Clã Bolsonaro acaba de matar a candidatura presidencial de Tarcísio de Freitas e pode inviabilizá-lo até em São Paulo
Governador de São Paulo não tem saída a não ser subordinar suas ambições aos projetos da família Bolsonaro
A entrevista concedida pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Record, na noite deste domingo, produziu um efeito político imediato: o enterro precoce da candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Ou seja: o projeto preferencial do mercado financeiro, dos barões da Faria Lima e da chamada classe dominante não fica mais de pé.
Ao afirmar que só desistirá da disputa caso Jair Bolsonaro esteja “livre, nas urnas”, Flávio Bolsonaro inviabilizou o projeto de Tarcísio e de seus patrocinadores. Depois da fala desta noite, não há alternativa para o governador a não ser se engajar de corpo e alma neste movimento. Ele precisará aderir publicamente, trabalhar pela anistia — por mais improvável que ela pareça — e se colocar como soldado de Bolsonaro. Qualquer hesitação será interpretada como indiferença ou, pior, como traição.
A indiferença, por sinal, já é uma realidade. Já se passaram 48 horas desde que Flávio Bolsonaro lançou oficialmente sua pré-candidatura, com o endosso de Jair Bolsonaro, e Tarcísio ainda não se pronunciou, embora tenha feito duas postagens nas redes sociais sobre temas diversos. Não felicitou, não comentou, nem reagiu. Um gesto mínimo de diplomacia política teria sido suficiente para demonstrar algum alinhamento – ainda que fosse falso.
O silêncio, no entanto, é eloquente. Revela desconforto, hesitação e o incômodo de quem viu seu projeto pessoal ser atropelado sem aviso prévio.
Neste novo cenário, até para que consiga se reeleger em São Paulo, Tarcísio não tem saída a não ser subordinar suas ambições aos projetos da família Bolsonaro. Mesmo que a anistia hoje pareça distante, Tarcísio não terá como se colocar como opção presidencial contra Flávio Bolsonaro. Isso seria visto como afronta direta ao seu padrinho político, que é o ex-presidente, que está preso numa cela da Polícia Federal. E, se eventualmente insistir nesse caminho, corre o risco de perder apoio até em São Paulo. A direita paulista não perdoaria a traição — especialmente a direita bolsonarista, que é aquela que tem a maioria dos votos.
Emparedado por Jair e Flávio Bolsonaro, Tarcísio está descobrindo a dura realidade: é impossível servir a dois senhores ao mesmo tempo. Ele tentou ser simultaneamente o homem da Faria Lima e o herdeiro político do bolsonarismo. Tentou agradar o mercado financeiro sem desagradar a família Bolsonaro. Tentou compatibilizar agendas inconciliáveis. Agora, confrontado por profissionais da política, percebe que não há equilíbrio possível.
Goste-se ou não disso, a família Bolsonaro tem projeto, método e hierarquia. E, nesse sistema, Tarcísio não é líder, é liderado. Não é protagonista, é apenas um instrumento. Seu destino, portanto, não será determinado por sua ambição pessoal nem pela cobiça dos magnatas do capital financeiro, mas sim pela conveniência da família que o instalou no governo de São Paulo.
Se quiser preservar algum futuro político e não se autodestruir antes de 2026, Tarcísio terá de renunciar ao projeto presidencial. Resta saber se fará isso com rapidez suficiente para evitar danos irreversíveis. O relógio já está correndo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




