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César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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Arma chinesa para ajudar Venezuela contra os EUA

Estratégia de Pequim envolve finanças, comércio e controle de recursos estratégicos diante da ofensiva dos Estados Unidos contra Caracas

Petroleiro no Lago Maracaibo, na Venezuela - 14/10/2022 (Foto: REUTERS/Issac Urrutia)

Certamente, não será militar a arma da China para ajudar a Venezuela contra os Estados Unidos na guerra aberta de Donald Trump contra o chavismo socialista venezuelano; os chineses, no plano bélico, no contexto geopolítico, não têm como contribuir, de modo efetivo, para parar as ações imperialistas trumpistas: não possuem marinha forte nem podem promover deslocamento de tropas chinesas, bem como não dispõem aviões de combate etc, de modo a realizar manobras arriscadas, senão impossíveis, dadas as condições geoestratégicas.

Mas, tem um campo de batalha no qual as forças americanas podem ser abatidas, se os chineses resolvem reagir às agressões de Trump contra Maduro, que impliquem prejuízos à China, como começa acontecer com sequestro de petróleo venezuelano exportado para os chineses; trata-se da luta no campo econômico, comercial e financeiro.

A China, graças ao aumento da produtividade industrial imparável, impulsionada por política monetária desenvolvimentista, comandada por bancos públicos, vai ampliando, na sua movimentação global, suas conquistas na América Latina, de modo a não ter mais os Estados Unidos como competidores verdadeiramente sérios; o superávit comercial chinês de mais de 1 trilhão de dólares, em 2025, assusta Washington, no sentido de que a moeda chinesa, graças à expansão comercial, altamente competitiva,  deixa a moeda americana, progressivamente, em perigo.

O yuan, como moeda internacional, vai ganhando, sem empecilhos maiores, espaço, já que os negócios globais atuam no sentido de os países em geral, especialmente, os do Sul Global, buscarem lastro real na moeda chinesas em vez de em moeda americana; avançam as relações comerciais ao largo da influência do dólar; a dependência rápida dos países do BRICS – mesmo os da Europa, no ambiente em que são abandonados pelos Estados Unidos – da economia chinesa, ampliada pelo aumento da concorrência, dada pelo avanço da produtividade industrial da China, robustece o yuan frente ao dólar; consequentemente, a posição financeira chinesa acumula credibilidade, enquanto, em contrapartida, fragiliza a dependência americana do colosso chinês; a guerra econômica tem um vencedor explícito: a China.

DEPENDÊNCIA FINANCEIRA DE WASHINGTON

 Dessa forma, as finanças chinesas, em escalada crescente frente aos Estados Unidos, graças ao avanço descomunal do PIB chinês, leva Washington a depender, cada vez mais de Pequim, para comprar títulos do tesouro americano, a fim de financiar a dívida pública americana; é aí que mora o perigo para Washington; a agressividade de Trump em sequestrar exportações de petróleo da Venezuela para a China, para derrubar o presidente Nicolás Maduro, como ocorre, nesse momento, leva Xi Jinping à reação em defesa dos interesses chineses:  diminui apetite de Pequim em continuar comprando papéis americanos, o que afeta financiamento da dívida dos Estados Unidos.

O resultado seria aumento da instabilidade financeira dos Estados Unidos americana, como resposta chinesa às ações petroterroristas de Washington contra Caracas, pois afinal, os chineses dependem do petróleo venezuelano para continuar ampliando seu poder competitivo global, para manter crescente o PIB chinês; analistas internacionais já se alarmam com a diminuição de compras chinesas da dívida americana, algo que acelera desvalorização do dólar; o movimento monetário chinês, por sua vez, obriga Trump a pressionar o Banco Central americano a avançar na redução das taxas de juros nos Estados Unidos, para combater a inflação, bombeada pelo protecionismo tarifário;  automaticamente, com o aumento da liquidez interna, cujo resultado, no ambiente do alto endividamento, pode ser mais instabilidade fiscal, no contexto em que a dívida já ultrapassa a casa dos 40 trilhões de dólares.

Historicamente, a taxa de juros, nas crises capitalistas, nunca cai, ao contrário, sempre aumenta, como preço cobrado pelo mercado para continuar financiando déficit fiscais, intensificando a pressão sobre o dólar.

 TERRAS RARAS, A OUTRA ARMA CHINESA

 Ademais, a China dispõe de outra arma contra os Estados Unidos: exportação de minérios estratégicos, como terras raras, devidamente, industrializadas, com alto valor agregado, das quais a indústria americana, especialmente, a de guerra, depende para continuar produzindo; não há competidor para a China, na industrialização de terras raras, sem as quais o colosso industrial imperialista sofre abalos; a alternativa, para os Estados Unidos, seria as terras raras brasileiras, segunda maior oferta global, depois da China, mas com a diferença qualitativa segundo a qual o Brasil ainda não possui tecnologia que os chineses possuem para atender a demanda americana; desse modo, as armas que a China possuem para fazer frente à agressividade imperialista de Trump contra Maduro, que afeta interesse chinês, são financeiras e econômicas, na falta de poder bélico e espacial para competir com os Estados Unidos; se a China radicaliza, nesse contexto, contra Washington, como quando Trump aumentou barbaramente as tarifas de importação contra Pequim, ocorreria outro impasse global: retaliação chinesa levaria o imperador americano a recuar; se Xi Jinping endurecer, boicotando financiamento da dívida americana, bem como dando um tranco na exportação de terras raras industrializadas para os Estados Unidos, haveria, sem dúvida, aumento das tensões mundiais e maior instabilidade financeira global, abalando, ainda mais, o imperialismo em decadência.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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