Bolsonaro preso, os rumos da política para a direita, soltos
Crise após prisão de Bolsonaro expõe tensões na direita e redefine estratégias rumo a 2026
“Vamos invocar o Senhor dos Exércitos! A oração é a verdadeira armadura do cristão. É por meio dela que vamos vencer as injustiças, as lutas e todas as perseguições. Tenho um convite especial para você: assista ao vídeo até o final!”
O apelo de Flávio Bolsonaro, o filho mais velho, o 01, nada mais era do que a senha para colocar em marcha o plano de fuga do pai, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, que às 0h08 deste sábado, tentou se livrar da tornozeleira, ao que tudo indica para estar pronto para deixar a prisão domiciliar e, certamente, o país.
Ao longo da semana, a notícia da fuga de Alexandre Ramagem, condenado a 16 anos de prisão e um dos personagens centrais da trama golpista, integrante do “núcleo crucial” - assim denominado pela PGR, que dividiu os golpistas em núcleos e os separou por “atividades” -, acendeu o alerta para o vexame que seria o Supremo Tribunal Federal ser driblado e ver empreender fuga, mais um personagem importante desse enredo.
Não bastasse isso, o post de Flávio Bolsonaro – um senador da República -, reinauguraria a nova temporada dos famigerados “acampamentos”, provocando a perturbação da Lei e da Ordem. Em nome da tranquilidade geral, o ministro Alexandre de Moraes se viu compelido a agir. Não bastassem todos esses pontos, ainda recebeu a notícia das tentativas de Jair Messias Bolsonaro, de se livrar da tornozeleira eletrônica, numa atitude típica de quem não vai esperar a decretação da prisão definitiva. Tampouco o posicionamento da suprema corte, quanto aos embargos já impetrados por sua defesa. Todos nós esperávamos, e tudo indicava, que seriam solertemente rejeitados. Bolsonaro também.
Ademais, havia a movimentação da ultradireita, para definir que o ex-presidente não passasse pelo constrangimento (para eles, para nós o resultado ansiosamente aguardado), de vê-lo conduzido à Papuda, o presídio do Distrito Federal. Depois das investidas do governador Ibaneis Rocha, da senadora Damares Alves e colegas de senado, elaborando relatórios sobre as condições do presídio, o que se deu foi uma verdadeira bolsa de apostas sobre o lugar para onde inevitavelmente Bolsonaro seria levado para cumprir a sua pena de 27 anos e três meses. Hoje, desfeito o mistério, Bolsonaro já dorme na sala especial das dependências da Polícia Federal.
Na próxima segunda-feira a primeira turma se reúne em plenário virtual por solicitação do ministro Flávio Dino, para decidir sobre a prisão preventiva decretada pelo relator do processo, Alexandre de Moraes. O resultado deve ser pela manutenção, pois todos os sinais apontam para um plano que ruiu, mas estava sendo engendrado, o de dar fuga a Bolsonaro.
No quadro político, os ânimos se acirraram e as conversas ocorridas em São Paulo, durante a festa de aniversário do presidente do PP, Ciro Nogueira, era a de levar o governo para as cordas, num isolamento que vem sendo fomentado também no âmbito do Senado Federal, pela indicação do Advogado geral da união, Jorge Messias, para o cargo de ministro do STF. O Centrão, aliado ao presidente da casa, Davi Alcolumbre, em represália à não condução de Rodrigo Pacheco, ao cargo, segundo dizem, trama até mesmo a rejeição do nome de Messias e o congelamento de uma data para a sabatina.
Junte-se a isso, a retirada de centenas de produtos brasileiros, da lista dos tarifados, com declarações explícitas de Donald Trump de que, sim, sua posição era fruto das negociações com o presidente Lula e do chanceler Mauro Vieria, com o secretário de Estado estadunidense, Marco Rubio. Uma vitória que os bolsonaristas não quiseram engolir, principalmente porque foi uma jogada errada e nefasta também de um dos filhos de Jair, o deputado – no exterior -, Eduardo Bolsonaro. Ficou muito claro que Eduardo saiu derrotado e que Trump não estaria mais disposto a adular um ex-presidente, às vésperas de ir para a prisão.
Todos esses fatores contribuíram para que nós pudéssemos assistir à prisão efetuada hoje, às seis da manhã. Ao contrário das expectativas, Jair Messias Bolsonaro não foi levado para o sistema prisional, para a Papuda, como seria o correto para quem desafiou o sistema, tentou burlar de todas as formas as leis do país e as cautelares que lhe foram impostas. O que se sabe é que o ministro Alexandre de Moraes deve mantê-lo nas dependências da Polícia Federal, depois da sentença transitada em julgado. Uma benesse, convenhamos.
Agora é preciso daqui por diante botar reparo nas próximas pesquisas de intenção de votos para 2026, que até aqui mantinha o nome de Bolsonaro nas opções. Há muitos questionamentos em torno desse comportamento por parte das empresas encarregadas de colher as opiniões. Por que motivo insistem no nome de Bolsonaro, quando ele, como todos sabemos, está inelegível até 2030? Simples: é a única forma de aferir se a base fiel a Bolsonaro se mantém, aumenta ou diminui. Nenhum outro nome que se colocasse ali, daria um resultado preciso. Apenas a menção a ele provoca nos entrevistados uma resposta precisa. Deste modo, os institutos podem fornecer aos seguidores, marqueteiros e correligionários, um rumo para organizar a campanha de 2026. Essa é a fórmula.
Que ingredientes serão usados, e de que maneira, caberá ao entorno da família decidir. Até lá, o que temos para hoje é Jair Messias Bolsonaro preso, vigiado e sem o catálogo de 16 visitantes ilustres que aguardava, para continuar fazendo em home office, o que fazia aqui fora: infernizar o cenário político, açular a massa de fiéis e articular as alianças para que seus filhos não ficassem no sereno, no ano que vem. A família, acima de tudo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




