Vazamento de áudios mostram risco de golpe eleitoral da direita em Honduras
Vazamentos expõem articulação da direita para manipular votação e contestar resultado em caso de vitória de Rixi Moncada
247 - Honduras enfrenta um clima crescente de tensão política após o vazamento de áudios que detalham, passo a passo, uma estratégia da direita para desestabilizar as eleições gerais marcadas para este domingo (30). As revelações, segundo a TeleSur, expõem um plano que vai desde atrasos na entrega de urnas até a manipulação tecnológica do Sistema de Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares (TREP).
O pleito acontece em um clima de tensão, pois os três principais candidatos à Presidência - os direitistas Salvador Nasralla (Partido Liberal, PL) e Nasry Asfura (Partido Nacional, PN), e a candidata de esquerda Rixi Moncada (Partido Libre, no poder) - estão estatisticamente empatados nas pesquisas.
Segundo a reportagem, os materiais vazados mostram como setores da oposição têm coordenado ações para proclamar antecipadamente Salvador Nasralla como vencedor, mesmo diante de resultados oficiais que possam favorecer a candidata governista, Rixi Moncada. O Partido Libre, alertado pelos indícios de sabotagem, anunciou que realizará uma contagem paralela de votos para tentar impedir que o processo seja distorcido.
Em sua conta no X (antigo Twitter), o jornalista Denis Rogatyuk, do site chileno El Ciudadano, alertou que as gravações apontam para um possível “golpe eleitoral”. “As gravações de áudio divulgadas há uma semana implicam Cossette López, membro do Conselho Nacional Eleitoral, em uma campanha coordenada para divulgar resultados preliminares falsos (TREP) que favorecem Nasralla e, assim, executar um golpe eleitoral preliminar em seu favor”.
A engrenagem do boicote
O primeiro sinal de sabotagem ocorreu ainda nas eleições primárias do dia 9 de março, quando o atraso deliberado na entrega do material eleitoral — controlado por setores ligados ao Partido Nacional no Conselho Nacional Eleitoral (CNE) — comprometeu o início da votação. Empresas privadas vinculadas ao grupo opositor foram responsáveis pelo transporte das urnas e, diante do atraso, tentaram responsabilizar as Forças Armadas e a então ministra da Defesa, Rixi Moncada, hoje candidata à presidência.
Um dos pontos centrais do esquema é o TREP, mecanismo usado para transmitir resultados preliminares. Embora seja apenas uma ferramenta técnica, sua vulnerabilidade institucional pode convertê-lo em uma peça-chave para fraudes, como reconhece Eduardo Fuentes, codiretor do CNE. “É importante ressaltar que o TREP não constitui todo o sistema eleitoral, mas sim um componente técnico focado na transmissão de dados”, disse.
Os áudios indicam que essa fragilidade seria explorada para manipular a percepção inicial da apuração, influenciando a opinião pública antes que a contagem oficial fosse consolidada.
O roteiro do golpe
Em conversas gravadas, Cosette López, conselheira eleitoral do Partido Liberal, dialoga com representantes dos partidos Nacional e Liberal e com empresários. O objetivo: impedir o reconhecimento de uma vitória de Rixi Moncada, usando o TREP para proclamar imediatamente Salvador Nasralla.
A articulação fica ainda mais explícita em falas do deputado Tomás Zambrano, líder da bancada do Partido Nacional. Em um dos trechos mais contundentes, ele detalha o plano para deslegitimar o processo eleitoral. “Mas a ideia é criar uma situação em que as eleições não sejam reconhecidas externamente e precisem ser repetidas. Lembrem-se, a lei diz que, se as Forças Armadas intervirem, as eleições terão que ser repetidas. E o mais importante é que há um setor das Forças Armadas que está muito alinhado conosco”, diz Zambrano no áudio, segundo a reportagem.
López reforça a estratégia de pressão nas ruas: “uma avalanche está a caminho, algo que vocês não conseguem imaginar. Eles vão dizer, quer dizer, o importante é que os manifestantes tomem as ruas e afirmem que é uma fraude.”
O plano prevê a criação de um ambiente de ingovernabilidade para justificar a intervenção militar e forçar novas eleições — contexto considerado vantajoso para a direita.
Manipulação digital e terrorismo tecnológico
O especialista em informática José Vallecillo explica como o TREP pode ser manipulado por meio da seleção estratégica das urnas enviadas ao sistema: “simulemos um exercício. Há 10 urnas a nível nacional que vão entrar ao TREP, mas essas 10 urnas — escolhidas estrategicamente das 19.167 urnas totais — estão em setores do país onde Salvador Nasralla ou Nasry Asfura saem acima. [...] Impõem uma realidade fictícia e elevam a um nível que na realidade não têm.”
Vallecillo também relata planos para sabotar antenas satelitais e bloquear a transmissão de dados provenientes de regiões onde Rixi Moncada tem ampla vantagem, criando um “apagão programado” capaz de distorcer a percepção dos resultados.
Ainda de acordo com a reportagem, os áudios mostram Zambrano articulando com uma técnica em telecomunicações maneiras de enfraquecer o sinal de internet em áreas estratégicas, simulando inclusive falhas climáticas. Ele chega a oferecer um número telefônico “irrastreável” e promete pagamentos vultosos para garantir o sucesso do sabotagem.
Pressão política, violência e alinhamento militar
A estratégia combina manipulação tecnológica, mobilização de grupos violentos e apoio de setores militares. O objetivo declarado nos áudios é proclamar Nasralla como vencedor e impedir o reconhecimento da apuração oficial, ainda que esta indique vitória do Partido Libre.
A interferência de Donald Trump
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a interferir diretamente na disputa hondurenha ao declarar apoio ao candidato direitista Nasry Asfura. Em apenas 48 horas, emitiu duas mensagens públicas com tom de ultimato, chegando a anunciar que indultaria o ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández, condenado por narcotráfico em território norte-americano.
Trump afirmou que “se Tito Asfura ganha a presidência de Honduras, os Estados Unidos lhe darão um grande apoio [...]. Se não ganhar, os Estados Unidos não vão gastar mal o seu dinheiro.” A ameaça repete estratégias de pressão diplomática usadas anteriormente pelo próprio mandatário em outros países da região. A promessa de indultar Hernández — condenado por transformar Honduras em um narcoestado — coloca em evidência a seletividade política da chamada “guerra às drogas”.
A resposta do governo hondurenho
Diante da escalada de tensões, a presidente Xiomara Castro reafirmou o compromisso com a soberania popular. “Será novamente o povo hondurenho que decidirá livre e pacificamente”, afirmou. “Como presidente da República, minha responsabilidade é garantir a tranquilidade, a transparência e o respeito absoluto à vontade popular, para que a reconstrução e o desenvolvimento de nossa nação possam continuar”, completou mais a frente.



