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Documento do Banco Central enfraquece tese de fuga e ajuda Vorcaro a deixar a prisão

Relatório enviado ao TRF-1 detalha videoconferência entre o empresário e diretores do BC, usada pela defesa para contestar prisão preventiva

Daniel Vorcaro (Foto: Reprodução/YouTube/CNN Brasil Money)

247 – Um documento interno do Banco Central (BC) foi decisivo para que o executivo Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, obtivesse a revogação da prisão preventiva no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). A informação foi revelada pelo jornal O Globo, por meio do blog de Malu Gaspar.

Vorcaro havia sido preso pela Polícia Federal como alvo da Operação Compliance Zero, que apura fraudes financeiras que podem totalizar R$ 12 bilhões. Para convencer a desembargadora Solange Salgado a substituir a prisão por medidas cautelares, sua defesa anexou aos autos um despacho do BC que descreve, em detalhes, a reunião realizada com o empresário poucas horas antes da operação.

Videoconferência ocorreu no mesmo dia em que Vorcaro seria preso

O encontro citado no documento aconteceu em 17 de novembro, entre 13h30 e 14h10, por videoconferência. Participaram o diretor de fiscalização do BC, Aílton de Aquino Santos, o chefe do Departamento de Supervisão Bancária, Belline Santana, e o chefe-adjunto do mesmo departamento, Paulo Sérgio Neves de Souza, autor do ofício.

Segundo o texto encaminhado ao TRF-1, Vorcaro comunicou na reunião que viajaría naquele mesmo dia para Dubai, nos Emirados Árabes, para concluir negociações com investidores estrangeiros. Horas depois, às 22h, ele foi preso no aeroporto de Guarulhos quando tentava embarcar em um jato particular com destino à ilha de Malta.

O BC, no entanto, registrou que não recebeu qualquer comunicação formal, como e-mail ou correspondência, com informações sobre essa viagem. A instituição destacou que a menção à ida para Dubai ocorreu verbalmente durante a videoconferência — que não foi gravada.

Desembargadora cita documento ao substituir prisão

A desembargadora Solange Salgado utilizou o ofício para rebater a tese do Ministério Público de que Vorcaro estaria tentando fugir do país. Em sua decisão, ela destacou:

 “Os impetrantes anexaram prova demonstrando que o paciente comunicou previamente ao Banco Central sua viagem internacional com destino a Dubai, tendo informado formalmente o motivo da viagem — venda de instituição financeira — durante reunião oficial realizada na mesma data do embarque.”

A magistrada avaliou que o suposto risco de fuga poderia ser controlado com medidas menos gravosas, como entrega e retenção do passaporte, uso de tornozeleira eletrônica e proibição de contato com investigados.

Pressões políticas sobre o BC durante o caso Master

Como já havia sido divulgado pelo blog, técnicos do Banco Central relataram à Polícia Federal e ao Ministério Público que nunca haviam enfrentado tanta pressão política para tentar salvar uma instituição financeira como ocorreu no caso do Banco Master. As tentativas incluíam:

  •  Pressões pela aprovação da venda ao BRB, que acabou vetada pelo BC em setembro.
  •  Pedidos para adiar uma intervenção e permitir uma nova oferta de compradores — considerada inviável pelos técnicos.

Defesa pediu esclarecimentos formais ao BC

A manifestação do Banco Central foi enviada porque a defesa de Vorcaro solicitou registro oficial do teor da videoconferência, uma vez que essas informações não são disponibilizadas no site da instituição.

No documento, o BC reproduziu de forma detalhada o que Vorcaro afirmou durante a reunião. Entre os pontos, consta:

  •  O executivo disse que buscava mitigar a situação crítica de liquidez do conglomerado, negociando com a Mastercard Brasil novas condições contratuais para liberar recursos bloqueados.
  •  Informou negociações para vender o Grupo Master em três partes para diferentes investidores.
  •  Afirmou que pretendia divulgar, até o fim do dia 17, a venda do Banco Master S.A. para um grupo de investidores nacional.
  •  Comunicou que viajaria para Dubai naquele mesmo dia para assinar contrato e anunciar operação com investidores estrangeiros que integrariam o novo bloco acionário.
  •  Disse que realizaria reunião, naquela tarde, com o Departamento de Organização do Sistema Financeiro do BC para informar sobre o protocolo do contrato de intenção de compra e venda.
  •  Afirmou que esperava assinar, no dia 18, o contrato de alienação da Will Financeira, e anunciar até o fim da semana a venda do Banco Master de Investimentos.

O que acontece agora

Com a decisão do TRF-1, Vorcaro e quatro executivos deixam a prisão, mas seguem submetidos a medidas cautelares enquanto avançam as investigações da Operação Compliance Zero.

O Banco Central, procurado pelo blog de Malu Gaspar, informou que não comentaria o caso.

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