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Washington Araújo

Mestre em Cinema, psicanalista, jornalista e conferencista, é autor de 19 livros publicados em diversos países. Professor de Comunicação, Sociologia, Geopolítica e Ética, tem mais de duas décadas de experiência na Secretaria-Geral da Mesa do Senado Federal. Especialista em IA, redes sociais e cultura global, atua na reflexão crítica sobre políticas públicas e direitos humanos. Produz o Podcast 1844 no Spotify e edita o site palavrafilmada.com.

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Banco liquidado, polícia no encalço e política em combustão espontânea

Investigação rasga velhas zonas de conforto e ameaça revelar engrenagens ocultas, expondo como dinheiro público, ambição partidária e calculada omissão

Banco Master (Foto: Divulgação)

Brasília acorda sempre antes do sol quando a temperatura política resolve subir. Antes que o café esfrie, já circulam rumores, interesses contrariados e versões incompatíveis sobre o que está, de fato, em jogo. 

E nos últimos dias, o motor desse barulho atende por dois nomes desconfortáveis: Banco Master e Refit — dois fios elétricos desencapados que, ao se cruzarem, iluminam a sala inteira.

A convivência entre política e polícia não é apenas arriscada: é incestuosa. Repetida o suficiente, essa mistura altera o metabolismo da República. Quando investigações começam a cercar gabinetes, partidos e velhas famílias do poder, os nervos se retraem, as versões se multiplicam e cada interlocutor passa a falar como se estivesse sentado sobre dinamite acesa. 

Nada une mais adversários do que o medo de que a Polícia Federal desmonte, fio a fio, aquilo que eles ergueram com décadas de pactos, cabides, indicações e cofres paralelos.

E aqui entra o método que nenhum político gosta de ouvir: seguir o dinheiro. Não tem poesia, não tem retórica, não tem desculpa. É a trilha mais antiga do crime e a mais eficiente para desmontar farsas. 

Quando o Banco Central precisou intervir e, por fim, liquidar o Banco Master, não o fez por capricho regulatório — o fez porque o rastreamento implacável dos fluxos financeiros começou a apontar para práticas incompatíveis com qualquer instituição que se alimente de dinheiro público. 

E, onde há dinheiro público desviado, invariavelmente há interesses escusos de caciques partidários, parlamentares de quem sempre se ouviam rumores, operadores invisíveis, parentes úteis e intermediários que nunca aparecem nas fotos oficiais.

O mal-estar institucional atual nasce desse choque. E se alguém perguntar qual é a causa mortis desse ambiente de desarmonia entre Executivo e Legislativo, a resposta chega com ironia cirúrgica: não é uma, são várias. 

Um necrotério político cheio de cadáveres disputando a primazia no laudo.

E quando esse mal-estar chega ao extremo, ele se expressa em gestos que ferem o país em duas frentes. De um lado, desmontam-se políticas ambientais inteiras, com vetos derrubados em bloco e salvaguardas esvaziadas para atender grupos que tratam o meio ambiente como obstáculo, não como patrimônio. 

De outro, ressurgem as pautas-bomba: projetos concebidos não para governar, mas para sabotar. Armas legislativas disfarçadas de patriotismo improvisado, sempre prontas para corroer a responsabilidade fiscal e balançar a economia.

Nesse ambiente contaminado, o ruído sobre os investimentos do Amapá Previdência no Master irritou Davi Alcolumbre e azedou de vez o humor entre os Poderes. 

Não importa se a origem do vazamento é real, exagerada ou imaginada: em política, percepção vale tanto quanto fato.

A Refit soma outra camada de tensão: há anos, circulam suspeitas sobre redes de proteção política e judicial. 

E o Brasil conhece o roteiro — quando uma investigação começa a esbarrar no Judiciário, alguma nulidade cai do céu como guarda-chuva de última hora. 

A operação da Polícia Federal chamada Castelo de Areia segue aí para lembrar.

Enquanto isso, na Câmara, as disputas por emendas, apoios regionais e ambições senatoriais se entrelaçam como fios prestes a romper. Cada grupo puxa para um lado, e o tecido institucional protesta.

No fim, política e polícia voltam a se tocar — e, quando isso acontece, o país inteiro sente o cheiro. Porque a próxima faísca já está circulando por aí, à procura de combustível. 

E sim, essa confusão toda não tem nada a ver com a indicação do nome de Jorge Messias para a Suprema Corte. Tudo o jogo de cena

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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