2025, o ano que não quer terminar
Caso venha a ser comprovado que Viviane Barci não tem contrato assinado com o Master, o novelão sofrerá uma guinada
Quando já se ouve o tropel do ano de 2026 que se avizinha, 2025 manda dizer que – tal como o 1968 de Zuenir Ventura -, não quer terminar. Pelo contrário. Vai adentrar o tapetão pós-recesso, em janeiro, arrastando o enredo que acompanhamos qual um “novelão”. Sim estamos falando do Banco Master.
Demorei até me animar a entrar no tema, eivado de especulações, análises à base do “eu acho que” e “alguém me disse que”. Não comecem a conjecturar. Não estou falando da colunista A, ou do jornalista B.
Plantou-se um climão no meio político a partir de variáveis que podem ser cantadas em versos de Tom Jobim: “que o vento vai levando pelo ar”. Como sou de me basear em fatos, apenas hoje me animei a rabiscar algumas linhas sobre o tema. E por que hoje? Porque, finalmente, depois de toda a montanha de “disse me disse”, surgiu um algo novo que pode mudar o rumo das coisas.
A esta altura, estou apostando na informação trazida pelo colega Eduardo Guimarães, em seu artigo “Contrato de R$ 129 milhões da mulher de Moraes não existe”. (https://www.brasil247.com/blog/contrato-de-r-129-mi-da-mulher-de-moraes-nao-existe), que se estiver calcada em sua seriedade, pode trazer uma reviravolta ao caso. Guimarães descreve em detalhes que o alegado contrato assinado com o Banco Master por Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes, anunciado na coluna do colunista Lauro Jardim (O Globo), no dia 21 de dezembro deste ano, não contém assinaturas.
O colunista afirmou que em 2024 - na distribuição de lucros do escritório Barci Moraes -, coube a Viviane a quantia de R$ 57 milhões. Seu patrimônio pessoal entre 2023 e 2024 passou de R$ 24 milhões para R$ 79,7 milhões, graças ao contrato no valor de R$ 129 milhões com o Master. Contrato esse que Eduardo Guimarães afirma, não está assinado por ela.
O que existe, de acordo com Guimarães, é apenas uma cópia no celular de Daniel Vorcaro, apreendido pela Polícia Federal. A partir daí, entram as especulações, que não merecem ser repetidas aqui. Por exemplo, a de que a informação sobre o contrato com o “Barci e Barci” teria sido vazada pela estrela do mercado financeiro, André Esteves, chairman do banco BTG Pactual. Essas e outras menções poluíram o caso ao longo da última semana, pois não foram respaldadas em provas.
Aqui é preciso alinhar uma série de fatos importantes no cenário político dos últimos dois meses. Alexandre de Moraes se destacou ao longo de todo o ano de 2025, caminhando no fio da navalha. Esgueirou-se pelo estreito corredor entre as pressões do meio militar – que já conseguiu: salvar a pele do general Estevam Theophilo (absolvido no processo do golpe de 8 de janeiro); levar o “condecorado” general Augusto Heleno, para a domiciliar e amenizar a situação do almirante Garnier, que vai poder ter acesso á Internet para fazer uma faculdade online (quem vai vigiar o que ele posta?), com vistas à redução da pena, se a atividade for aliada a leituras.
Moraes trocou diálogos e questionamentos constitucionais com três mocinhos elegantes: Aécio Neves, Paulinho da Força e Michel Temer – o responsável por sua indicação ao Supremo -, suscitando suspeitas sobre se teria opinado sobre o projeto de anistia/dosimetria. O que seria no mínimo estranho, posto que no último julgamento dos núcleos golpistas, fez um incisivo discurso contra essa iniciativa, a da tal “dosimetria”. O que se acredita, é que apenas recebeu o grupo para opinar sobre a constitucionalidade ou não da tramitação de um projeto como aquele.
Nesse ínterim, Alexandre de Moraes foi liberado da lei Magnitsky, em diálogo direto entre o presidente dos EUA, Donald Trump e o presidente Lula, que conseguiu livrá-lo dos ferrões da lei imposta à sua vida financeira. E, talvez um dado inocente, mas no Brasil nem tanto, foi incluído pelo jornal britânico "Financial Times", na lista das 25 pessoas mais influentes do ano, divulgada na primeira semana de dezembro.
Desde o dia 21 deste mês, quando a coluna de Lauro Jardim publicou a cifra do suposto contrato de Viviane Barci de Moraes, com o Banco Master, recém liquidado pelo Banco Central, a mídia mergulhou em sua vida. Onde jantou, com quem conversou ao telefone e com quem se encontrou.
Sem tomar lado, confesso aqui que não vi a mesma perplexidade e o mesmo empenho quando o ministro Kassio Nunes foi à Grécia, numa festa de arromba do aniversário de Gustavo Lima, ao lado de Ciro Nogueira e de um casal procurado pela Justiça. Tampouco vi espanto quando o decano Gilmar Mendes instituiu o que no passado se chamava “trem da alegria” para Lisboa, no que hoje os colegas da mídia chamam carinhosamente de “Gilmarpalooza”.
Dei por falta, por exemplo, daquelas matérias do tipo: quanto custou? Quem bancou, para que os grandes nomes da “Esfera” do judiciário estivessem lá, nas “Lides” luxuosas dos tais encontros. Está certo que houve apuração e grita quando ministro Toffoli subiu naquele avião rumo à decisão do Palmeiras em Lima, tendo ao lado o advogado ligado ao caso Master. Mas aí, vamos combinar, que o escândalo já estava em andamento com força e Toffoli passou do ponto, porque logo depois do voo decretou sigilo sobre o processo do banco.
No meio do caminho de tudo isto, como destacou o colega Eduardo Guimarães, há que lembrar da mudança da lei que tratou da atuação de parentes de ministros do STF em casos que possam vir a ser tratados naquela Corte. De todo modo, tendo sido assinado ou não, o contrato com o escritório Barci – ou de consultoria ou por conta de trabalhos advocatícios -, não seria ilegal. Seria imoral e, engorda, como cantou Erasmo Carlos. No mínimo a conta bancária de D. Viviane.
Caso venha a ser comprovado que Viviane Barci não tem contrato assinado com o Master, o novelão sofrerá uma guinada de tal ordem que para comparar só o terremoto adotado pela novelista Janete Clair, autora de “O Sheik de Agadir”, novela da Globo do início dos anos de 1970, que estava encroada, dando traço na programação e ela foi chamada para salvar a trama. Não pestanejou. Programou um terremoto, matou todo o elenco e trouxe novos personagens, para finalizar logo a trama e partiu para outra.
É possível que Alexandre de Moraes, o nome mais mencionado do mês de dezembro - muito mais que Papai Noel -, no caso de uma guinada nesse enredo, tenha muito a falar e a trazer à cena política, jogando luz nos primeiros dias de 2026. Aí, sim, o ano começa.
Até aqui, pouco ou nada adiantam as torcidas organizadas e os pitacos sem embasamento. Tampouco pedir “provas” a jornalistas protegidos pela Constituição, no seu artigo 5º, quanto ao sigilo da fonte. Que venha um feliz 2026, finalmente, trazendo fatos, verdades e mais tranquilidade à última instância da Justiça. O país precisa se organizar para que as eleições aconteçam com lisura e instituições funcionando.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




