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César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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Bosteiro geral na república bancocrática

Seria ou não outro escândalo federal?

Segurança do lado de fora do Banco Master, após a prisão do acionista controlador do banco, Daniel Vorcaro, em São Paulo - 18 de novembro de 2025 (Foto: REUTERS/ Amanda Perobelli)

O ministro Dias Toffoli, do STF, em cujas mãos está o processo do Banco Master, mandou fazer acareação entre os principais personagens envolvidos no escândalo financeiro que levou à bancarrota do banco: de um lado, o chefe da diretoria de fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino, que investigou fraudes bilionárias em transações entre o Master e o Banco de Brasília (BRB); de outro, o dono do Master, o banqueiro Daniel Vorcaro, atualmente preso, e o ex-presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, também trancafiado. Depois de investigação minuciosa, Ailton recomendou ao presidente do BC, Gabriel Galípolo, o fechamento do Master, em caráter irrevogável.

Mas, agora, o caso é reaberto, o que levanta suspeitas de que Toffoli está agindo sob pressão dos grandes bancos, avalistas do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), obrigados a arcar com os prejuízos acumulados pelo Master, em transações financeiras escabrosas. Vorcaro garantia remuneração absurda — 140% do CDI — dos títulos que lançava no mercado para capitalizar seu negócio, tendo como garantia o improvável, isto é, o resgate dos papéis podres que incautos compravam, pensando estar fazendo bons negócios. O castelo de cartas, finalmente, desabou.

A indagação geral no mercado, agora, é: será que a acareação convocada por Toffoli, pressionado pelo mercado financeiro, é para reabrir o caso e possibilitar o que Vorcaro quer, ou seja, o Master de volta?

Seria ou não outro escândalo federal?

Explodiria ou não o BC, sob suspeita de que estaria agindo para salvar banqueiros, indignados em ter de enfiar a mão no seu caixa para bancar o fundo garantidor aos clientes lesados?

JUSTIFICATIVAS EM CENA — Que Vorcaro vai falar para o fiscal do BC, na acareação, perante juiz indicado por Toffoli, em audiência audiovisual?

Claro, vai dizer que estava indo para as Arábias fechar negócio com um possível comprador do Master.

Não pode fazê-lo, porque foi pego pela PF no aeroporto com um pé no jatinho!

Se tivesse ido e tido a sorte de vender seu banco para algum sheik cheio da bufunfa, nada do que aconteceu poderia ter ocorrido, supostamente.

Teria se capitalizado com capital abundante, provavelmente do petróleo árabe, saneado o passivo do Master e sobrado algum para ele.

Poderia, se a transação fosse um sucesso, até ter continuado como sócio, certamente minoritário, do banco inadimplente, devidamente salvo do abismo.

Mas o fiscal do BC avisou Galípolo, que acelerou a liquidação do Master, para não correr risco, esperando ingenuamente por um milagre das Arábias.

O que irá dizer, na acareação convocada por Toffoli, o diretor de fiscalização do BC, senão que cumpriu com sua obrigação para salvar o contribuinte, que caiu no conto do vigário de Vorcaro, e a honorabilidade da autoridade monetária, evitando abalo no governo Lula?

O curioso é que essa acareação ocorre quando o processo está concluído, isto é, quando o Master já foi liquidado e seu dono enjaulado.

Não é um processo em curso; já foi concluído.

Reabertura do processo para salvar banqueiro, ou não resta outra alternativa a não ser ressarcir os prejuízos dos contribuintes?

Mas onde está o dinheiro para cumprir essa tarefa?

Claro, no caixa do Fundo Garantidor de Crédito, bancado pelos próprios bancos, especialmente os maiores bancos.

O mico ficou com a banca.

RETROCESSO NO FECHAMENTO DO MASTER? — Eis o x da questão.

Não serão os grandes bancos, obrigados a amargar prejuízos, que pressionaram Toffoli a abrir essa acareação, assim, no afogadilho, em véspera de Ano Novo, para tentarem se salvar?

Tentativa ou não de melar o negócio, isto é, de promover retrocesso na falência do Master, mediante o argumento de que o BC se precipitou, pois, afinal, Vorcaro, se não fosse preso pela PF, estava, como disse, vendendo o banco para os árabes?

Fica no ar: se tivesse concluído a venda, Vorcaro não teria sido preso, nem haveria necessidade de os grandes bancos serem obrigados a cobrir prejuízos dos credores da ordem de R$ 40 bilhões, limite do Fundo Garantidor de Crédito?

Quem Toffoli apontará como vitorioso na acareação: o funcionário do BC ou o banqueiro acusado de dar calote?

DENÚNCIA ANÔNIMA ENGROSSA ESCÂNDALO — No meio desse imbróglio está a denúncia escandalosa, baseada em seis fontes anônimas, da repórter Malu Gaspar, do Globo, de que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, tentou fazer advocacia administrativa junto ao presidente do BC, Gabriel Galípolo, para salvar Vorcaro, cliente de sua mulher advogada, Viviane Barci, ao preço de R$ 3,6 milhões mensais, em contrato no valor total de R$ 130 milhões em dois anos.

Os repórteres da Globonews, onde Malu Gaspar trabalha, especulam, sem a presença dela no programa, sobre a possibilidade de os grandes bancos estarem tentando melar o processo de falência do Master, para se livrarem do prejuízo que teriam de cobrir.

Se Malu tivesse provas para garantir a acusação que fez, e não apenas denunciantes anônimos, Alexandre Moraes certamente estaria no sal.

Mas tanto ele, Xandão, como Galípolo soltaram notas afirmando que conversaram entre si, sim, mas sobre a Lei Magnitski, acionada pelo presidente Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, contra o ministro, para tentar salvar Bolsonaro, condenado pelo STF por tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023.

Agora, resta quebrar o sigilo telefônico de Xandão e de Galípolo, como sugeriu Merval Pereira, na Globonews.

Essa tarefa caberia à Polícia Federal.

Quem autorizará essa ação, senão Toffoli, em cujas mãos está o processo, em segredo de Justiça, por meio do qual foi decretada a falência do Master?

Juiz contra juiz seria ou não o juízo final?

Enfim, bosteiro geral na República Bancocrática, no caos da financeirização especulativa tupiniquim.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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