Caribe, neste domingo, elevou o nível de tensão militar na região e reacendeu alertas sobre as intenções geopolíticas dos Estados Unidos. As informações são do jornal teleSUR.

Segundo a reportagem, o navio — considerado o mais avançado, caro e tecnologicamente sofisticado da marinha norte-americana — foi apresentado pelo Departamento de Guerra como parte de uma suposta operação contra o narcotráfico. No entanto, diversas organizações apontam que o deslocamento integra uma estratégia mais ampla de pressão e possível intervenção contra a República Bolivariana da Venezuela.

Maior operação militar dos EUA no Caribe em décadas

O movimento do Gerald R. Ford ocorre no âmbito da Operação Lança do Sul, que mobiliza aproximadamente 12 mil militares, destróieres, fragatas e aeronaves de quinta geração, tornando-se o maior deslocamento militar dos EUA no Caribe em muitos anos. Washington afirma que o objetivo é “proteger a prosperidade de Estados Unidos frente ao narcoterrorismo”, mas analistas e entidades multilaterais observam que a retórica antidrogas não explica a escala da ação.

O contexto político aumenta as suspeitas: nas últimas semanas, o presidente Donald Trump insinuou que já tomou “ações decididas” em relação a Caracas, intensificando o clima de hostilidade. O governo norte-americano tem reforçado discursos beligerantes contra a Venezuela, o que, somado ao envio do porta-aviões, alimenta temores de uma provocação militar deliberada.

Reedição da Doutrina Monroe

A Administração Trump voltou a se referir ao Caribe e à América Latina como “sua vizinhança”, retomando os princípios da Doutrina Monroe — política historicamente utilizada para justificar intervenções dos EUA nos assuntos internos de países soberanos do continente.

Nos últimos meses, ataques norte-americanos a embarcações não identificadas no Mar Caribe deixaram mais de 80 mortos, segundo a teleSUR. A ONU classificou essas ações como execuções extrajudiciais que violam o direito internacional. Esses incidentes ocorreram principalmente em áreas sensíveis para a segurança da Venezuela, revelando, segundo o governo venezuelano, o verdadeiro propósito da presença militar norte-americana.

Além disso, o Senado dos EUA, controlado pelos republicanos, rejeitou recentemente limitar a capacidade do presidente Trump de realizar ataques sem autorização do Congresso, o que, segundo críticos, amplia os riscos de novas ações unilaterais.

Caracas denuncia intenção de “invasão e submissão”

As autoridades venezuelanas afirmam que o deslocamento militar possui caráter colonialista e violador do direito internacional. O ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, declarou que “a paz no Caribe está sendo ameaçada” por uma narrativa construída em Washington para justificar uma agressão.

O chanceler Yván Gil afirmou que os movimentos militares representam “um intento de invasão e submetimento” que coloca em risco toda a região.

O Comando Sul — historicamente associado a operações coordenadas com a CIA para desestabilizar governos na América Latina — integra a operação, ampliando as denúncias de Caracas sobre o caráter intervencionista da iniciativa.

Povo venezuelano se mobiliza para a defesa do território

Diante das ameaças, milhões de venezuelanos têm se mobilizado em todo o país. Segundo a teleSUR, o governo iniciou a fase superior do Plan Independencia 200, que organiza a preparação armada e não armada da população para a defesa nacional em caso de agressão externa.

De Caracas a San Cristóbal, manifestações em massa rejeitam o que é visto como uma ameaça direta de intervenção estrangeira, em cenário comparado a momentos críticos como os episódios golpistas de 2019.

Organizações sociais lembram que a Venezuela enfrenta há mais de duas décadas bloqueios econômicos, sanções unilaterais e campanhas de desestabilização, e que o envio do USS Gerald R. Ford confirma que a pressão militar segue como instrumento central da política externa norte-americana.

Unidade cívico-militar como eixo estratégico

A crescente articulação entre as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) e o poder popular tem se consolidado como elemento chave de dissuasão. A Milícia Bolivariana registrou aumento de voluntários — entre camponeses, pescadores, estudantes e povos originários — dispostos a defender o país em caso de agressão.

Além disso, setores culturais, estudantis e sindicais realizam debates, atos simbólicos, concertos e mobilizações que reforçam a ideia de que a defesa da soberania não é apenas militar, mas um projeto nacional em que diferentes segmentos sociais atuam de forma articulada.

Apesar de Washington apresentar a operação como parte de uma campanha antidrogas, o ambiente político venezuelano indica uma percepção coletiva: o verdadeiro objetivo é criar condições para uma intervenção ou desestabilização interna.

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