A extrema vergonha ao vivo e a cores na Câmara
Hugo Motta perdeu as condições de permanecer no cargo e deve renunciar, defende Reimont
Nesta quarta-feira, dia 10 de dezembro de 2025, por 318 votos a 141, o plenário da Câmara Federal decidiu suspender por seis meses o mandato soberano do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ). Glauber fica!
A decisão nasceu de uma longa busca de consenso e encerra um dos momentos mais violentos e impensáveis da Casa.
Nas últimas horas, do último dia 9 até a madrugada do dia 10, o atual presidente da Câmara protagonizou o espetáculo mais brutal de toda a história do Congresso Nacional.
A truculência, que se iniciou com a própria pauta de votação, explodiu nas inéditas medidas da feroz agressão ao deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) e a outros quatro parlamentares – Samia Bonfim (PSOL-RJ), Célia Xakriabá (PSOL-MG), Rogério Correia (PT-MG) e Dorinaldo Malafaia (PDT-AP) –, no uso de força desmedida para impedir a nossa aproximação da mesa diretora, e na expulsão virulenta dos jornalistas, ferindo Carol Nogueira, do UOL, a produtora Deborah Hana Cardoso, da Record, e Guilherme Balza, da GloboNews, como revelam as imagens. O fecho do dia se deu com a votação, na calada da madrugada, de uma anistia disfarçada, espúria e inconstitucional aos golpistas, em sessão presidida por Hugo Motta como se nada tivesse acontecido e que chegou ao desplante de cortar o microfone das deputadas Benedita da Silva (PT-RJ) e Talíria Petrone (PSOL-RJ), com risinhos de deboche.
Não há palavras que descrevam os momentos vividos nas quase 24 horas de tirania impostas à Câmara Federal. Repito: nem na ditadura o Parlamento registrou semelhante violência dentro do Plenário Doutor Ulysses Guimarães, senhor das diretas e da luta democrática, que se envergonharia e bradaria contra o que a Casa do Povo sofreu.
Hugo Motta escancarou que está ao lado dos golpistas, dos mesmos que ocuparam a cadeira da presidência e a mesa diretora da Câmara por dois dias, exigindo a votação da anistia a Jair Bolsonaro e seus cúmplices. Jamais foram punidos, como determina o regimento da Casa, jamais sofreram uma repreensão pública sequer. Ao contrário, na madrugada de hoje, foram premiados com a votação que então exigiam, disfarçada no projeto de dosimetria, que reduziu as penas de todos os criminosos que tramaram contra o Estado brasileiro e planejaram assassinar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
A pauta desse show de horrores foi cuidadosamente preparada por Hugo Motta, a partir do momento em que anunciou, em sequência, a votação do projeto da anistia disfarçada e a votação da cassação de Glauber, em um gesto que tentou enlamear a biografia política do deputado ao misturar o seu caso com os dos parlamentares condenados e foragidos da Justiça Carla Zambelli (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ). Tentou, mas não conseguiu e nem conseguirá.
Tentou, e também não conseguiu, silenciar a imprensa, cortando o sinal da TV Câmara, expulsando violentamente os jornalistas do plenário, agredindo. Por ignorância ou prepotência, esqueceu que tudo seria registrado pelos parlamentares presentes e ganharia os espaços da mídia e das redes, via internet. Mesmo com os perfis de parlamentares e apoiadores de esquerda estranhamente invisibilizados em plataformas como o Instagram, a verdade prevaleceu e se espalhou.
Tentou, e mais uma vez não conseguiu, se livrar de qualquer responsabilidade e da verdade — a Câmara promoveu um golpe.
Pelos flagrantes ataques à liberdade de imprensa, responderá a ao menos três processos já impetrados pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
Pela truculência usada contra Glauber Braga e parlamentares do campo democrático, responderá não só judicialmente, mas, principalmente, nas eleições de 2026.
O atual presidente da Câmara demonstrou covardia, parcialidade, incompetência e truculência. Perdeu todas as condições de permanecer no cargo e deve renunciar.
Davi Alcolumbre, presidente do Senado — que também ontem aprovou o marco legal que ataca e cassa os direitos dos povos originários, formados por quase 2 milhões de sobreviventes do genocídio colonial e de todos os que se seguiram — mandou que a Polícia Legislativa investigue a origem da expressão “Congresso, inimigo do povo”. Não precisa ir longe, basta que ele e Hugo Motta se olhem no espelho.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




