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Reynaldo José Aragon Gonçalves

Reynaldo Aragon é jornalista especializado em geopolítica da informação e da tecnologia, com foco nas relações entre tecnologia, cognição e comportamento. É pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos em Comunicação, Cognição e Computação (NEECCC – INCT DSI) e integra o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Disputas e Soberania Informacional (INCT DSI), onde investiga os impactos da tecnopolítica sobre os processos cognitivos e as dinâmicas sociais no Sul Global. Editor do site codigoaberto.net

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Arquitetura da distração e fatos consumados: a expansão territorial de Israel

Como a distração geopolítica liderada pelos EUA abre caminho para a consolidação territorial do sionismo no Oriente Médio

Visão de drone de bairro residencial na Cidade de Gaza, atacado por Israel, em meio ao genocídio do povo palestino - 19/10/2025 (Foto: REUTERS/Dawoud Abu Alkas)

Enquanto a atenção global é capturada por crises cuidadosamente amplificadas, o mapa do Oriente Médio está sendo redesenhado no terreno. Este artigo revela como o diversionismo estratégico do Ocidente funciona como cobertura política e midiática para a consolidação silenciosa do projeto da Grande Israel.

Quando a atenção é desviada, o território é decidido

Há momentos na história em que a guerra não se anuncia pelo estrondo das armas, mas pelo deslocamento calculado da atenção. Não é o silêncio que engana, mas o excesso de ruído. Crises sucessivas, narrativas concorrentes e urgências fabricadas passam a organizar o campo visual do mundo, criando uma paisagem saturada em que tudo parece grave, imediato e incontornável. Nesse cenário, o essencial deixa de ser visto. E é exatamente aí que o território é decidido.

O poder contemporâneo não opera apenas pela força direta, mas pela gestão da agenda. Ao definir o que deve ser observado, debatido e temido, define-se também o que pode avançar fora dos holofotes. A distração não é um efeito colateral da política internacional; ela se tornou um de seus instrumentos mais eficazes. Enquanto a atenção global é capturada por crises amplificadas e disputas narrativas incessantes, processos materiais profundos seguem seu curso no terreno, produzindo fatos que, uma vez consolidados, passam a ser tratados como realidade irreversível.

O Oriente Médio vive hoje um desses momentos críticos. Enquanto o debate internacional se desloca de um palco a outro, o mapa é reconfigurado por decisões administrativas, atos burocráticos, intervenções espaciais e normalizações silenciosas. Não se trata de movimentos improvisados ou reativos, mas de um projeto político-territorial de longa duração, executado de forma fragmentada, progressiva e estratégica. Cada passo, isoladamente, parece técnico ou circunstancial. Observados em conjunto, revelam um desenho coerente.

Este artigo parte de uma premissa simples e incômoda: quando o mundo se distrai, o poder avança. A distração cria a janela necessária para que projetos de expansão territorial se consolidem sem enfrentamento proporcional, sob a cobertura de discursos de segurança, estabilidade ou excepcionalidade permanente. O que está em jogo não é apenas uma disputa regional, mas a normalização de um método de dominação que combina controle da narrativa global e transformação material do espaço.

Ler o presente exige romper com a lógica fragmentada das manchetes e recompor a totalidade do processo em curso. Porque, quando a atenção finalmente retorna ao território, o mapa já terá mudado — e o custo histórico dessa distração recairá sobre povos inteiros, privados de autodeterminação em nome de uma ordem que se impôs enquanto ninguém olhava.

A distração como método de poder

A política internacional contemporânea não se organiza apenas pela disputa entre interesses materiais imediatos, mas pela capacidade de definir o que será percebido como central e o que será relegado à periferia da atenção. O poder, hoje, não se exerce apenas sobre territórios, mercados ou exércitos, mas sobre a própria hierarquia do visível. Controlar a agenda é controlar o ritmo da história.

A multiplicação de crises simultâneas não é, por si só, sinal de um mundo mais caótico. Ela é também expressão de um sistema que aprendeu a operar por saturação informacional. Quando tudo parece urgente, nada consegue ser acompanhado com profundidade. O resultado é uma atenção fragmentada, incapaz de recompor processos históricos em curso. Nesse ambiente, decisões estruturais passam a ser tomadas longe do escrutínio público, protegidas pela sensação permanente de emergência em outros fronts.

Os Estados Unidos desempenham papel central nessa engrenagem. Não apenas por seu poder militar ou econômico, mas por sua posição como gestor da agenda internacional, capaz de deslocar o foco global conforme seus interesses estratégicos e os de seus aliados. Guerras, negociações de paz, crises diplomáticas, sanções e declarações espetaculares funcionam como polos de atração da atenção midiática e política. Não é necessário que sejam falsas; basta que sejam amplificadas, reiteradas e enquadradas de modo a ocupar o centro do debate.

Esse mecanismo não exige coordenação conspiratória nem controle absoluto. Ele opera por incentivos estruturais. Governos reagem ao que está nos holofotes. A mídia segue o fluxo das declarações oficiais e dos conflitos mais ruidosos. Organismos internacionais adaptam suas prioridades ao clima político dominante. O que não gera atrito imediato ou escândalo visível tende a ser tratado como assunto secundário, técnico ou inevitável.

É nesse intervalo, criado pela distração, que projetos de longo prazo avançam. O diversionismo não atua negando a realidade, mas reorganizando sua percepção. Ele não elimina o conflito; ele o redistribui no tempo e no espaço, permitindo que certas frentes avancem enquanto outras concentram a atenção pública. O método é simples: fragmentar o olhar para impedir a visão do conjunto.

A história oferece inúmeros exemplos desse padrão. Grandes transformações territoriais raramente ocorreram sob máxima visibilidade e consenso. Elas avançam por acumulação de pequenos passos, legalizações graduais, ajustes administrativos e normalizações discursivas. Cada movimento isolado parece insuficiente para mobilizar reação significativa. Somados, produzem uma mudança estrutural que, quando percebida, já se tornou difícil de reverter.

No cenário atual, a sucessão de crises internacionais funciona como um campo de manobra. O debate global é continuamente deslocado, enquanto decisões territoriais, jurídicas e espaciais são tomadas sob a justificativa da segurança, da excepcionalidade ou da estabilidade. O resultado não é a ausência de conflito, mas sua gestão estratégica, de modo que o custo político do avanço seja minimizado.

Compreender a distração como método de poder é condição essencial para entender o que está em curso no Oriente Médio. Sem essa chave de leitura, cada evento parecerá desconectado, cada decisão será tratada como reação circunstancial. Com ela, torna-se possível enxergar a lógica que articula narrativa, tempo e território. É a partir desse ponto que o projeto político por trás da reconfiguração do mapa deixa de ser invisível e passa a se revelar como aquilo que sempre foi: um processo deliberado, contínuo e profundamente material.

Ideologia, cartografia e projeto: a Grande Israel

Nenhum projeto territorial se sustenta apenas pela força. Antes de ocupar o espaço físico, ele precisa ocupar o imaginário, naturalizar-se como ideia legítima e apresentar-se como horizonte inevitável. É nesse ponto que ideologia, cartografia e política se fundem. No caso israelense, a expansão territorial não pode ser compreendida apenas como resposta a ameaças conjunturais ou como efeito colateral de conflitos recorrentes. Ela se ancora em um projeto político-ideológico claro, historicamente construído, que trata o território como fundamento existencial do Estado.

É essencial estabelecer, desde o início, uma distinção rigorosa. Judaísmo é uma tradição religiosa, cultural e histórica plural, atravessada por múltiplas correntes éticas, filosóficas e políticas. O sionismo, por sua vez, é uma ideologia política moderna, surgida no contexto europeu do final do século XIX, que propõe a constituição e a expansão de um Estado judeu soberano ancorado em um território específico. Confundir essas dimensões não apenas empobrece o debate, como serve para blindar um projeto político de críticas legítimas, deslocando a análise do campo material para o moral ou identitário.

Enquanto ideologia, o sionismo político opera a partir de uma lógica territorial. O espaço não é apenas cenário, mas objetivo. O território deixa de ser um meio de organização estatal para se tornar fim estratégico, permanentemente ampliável, justificado por narrativas de segurança, promessa histórica ou excepcionalidade civilizatória. Essa lógica aproxima o sionismo de outras experiências de colonialismo de assentamento, nas quais a presença do outro é tolerada apenas enquanto transitória, subordinada ou invisibilizada.

A cartografia desempenha papel central nesse processo. Mapas não são representações neutras da realidade; são instrumentos de poder. Ao decidir o que aparece, o que desaparece e como as fronteiras são desenhadas, o mapa antecipa o mundo que se pretende construir. Quando líderes políticos apresentam mapas em arenas internacionais, não estão apenas ilustrando uma situação; estão enunciando um programa.

A exibição, por Benjamin Netanyahu, de um mapa na Assembleia Geral da ONU no qual a Palestina simplesmente não existe não foi um gesto acidental ou retórico. Foi um ato performativo. Ao apagar visualmente a Cisjordânia e Gaza, o mapa transforma a ocupação em normalidade e o apagamento em dado consumado. Trata-se de uma pedagogia silenciosa do poder: o que não é mostrado deixa de ser percebido como problema. O mapa, nesse contexto, não descreve o presente; ele projeta o futuro desejado.

O conceito de “Grande Israel” não opera necessariamente como slogan oficial permanente, mas como horizonte implícito que orienta decisões concretas. Ele se manifesta menos em declarações formais do que na coerência entre discurso, cartografia e prática administrativa. Cada assentamento legalizado, cada outpost normalizado, cada zona redefinida reforça esse horizonte, tornando-o progressivamente mais real e menos contestável.

Esse projeto não avança por um único ato decisivo, mas por uma sequência de passos graduais. A força da ideologia está justamente em sua capacidade de se diluir em procedimentos técnicos, debates jurídicos e justificativas securitárias. Quando a expansão territorial é apresentada como ajuste administrativo ou necessidade defensiva, ela se afasta do campo político explícito e se instala no terreno da gestão, onde o conflito tende a ser despolitizado.

Compreender a relação entre ideologia e cartografia é fundamental para decifrar o que está em curso. O mapa não é consequência do poder; ele é uma de suas formas. Ao redesenhar o espaço, o projeto da Grande Israel busca transformar o que hoje ainda é disputado em evidência natural. E quando o território passa a ser visto como dado, a autodeterminação do outro deixa de ser sequer considerada uma questão legítima.

Fatos consumados no terreno: quando o mapa deixa de ser metáfora

Se a ideologia fornece o horizonte e a cartografia anuncia o projeto, é no terreno que o poder se torna irreversível. A expansão territorial não se impõe apenas por grandes ofensivas militares ou declarações formais de anexação. Ela se consolida por meio de uma sequência de fatos consumados, produzidos de forma fragmentada, administrativa e cotidiana, até que a mudança estrutural se torne impossível de ignorar — e difícil de reverter.

Na Cisjordânia, esse método opera com precisão. Assentamentos inicialmente classificados como “temporários” tornam-se permanentes. Outposts considerados ilegais passam por processos de regularização. Infraestruturas civis, estradas, cercas e serviços públicos são expandidos sob o argumento da normalização da vida. Cada passo é apresentado como exceção, ajuste técnico ou resposta localizada. Observados em conjunto, porém, esses movimentos configuram um processo contínuo de anexação de fato, sem a necessidade de uma declaração formal que provoque reação internacional imediata.

O elemento central desse mecanismo é a burocratização da ocupação. Ao deslocar a expansão territorial do campo militar para o administrativo, o conflito é rebaixado a uma disputa jurídica ou urbanística. O território deixa de ser percebido como espaço político disputado e passa a ser tratado como área sob gestão. Nesse enquadramento, a presença palestina é progressivamente comprimida, fragmentada e subordinada, enquanto a expansão israelense se apresenta como resultado natural de procedimentos legais.

Gaza, por sua vez, oferece um laboratório ainda mais extremo dessa lógica. Ali, o controle não se exerce prioritariamente pela anexação formal, mas pela engenharia espacial. Corredores, zonas-tampão, áreas de circulação restrita e bloqueios de retorno redesenham a geografia de forma profunda, mesmo quando o discurso oficial fala em cessar-fogo ou estabilização. O território permanece fisicamente intacto em certos pontos, mas funcionalmente inviável como espaço de autodeterminação.

O controle da circulação é decisivo. Ao definir quem pode se mover, por onde e em que condições, o poder reorganiza a vida social sem precisar ocupar cada metro quadrado. Zonas declaradas inseguras, áreas interditadas e corredores militarizados criam uma paisagem fragmentada, na qual comunidades inteiras ficam isoladas, deslocadas ou impedidas de retornar. O resultado é um território formalmente existente, mas politicamente neutralizado.

É nesse contexto que a noção de “cessar-fogo” revela seu caráter ambíguo. A redução temporária de confrontos armados não implica a suspensão do processo de reconfiguração territorial. Pelo contrário: a trégua funciona, muitas vezes, como janela de normalização, permitindo que mudanças espaciais e administrativas avancem com menor resistência e menor visibilidade. O conflito parece arrefecer, enquanto o mapa continua a ser redesenhado.

O poder dos fatos consumados reside justamente em sua acumulação silenciosa. Cada assentamento adicional, cada estrada construída, cada zona redefinida reduz o espaço de negociação futura. Quando o debate político finalmente se reabre, ele já ocorre sobre um território transformado, no qual as opções de autodeterminação foram drasticamente limitadas. O que antes era apresentado como disputa passa a ser tratado como realidade objetiva.

Nesse ponto, o mapa deixa de ser metáfora e se torna destino imposto. A expansão territorial não precisa mais ser defendida; ela é apenas administrada. E é exatamente aí que o método revela sua eficácia máxima: ao transformar o excepcional em normal e o provisório em permanente, o poder consegue consolidar sua dominação sem precisar vencê-la explicitamente no campo da legitimidade. 

O silêncio que autoriza: Ocidente, normalização e cobertura

Nenhum projeto de expansão territorial se sustenta apenas pela iniciativa de quem avança. Ele depende, de forma decisiva, do ambiente político que o torna viável. No cenário internacional contemporâneo, esse ambiente é produzido menos por declarações explícitas de apoio e mais por uma combinação de silêncio, relativização e enquadramento seletivo. O poder que autoriza não é apenas o que age, mas também o que escolhe não reagir.

Os Estados Unidos ocupam posição central nessa engrenagem. Não apenas como aliado estratégico de Israel, mas como gestor da ordem internacional, capaz de modular pressões diplomáticas, vetar iniciativas multilaterais e definir o grau de aceitabilidade política de determinados movimentos. Ao tratar a expansão territorial como questão secundária, técnica ou inevitável, Washington contribui para deslocar o debate do campo político para o da administração do conflito. O que deveria provocar ruptura passa a ser absorvido como parte da paisagem.

A Europa, por sua vez, atua como retaguarda discursiva. Discursos formais em defesa do direito internacional coexistem com a ausência de medidas concretas capazes de produzir custos reais. A crítica retórica, desprovida de consequência prática, cumpre uma função paradoxal: preserva a imagem moral dos atores ocidentais ao mesmo tempo em que não interfere no curso dos fatos. O resultado é uma normalização progressiva da expansão territorial, apresentada como problema complexo, sensível e insolúvel no curto prazo.

A mídia corporativa internacional desempenha papel igualmente decisivo. Ao priorizar eventos espetaculares, confrontos armados imediatos e declarações de alto impacto, ela contribui para a fragmentação da percepção pública. Processos lentos, administrativos e estruturais tendem a receber cobertura marginal, quando não desaparecem por completo do noticiário. A expansão territorial, assim, deixa de ser percebida como processo contínuo e passa a surgir apenas em momentos de crise aberta, desconectada de sua lógica histórica.

Esse enquadramento produz um efeito profundo: a ocupação se torna pano de fundo permanente, enquanto a violência episódica ocupa o centro da narrativa. A atenção se fixa nos sintomas mais visíveis, não nas causas estruturais. O território, novamente, escapa ao olhar. O silêncio não é ausência de informação; é resultado de escolhas editoriais e políticas que definem o que merece ser acompanhado com persistência.

A normalização opera, portanto, em múltiplos níveis. Diplomático, ao evitar sanções e medidas coercitivas. Midiático, ao reduzir a expansão territorial a notas esporádicas. Político, ao tratar o conflito como insolúvel e, por isso, administrável. Cada um desses níveis reforça os demais, criando um ciclo de permissividade que transforma o avanço no terreno em dado consumado.

Esse silêncio não é neutro. Ele funciona como autorização tácita. Ao não impor custos proporcionais, o Ocidente sinaliza que a expansão territorial pode continuar sem comprometer alianças, fluxos econômicos ou legitimidade internacional. O poder aprende com a ausência de reação. Cada passo não contestado se torna precedente para o próximo.

É assim que o projeto avança sem precisar se afirmar abertamente como tal. Amparado por uma ordem internacional que prefere administrar consequências a enfrentar causas, a expansão territorial se consolida sob a aparência de normalidade. O silêncio, nesse contexto, não é falha do sistema. É uma de suas engrenagens mais eficientes.

Irreversibilidade e autodeterminação

A história raramente cobra no momento em que os fatos são produzidos. Ela cobra depois, quando as escolhas omitidas se tornam estruturas consolidadas. O perigo maior do tempo presente não está apenas na violência explícita, mas na irreversibilidade silenciosa que se instala quando o mundo aceita a distração como condição permanente.

Projetos de expansão territorial não se impõem apenas pela força; eles vencem quando deixam de ser percebidos como projeto. No instante em que a ocupação passa a ser tratada como realidade dada, a autodeterminação deixa de ser horizonte político e passa a ser lembrança histórica. O território, então, já não é disputado — é administrado. E a administração do fato consumado costuma ser apresentada como pragmatismo, quando na verdade é capitulação tardia.

O que está em jogo não se limita ao destino palestino. Trata-se de um precedente civilizatório. Quando a distração global permite que a reconfiguração territorial avance sem custo político proporcional, legitima-se um método que pode ser reproduzido em outros contextos. O direito internacional perde densidade material, a soberania dos povos se torna negociável e a força passa a ser mediada pela burocracia e pelo silêncio, não apenas pelas armas.

A autodeterminação dos povos não é um princípio abstrato ou retórico. Ela é o limite mínimo contra a naturalização da dominação. Quando esse limite é corroído pela normalização da exceção, o que se perde não é apenas território, mas a própria capacidade de imaginar futuros alternativos. Povos sem território não perdem apenas chão; perdem tempo histórico.

Este texto não é um chamado à indignação imediata, mas à lucidez estratégica. O mapa que hoje se redesenha fora dos holofotes será, amanhã, apresentado como ponto de partida incontornável para qualquer negociação. Quando isso acontecer, muitos dirão que nada poderia ter sido feito. A história, no entanto, costuma registrar que o essencial foi ignorado enquanto a atenção estava em outro lugar.

Romper a distração é um ato político. Recolocar o território no centro do debate é uma forma de resistência. Antes que o irreversível se consolide, ainda é possível nomear o processo, expor o método e afirmar, com clareza, que nenhum projeto de dominação é inevitável enquanto houver povos dispostos a reivindicar o direito de decidir seu próprio destino.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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