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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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A Nova Rota da Seda

O mundo está mudando à nossa volta

Rio de Janeiro - (RJ) - 18/11/2024 - O presidente da China, Xi Jinping (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

O final do século XX e o início do XXI representaram uma espécie de desastre para os Estados Unidos e a Europa, conforme travavam a fatídica luta para manter suas posições nos territórios que ligam o Oriente ao Ocidente.

Impressiona a falta de visão do Ocidente a respeito da história global – do quadro geral, dos temas mais amplos e dos padrões em ação na região. Nas mentes dos estrategistas, políticos, diplomatas e generais, os problemas do Afeganistão, Irã e Iraque parecem distintos, isolados e apenas frouxamente vinculados entre si.

As afirmações são de Peter Frankopan, que eu considero o primeiro grande historiador do século XXI, no seu livro O coração do mundo.

Há, portanto, diz ele, mais coisas acontecendo do que as desajeitadas intervenções do Ocidente no Iraque e no Afeganistão e o uso de pressões na Ucrânia, Irã e em outras partes. De leste a oeste, as Rotas da Seda estão ressurgindo. É fácil sentir-se confuso e perturbado pelos deslocamentos em massa, pela violência no mundo islâmico, pelo fundamentalismo religioso, por conflitos entre a Rússia e seus vizinhos e pela luta da China contra o extremismo nas províncias ocidentais.

O que estamos testemunhando, porém, são as dores do parto de uma região que já dominou o panorama intelectual, cultural e econômico e que agora reemerge. Estamos vendo os sinais de uma mudança no centro de gravidade do mundo – que volta ao local onde esteve por milênios.

Essa é uma parte do mundo que pode parecer estranha e pouco familiar ao Ocidente, e tão fora do comum a ponto de beirar o bizarro. Essas terras sempre tiveram, de alguma forma, importância crucial para a história do globo, ligando Oriente e Ocidente, constituindo um cadinho onde ideias, costumes e línguas têm lutado entre si por espaço, da Antiguidade aos nossos dias. E hoje as Rotas da Seda estão em ascensão novamente – sem que muitos lhes deem atenção.

Esses países, com enormes somas de dinheiro à disposição para se permitirem tais fantasias, veem suas cidades prosperarem, ganhando novos aeroportos, resorts turísticos, hotéis de luxo e edifícios de impacto. No mercado imobiliário de Londres, os gastos médios de compradores das antigas repúblicas soviéticas são cerca de três vezes maiores do que os de compradores dos Estados Unidos ou da China e quatro vezes maiores que os dos clientes locais.

A era do Ocidente vive uma encruzilhada ou talvez seu final. À medida que o coração do mundo assume nova feição, também estão sendo criadas instituições e organizações que formalizam relações ao longo dessa região crucial.

O mundo está mudando à nossa volta. À medida que entramos numa era em que a hegemonia política, militar e econômica do Ocidente vai sendo pressionada, a sensação de incerteza é perturbadora. Chegou a hora, segundo o presidente da China, Xi Jinping, de construir uma “Faixa Econômica da Rota da Seda” — em outras palavras, uma nova Rota da Seda.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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